"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



quinta-feira, 31 de julho de 2025

“O OITAVO MANDAMENTO”


“O OITAVO MANDAMENTO”

“Não cometerás furto” [Êx 20.15].

TEOR E APLICAÇÃO DO OITAVO MANDAMENTO

Propósito: uma vez que a injustiça é uma abominação a Deus, que se dê a cada um o que é seu. Portanto, a síntese deste mandamento será que somos proibidos de cobiçar as coisas alheias e, consequentemente, se nos ordena fazer sincero esforço em conservar a cada um seus próprios bens. Pois, deve-se assim refletir: que a cada um vem aquilo que possui, não por contingência fortuita, mas em virtude da dispensação do Supremo Senhor de todas as coisas. Portanto, não se pode, mediante maldosas artimanhas, defraudar as posses de quem quer que seja sem que se cometa violação da divina dispensação.

São, porém, muitas as modalidades de furtos. Uma está na violência: quando os bens alheios são roubados mediante qualquer forma de força ou abuso predatório. Outra está na maldosa impostura: quando são eles subtraídos fraudulentamente. Outra está numa sutileza mais velada: quando são surrupiados sob a aparência de justiça. Outra, em afagos: quando são despojados sob o pretexto de doação. Contudo, não insistamos demais em catalogar modalidades de furtos. Reconheçamos que se devem ter por furtos todos os artifícios em virtude dos quais passam para nós as posses e riquezas do próximo, quando se desviam da sinceridade do afeto ante o desejo de enganar ou lesar de qualquer modo. Ainda quando os homens as obtenham em uma disputa judicial, por Deus, entretanto, não são estimadas diferentemente de furtos.

Com efeito, Deus vê os longos embustes com os quais o homem matreiro procura embaraçar o espírito mais simples, até que o atraia, afinal, a suas malhas; Deus vê as leis duras e desumanas com as quais o mais poderoso oprime e prostra o fraco; Deus vê os engodos com os quais o mais astuto isca o incauto como que com anzóis, todos os quais escapam ao julgamento humano, nem vêm à cogitação. Esta injustiça não tem lugar somente em matéria de dinheiro, ou em questões de rendimentos, ou em relação a terras, mas ainda em referência ao direito de cada um, pois defraudamos o próximo de seus bens, se deixamos de cumprir os deveres que para com ele somos obrigados. Se, ocioso, um administrador ou mordomo devora o capital de seu senhor, nem está preocupado com o cuidado de seu patrimônio; se ou esbanja indebitamente os cabedais a si confiados, ou os dissipa desregradamente; se um criado tem em zombaria ao patrão; se lhe divulga os segredos; se de qualquer forma lhe trai, seja a vida, sejam os bens; se, por outro lado, um senhor oprime desumanamente à família; em crime de furto se faz culpado diante de Deus. Pois, quem não perfaz o que, em função de sua vocação, deve aos outros, não só retém o alheio, mas até dele se apropria.

A REAL OBSERVÂNCIA DESTE OITAVO MANDAMENTO

Portanto, desta forma obedeceremos devidamente ao mandamento: se, contentes com nossa sorte, diligenciarmos por não obter nenhum outro ganho, senão o honesto e legítimo; se não visarmos a enriquecer-nos com injustiça, nem nos propusermos a arruinar o próximo em seus haveres, para que nosso patrimônio cresça; se não pugnarmos por acumular riquezas brutais e espremidas do sangue de outros; se não amontoarmos imoderadamente, de toda parte, por meios lícitos e ilícitos, aquilo com que ou nos sacie a avareza ou satisfaça à prodigalidade. Ao contrário, porém, seja-nos este o perpétuo escopo: até onde possível, mediante conselho e assistência, a todos ajudemos fielmente a conservarem o que é seu. Entretanto, se tivermos de nos haver com pérfidos e enganadores, estejamos preparados antes a ceder algo do que é nosso do que com eles contendermos. Não só isto. Mas, aqueles a quem houvermos de ver premidos pelas dificuldades das coisas, compartilhemos-lhes das necessidades e com nossa abundância supramos-lhes a falta de recursos. Finalmente, atente cada um, não importa até onde, por dever de ofício, obrigado para com outros e de boa fé, a pagar o que lhes deve.

Por essa razão, tenha o povo em honra a todos que lhe são constituídos em autoridade, suporte-lhes de bom grado o domínio, obedeça-lhes às leis e determinações, a nada se furtando que possa fazer para o agrado de Deus. Por outro lado, sustenham esses o cuidado de seus súditos, conservem a paz pública, sejam por proteção aos bons, reprimam os maus. De tal modo administrem a tudo como se tivessem de prestar conta de sua função a Deus, o Juiz Supremo. Os ministros das igrejas devotem-se fielmente ao ministério da palavra, nem adulterem o ensino da salvação; ao contrário, transmitam-no ao povo de Deus, puro e incontaminado. Instruam-no não só pelo ensino, mas também pelo exemplo de vida. Enfim, exerçam sua autoridade como os bons pastores sobre suas ovelhas. Por sua vez, receba-os o povo por mensageiros e apóstolos de Deus, renda-lhes essa honra de que o Mestre Supremo os fez dignos, proveja-lhes aquelas coisas que lhes são necessárias à vida.

Dediquem-se os pais a alimentar, a orientar, a ensinar os filhos como a si confiados por Deus, nem lhes exasperem o ânimo pela crueldade, com isso os alienando de si; ao contrário, incentivem-nos e os abracem com a brandura e complacência que lhes convém à pessoa. Como também os filhos lhes prestem a devida obediência, como anteriormente foi dito. Reverenciem os jovens a idade senil, como o Senhor quis que essa idade seja digna de honra. Também, com sua prudência e pela experiência que os excelem, assistam os idosos à insuficiência da juventude, não perturbando-os com recriminações ásperas e estridentes; pelo contrário, moderem a severidade pela afabilidade e singeleza.

Que os empregados, diligentes e com mansidão, se mostrem obedientes aos patrões, não fazendo isso em aparência, mas de coração, como que servindo ao próprio Deus. Os patrões também não se conduzam como rabugentos e intratáveis para com os empregados, não os pressionem com excessiva aspereza, nem os tratem insolentemente. Antes, pelo contrário, reconheçam que eles são seus irmãos e seus conservos sob o Senhor Celeste, a quem devem amar mutuamente e tratar humanamente.

Enfim, que cada um considere, segundo seu estado e vocação, o que deve a seu próximo e se conduza convenientemente. Além disso, a mente deve sempre polarizar-nos com o Legislador, para que saibamos que esta norma é estabelecida para nosso espírito assim como para nossas mãos, a fim de que se esforcem em não somente assegurar, mas também promover, o bem-estar e vantagens dos outros.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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