“De quanto mais
severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o
Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e
ultrajou o Espírito da graça?” (Hb 10.29).
Calcou aos pés o Filho de Deus. Há uma semelhança entre os apóstatas da lei e os apóstatas do evangelho – ambos perecerão sem misericórdia; o gênero de morte, porém, é diferente. Pois aos que desprezam a Cristo o apóstolo ameaça não só com a morte corporal, mas também com destruição eterna. Portanto, ele afirma que para os tais resta ainda uma punição muito pior. Ele expressa essa deserção do cristianismo sob três formas de linguagem. Diz que dessa forma o Filho de Deus é calcado aos pés; que seu sangue é profanado; e que o Espírito da graça é desprezado. Esmagar com os pés é pior do que lançar fora; e a dignidade de Cristo é muito mais distinta que a de Moisés. Acrescenta-se a esse fato que ele não traça simplesmente um contraste entre evangelho e lei, mas também entre a pessoa de Cristo e o Espírito Santo, e a pessoa de Moisés.
Profanou o sangue da aliança. Ele intensifica a ingratidão, confrontando-a com os benefícios. É algo muitíssimo indigno profanar o sangue de Cristo, o qual é o agente de nossa santificação; e é precisamente o que fazem aqueles que se desviam da fé. Nossa fé não é simplesmente uma questão de doutrina, mas do sangue pelo qual nossa salvação foi ratificada. O autor o chama de o sangue da aliança, porque as promessas nos foram confirmadas quando esse penhor foi adicionado. Ele chama a atenção para a forma dessa confirmação, dizendo que fomos santificados por ela, pois o sangue derramado não nos serviria para nada, a menos que fôssemos aspergidos com ele através do Espírito Santo. É daí que provêm nossa expiação e santificação. O apóstolo está, ao mesmo tempo, se referindo ao antigo rito de aspersão, a qual não era eficaz para a genuína santificação, mas era sua sombra ou tipo.
Ultrajou o Espírito da graça. O
apóstolo o chama o Espírito da graça
pelos efeitos que ele produz, porque é através dele e pelo seu poder que
recebemos a graça que nos é oferecida em Cristo. É ele que ilumina nossas
mentes com fé; que sela em nossos corações a adoção divina; que nos regenera
para uma nova vida; e que nos enxerta no corpo de Cristo, para que ele viva em
nós e nós nele. O Espírito da graça, portanto, é assim corretamente chamado,
visto que é através dele que Cristo, com os seus benefícios, se tornam nossos.
Tratar com desprezo, aquele através de quem somos dotados com tão grandes
bênçãos, é o mais perverso de todos os pecados. Aprendamos desse fato que todos
aqueles que voluntariamente tornam sua graça inútil, depois de desfrutarem de
seu favor, estão expondo o Espírito de Deus ao desprezo. Portanto, não é de
estranhar que Deus se vingue de uma blasfêmia desse gênero, de forma tão
severa; e não é de estranhar que ele se mostre inexorável para com aqueles que
pisam sob a planta de seus pés a Cristo o Mediador, o único que intercede por
nós; e não é de estranhar que ele obstrua o caminho da salvação àqueles que
rejeitam o Espírito Santo, como seu único e verdadeiro Guia.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
*Faça-nos uma oferta (Chave PIX - 083.620.762.91).
*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba/PR.
Nenhum comentário:
Postar um comentário