“ELA SERÁ SALVA ATRAVÉS DE SUA MISSÃO DE MÃE”
“Mas ela será salva
através de sua missão de mãe, se perseverar na fé, e amor, e na santificação,
com toda sobriedade” (1Tm 2.15).
A debilidade de
sua natureza feminina torna a mulher mais tímida e arredia, e o que Paulo tem
afirmado presume-se que perturba e confunde até mesmo os espíritos mais viris.
E assim o apóstolo modifica o que dissera, adicionando uma consolação; pois o
Espírito de Deus não nos acusa nem nos repreende com o fim de cobrir-nos de
humilhação e em seguida triunfar-se sobre nós. Ao contrário, ao humilhar-nos em
sua presença, uma vez mais nos põe de pé. Isso, como já disse, poderia reduzir
as mulheres ao desespero, ouvindo elas que toda a ruína da raça humana lhes é
atribuída. Então, que juízo divino será esse que lhes sobrevirá? – pergunta essa
que torna todas ainda mais debilitadas diante da ininterrupta consciência de
que sua submissão é um emblema sempre presente da ira divina. Daí Paulo,
procurando confortá-las e tornar-lhes sua condição suportável, lembrar-lhes
que, embora sofram o castigo temporário, a esperança da salvação permanece diante
de seus olhos. O efeito positivo desta consolação é duplo e merece nota.
Primeiramente, ao colocar diante delas a esperança de salvação, são preservadas
do desespero e do medo ante a lembrança de sua culpa; e, em segundo lugar,
acostumam-se a suportar com equanimidade e serenidade a imposição de viverem em
servidão a seus esposos, de modo a submeter-se-lhes voluntariamente, ao
recordarem que obediência desse gênero é igualmente saudável a elas e agradável
a Deus. Se esta passagem for torcida para apoiar a justificação pelas obras,
como alguns costumam fazer, a solução é fácil. Visto que o apóstolo não esteja tratando,
aqui, da causa da salvação, suas palavras não podem e não devem ser usadas para
apontar o caminho pelo qual Deus nos guia àquela salvação que ele, por sua
graça, nos destinou
É possível que
os críticos mordazes achem ridículo que um apóstolo de Cristo não só exorte as mulheres
a que deem atenção a maternidade, mas lance isso sobre elas como uma pia e
santa obra, indo ainda mais longe dizendo que, com isso, elas poderão obter a
salvação. Vemos também a maneira como ele repreende os hipócritas que queriam
parecer mais santos do que os demais homens, os quais difamavam o leito
conjugal. Mas não é difícil responder a esses ímpios zombadores. Pois, em
primeiro lugar, o apóstolo Paulo está tratando, aqui, não meramente de se dar à
luz filhos, e, sim, dos muitos e severos sofrimentos que tinham que suportar,
tanto em dar à luz filhos quanto em criá-los. Em segundo lugar, seja o que for
que os hipócritas ou os sábios do mundo pensem, Deus se deleita mais com a
mulher que considera a condição que ele lhe destinou como uma vocação e se
sujeita a ela, não recusando o fastio por alimentação, a indisposição, as dificuldades,
ou, ainda pior, a temível angústia associada ao parto, ou, algo que exibisse
suas grandes e heróicas virtudes, mas que, ao mesmo tempo, se recusasse a
aceitar a vocação a elas concedida por Deus. A isso podemos adicionar que nenhuma
consolação podia ser mais apropriada ou mais eficaz do que demonstrar que na
punição propriamente dita estão os meios (por assim dizer) de assegurar-se a
salvação.
Se perseverar na
fé. A Vulgata traduz, “em dar à luz filhos, se porventura continuarem na fé”, e
esta cláusula era geralmente considerada como uma referência a filhos. Mas
Paulo usa uma única palavra para “dar à luz filhos”. E assim a fé deve
aplicar-se à mulher. O fato de o substantivo ser singular e o verbo, plural, não
implica dificuldade alguma, pois quando um substantivo indeterminado se refere
a toda uma classe, ele tem a mesma função de um substantivo coletivo, de modo que
a mudança de número no verbo é facilmente admissível.
Demais, para
evitar-se a insinuação de que toda virtude feminina está envolvida pelos
deveres do matrimônio, o apóstolo imediatamente acrescenta uma lista de grandes
virtudes pelas quais as mulheres piedosas devem sobressair-se, para que se
distingam das mulheres irreligiosas. Mesmo o dar à luz só é um ato de
obediência a Deus quando procede da fé
e do amor. A estes ele adiciona a santificação, a qual inclui toda aquela
pureza da vida que convém às mulheres cristãs. Finalmente vem a sobriedade, a qual ele mencionou um
pouco antes, ao tratar do vestuário, mas agora a estende a outras partes da
vida.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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