“ELE CONHECE A NOSSA ESTRUTURA”
“Pois ele
conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó” (Sl 103.14).
O salmista Davi
aniquila toda e qualquer dignidade que os homens porventura arroguem para si e
assevera que é em consideração a nossa miséria, e tão-somente isso, que Deus se
sente movido a exercer paciência para conosco. É preciso que observemos isso
uma vez mais e com muita prudência, não só com o propósito de vencer o orgulho
de nossa carne, mas também para que o senso de nossa indignidade não nos impeça
de confiar em Deus. Quanto mais miserável e deplorável é nossa condição, mais
inclinado se vê Deus a exercer misericórdia, pois à vista de sermos barro e pó
é suficiente para incitá-lo a fazer-nos o bem.
Para o mesmo fim
é a comparação imediatamente seguinte [v. 15], a saber: que toda a excelência
do homem fenece como uma frágil flor à primeira lufada de vento. É deveras
impróprio dizer que o homem floresce.
Mas como é possível alegar-se que ele é, não obstante, distinguido por um ou
outro dote, Davi admite que ele floresce como a erva, em vez de dizer, como tem
feito com razão, que ele é um vapor ou sombra, ou algo que se converte em nada.
Ainda que, enquanto vivermos neste mundo, sejamos adornados com dons naturais,
e, para nada dizer de outras coisas, “vivemos, nos movemos e temos nossa
existência em Deus” [At 17.28], todavia, como nada temos exceto o que depende
da vontade de outro, e que pode ser tirado de nós a qualquer momento, nossa
vida é apenas uma mostra ou sombra que passa. O tema aqui discutido é propriamente
a brevidade da vida, o que Deus leva em conta para mui compassivamente nos
perdoar, como lemos em outro Salmo: “Por que se lembrou de que eram de carne,
vento que passa e não volta” [SI 78.39]. Se alguém pergunta por que Davi, não
fazendo menção da alma, a qual todavia é a parte principal do homem, declara
sermos pó e barro, respondo que basta que Deus seja misericordiosamente
induzido a sustentar-nos, quando ele vê que nada excede nossa vida em
fragilidade. E ainda que a alma, depois de partir da prisão do corpo, permanece
viva, todavia, ao se dar assim com ela, isso não provém de algum poder inerente
que porventura exista nela. Caso Deus subtraísse sua graça, a alma não seria
mais que uma bolha ou sopro, ainda quando o corpo não passa de pó; e assim com
certeza não seria achado em toda a constituição humana outra coisa senão mera
vaidade.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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