“BONDADE E JUSTIÇA”
“Mas a bondade do
SENHOR é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e a sua justiça,
sobre os filhos dos filhos, para com os que guardam a sua aliança e para com os
que se lembram dos seus preceitos e os cumprem” (Sl 103.17,18).
O salmista Davi não confina
sua esperança dentro dos limites do tempo; ele a vê como de duração
incomensurável com a graça na qual ela se fundamenta. À bondade [misericórdia] se anexa a justiça,
palavra que, como tivemos ocasião de observar reiteradamente, denota a proteção
por meio da qual Deus defende e preserva seu próprio povo. Ele é então chamado justo, não porque galardoa cada pessoa
segundo seu merecimento, mas porque ele trata fielmente seus santos, estendendo
sobre eles a mão de sua proteção. O salmista intencionalmente colocou esta
justiça depois da bondade, como sendo o efeito desta. Ele também assevera que
ela se estende aos filhos e aos filhos dos filhos, segundo as palavras textuais
em Deuteronômio 7.9: “Deus conserva a misericórdia até mil gerações”. É uma
prova singular de seu amor que ele não só recebe cada um de nós individualmente
em seu favor, mas nele também nos associa com nossa prole, como que por direito
hereditário, para que sejamos participantes da mesma adoção. Como nos lançaria
fora, ele que, ao receber nossos filhos e os filhos dos filhos em sua proteção,
nos mostra na pessoa deles quão preciosa a seus olhos é nossa salvação?
Além do mais,
como nada é mais fácil do que para os hipócritas bajular sob falso pretexto de
que estão bem com Deus, ou para os filhos degenerados infundadamente aplicar a
si as promessas feitas a seus pais, declara-se novamente, à guisa de exceção,
no versículo 18, que Deus só é misericordioso para com os que, de sua parte, guardam sua aliança, a qual os
incrédulos, por sua perversidade, tornam de nulo efeito. A guarda ou observância da aliança, que é aqui expressa em vez de o temor de Deus, mencionado no versículo
anterior, é digna de nota; pois assim Davi notifica que ninguém é verdadeiro adorador
de Deus senão aqueles que reverentemente obedecem a sua Palavra. O profeta, pois,
corretamente julga a piedade dos homens à luz de sua submissão à Palavra de
Deus e de seguirem eles ou não a regra que ele lhes prescreveu. Pois a aliança
começa com um solene artigo contendo a promessa da graça que requer fé e
oração, acima de todas as coisas, para a observância própria dela.
Tampouco
supérflua é a sentença adicional: que se lembram de seus estatutos;
pois embora Deus os esteja continuamente pondo em nossa mente, todavia tão
depressa corremos para as preocupações mundanas, nos deixando envolver por uma
multiplicidade de entretenimentos e arrastados por seduções variadas. E assim o
esquecimento extingue a luz da verdade, a não ser que os fiéis se estimulem de
tempo em tempo. Davi nos diz que essa lembrança dos estatutos divinos tem um
efeito revigorante quando os homens se aplicam a cumpri-los. Muitos se aplicam
demasiadamente a discuti-los com suas línguas, mas cujos pés são lentos demais,
e cujas mãos se acham quase que inertes em referência ao serviço ativo.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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