“ADÃO NÃO FOI SEDUZIDO”
“E Adão não foi seduzido,
e sim, a mulher, a qual, sendo seduzida, caiu em transgressão” (1Tm 2.14).
O apóstolo Paulo
está se referindo à punição infligida sobre a mulher: “Multiplicarei sobremodo
os sofrimentos da tua gravidez; em meio a dores darás à luz filhos; o teu
desejo será para o teu marido, e ele te governará” (Gn 3.16). Uma vez que o
conselho que ela dera fora fatal, era justo que ela aprendesse a depender do
poder e da vontade de outrem. Já que ela seduzira o homem a desviar-se do
mandamento de Deus, era justo que se visse privada de toda a sua liberdade e
estivesse sujeita ao jugo. Além do mais, o apóstolo não baseia seu argumento
simplesmente ou meramente na causa da transgressão, mas na sentença pronunciada por Deus sobre ela. Não obstante, pode-se
concluir que haja contradição envolvida na afirmação, tanto que a submissão da
mulher era o castigo por sua transgressão, como também que a mesma lhe foi imposta
desde a criação, pois desse fato seguir-se-á que ela foi destinada à servidão
mesmo antes de pecar. Minha resposta é que não há razão para deduzir-se que a
obediência não lhe teria sido uma condição natural desde o princípio, enquanto
que a servidão foi uma última condição resultante de seu pecado, de modo que a
submissão se tornou menos voluntária do que a tivera antes.
Demais, alguns têm
encontrado nesta passagem justificativa para o ponto de vista de que Adão não
caiu por seu próprio erro, senão que apenas foi vencido pelas fascinações de
sua esposa. Acreditam que somente a mulher foi enganada pela astúcia da
serpente, ao crer que ela e seu esposo seriam como deuses. Mas Adão não ficou
tão persuadido, e provou o fruto só para satisfazer o capricho de sua esposa.
Tal ponto de vista, porém, é fácil de refutar, porque, se Adão não houvera
crido na mentira de Satanás, Deus não o teria repreendido, dizendo: “Eis que o
homem é como um de nós” (Gn 3.22). Há outros argumentos que deixo de mencionar,
porque não há necessidade de se fazer extensa refutação de um erro, quando o
mesmo repousa sobre a mera conjectura. Com essas palavras o apóstolo Paulo não
quer dizer que Adão não fora envolvido na mesma ilusão diabólica, senão que a causa
e fonte de sua transgressão vieram de Eva.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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