"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



quarta-feira, 26 de novembro de 2025

“NÓS VOS ABENÇOAMOS EM NOME DO SENHOR!”


NÓS VOS ABENÇOAMOS EM NOME DO SENHOR!”

“Sejam envergonhados e repelidos todos os que aborrecem a Sião! Sejam como a erva dos telhados, que seca antes de florescer, com a qual não enche a mão o ceifeiro, nem os braços, o que ata os feixes! E também os que passam não dizem: A bênção do SENHOR seja convosco! Nós vos abençoamos em nome do SENHOR!” (Sl 129.5-8).

Seja qual for a maneira como entendemos estes versículos, o salmista declara que os fiéis não têm razão de viver em desânimo, quando visualizam seus inimigos subindo ao topo. A erva que cresce nos telhados não é, em virtude de sua posição elevada, mais valiosa do que a espiga de trigo que, rente ao chão, é pisada sob os pés; pois, embora a erva do telhado fique acima da cabeça dos homens, murcha e desaparece rapidamente. A erva nos telhados, em vez de continuar num estado de frescor, murcha e perece em seu primeiro estágio, porque não tem raiz embaixo, nem terra para supri-la com seiva ou umidade para sua nutrição. 

Sempre que o esplendor ou a grandeza de nossos inimigos nos abalem com temor, devemos recordar essa comparação: assim como a erva que cresce nos telhados, embora esteja no alto, não possui raízes e, consequentemente, tem breve duração, assim também esses inimigos, por mais que se exaltem, depressa serão consumidos pelo calor intenso, pois não possuem raízes — é somente a humildade que atrai a vida e o vigor de Deus.

Com a qual não enche a mão o ceifeiro. Temos aqui uma confirmação adicional da verdade de que, embora os perversos se elevem e formem uma opinião extravagante de sua importância pessoal, continuam sendo apenas erva, não produzem nenhum fruto bom, nem atingem um estado de maturidade, mas se exaltam apenas com a aparência da carne. Para tornar isto mais óbvio, o salmista os põe em oposição às ervas que produzem frutos, as quais nos vales e nos solos férteis produzem fruto para os homens. Enfim, ele afirma que merecem ser envergonhados ou sumariamente desprezados, enquanto comumente todo aquele que passa pelos campos de trigo os abençoa e ora pelos segadores. Além do mais, como o salmista tomou emprestada esta ilustração de sua doutrina das atividades da vida ordinária, somos ensinados que, sempre que houver um esperançoso prospecto de uma boa colheita, devemos rogar a Deus, cujo propósito peculiar é transmitir fertilidade à terra, que ele dê pleno efeito a suas bênçãos. E, considerando que os frutos da terra estão expostos a tantos percalços, certamente é estranho que não sejamos incitados a nos engajarmos no exercício da oração com base na absoluta necessidade de tais frutos para o homem e animais. Tampouco o salmista, ao falar de transeuntes que abençoam os segadores, fala exclusivamente dos filhos de Deus, os quais realmente são instruídos por sua palavra que a frutificação da terra se deve a sua bondade; mas ele também abarca os homens profanos em quem o mesmo conhecimento está naturalmente implantado. Concluindo, contanto que não apenas habitemos a Igreja do Senhor, mas também labutemos por ter um lugar no número de seus genuínos cidadãos, seremos aptos a destemidamente desprezar todo o poder de nossos inimigos; pois ainda que floresçam e façam grande exibição externa, por algum tempo, no entanto não passam de erva estéril, sobre a qual repousa a maldição do céu

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

“DESDE A MINHA MOCIDADE”


“DESDE A MINHA MOCIDADE”

“Desde a minha mocidade, me angustiaram, todavia, não prevaleceram contra mim” (Sl 129.2).

O termo mocidade denota os primórdios do povo, referindo-se não só ao tempo em que Deus tirou o povo do Egito, mas também ao tempo em que ele usou Abraão e os patriarcas durante quase toda a sua vida, mantendo-os numa condição de luta árdua. Se esses patriarcas tiveram de andar como estrangeiros na terra de Canaã, a sorte de seus descendentes foi ainda pior durante o tempo de sua permanência no Egito, quando foram oprimidos como escravos e afligidos por toda sorte de opróbrio e ignomínia. Em sua partida daquela terra, sabemos quantas dificuldades tiveram de enfrentar.

Se, ao considerarmos a história deles desde aquele período, nos depararmos com ocasiões em que se lhes tributou algum respeito, observaremos que eles nunca viveram num estado de tranquilidade, por qualquer extensão de tempo, até ao reinado de Davi. E, embora durante o reinado de Davi eles aparentassem viver numa condição próspera, logo surgiam tribulações e derrotas, as quais ameaçavam o povo de Deus com total destruição. No cativeiro babilônico, sendo toda esperança quase extinta, pareciam como que ocultos no túmulo e antecipando o processo de putrefação. Após o seu regresso, foi com dificuldade que obtiveram alguma breve intermissão, para tomarem fôlego. Por certo, às vezes eles eram entregues à espada, até que sua raça era quase totalmente destruída. Se olharmos para nós mesmos, é oportuno acrescentar as terríveis perseguições pelas quais a Igreja teria sido consumida milhares de vezes, se Deus não a houvesse preservado, por meios ocultos e misteriosos, ressuscitando-a, por assim dizer, dentre os mortos. A menos que nos tornemos estúpidos, quando afligidos por nossas calamidades, as circunstâncias aflitivas desta era desditosa nos compelirão a meditar sobre essa mesma doutrina.

Quando o profeta diz, me angustiaram, a repetição não é supérflua. A intenção é ensinar-nos que o povo de Deus enfrentou conflitos não somente uma vez ou duas e que sua paciência foi testada por disciplinas contínuas. Ele dissera que esse conflito começara desde a mocidade, sugerindo que estavam habituados ao conflito desde a mais tenra origem, a fim de que se acostumassem a carregar a cruz. Então, ele acrescenta que, ao se sujeitarem a este rigoroso treinamento, não o fizeram sem uma boa razão, visto que Deus não cessara de fazer uso das calamidades para submetê-los a Si mesmo. Se as disciplinas da Igreja, durante seu período de infância, eram tão severas, nossa debilidade será realmente vergonhosa, se nos dias atuais, quando a Igreja, por meio da vinda de Cristo, alcançou a era da maturidade, formos achados sem firmeza para suportar as provações. Fonte de consolação é a última sentença, que nos informa que os inimigos de Israel, após haverem tentado todos os métodos, nunca tiveram êxito em concretizar seus desejos, visto que Deus sempre frustrou as esperanças dos inimigos e abafou suas tentativas.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

terça-feira, 25 de novembro de 2025

“MUITAS VEZES ME ANGUSTIARAM”


“MUITAS VEZES ME ANGUSTIARAM”

“Muitas vezes me angustiaram desde a minha mocidade, Israel que o diga” (Sl 129.1).

É bem provável que este Salmo tenha sido escrito numa ocasião em que a Igreja de Deus, reduzida a um estado de angústia extrema, ou desfalecida em face de um grande perigo, ou oprimida com tirania, se via à beira de destruição total. É como se o profeta quisesse dizer: Quando os fiéis de Deus se encontram em meio às dificuldades que os abatem sob o fardo das provações, esse é um tempo oportuno de refletirem sobre a maneira como Deus tem exercitado seu povo desde o princípio, de geração em geração. Tão logo Ele solte as rédeas de nossos inimigos, para que façam o que bem lhes agrade, somos perturbados com tristezas, e nossos pensamentos, totalmente absorvidos pelos males que ora nos embaraçam. Disso procede o desespero, pois não lembramos que a paciência dos pais foi subjugada a uma provação semelhante e que não nos sucede nada que eles não experimentaram. É um exercício eminentemente apropriado ao conforto dos verdadeiros crentes o volverem seu olhar aos conflitos da Igreja nos dias de outrora, para que, por meio disso, saibam que ela sempre labutou sob a cruz e tem sido severamente afligida pela violência injusta de seus inimigos.

A conjectura mais provável que me ocorre é que este Salmo foi escrito depois que os judeus regressaram do cativeiro babilônico, quando, tendo sofrido muitos agravos e injúrias cruéis nas mãos de seus vizinhos, quase desfaleceram sob a tirania de Antíoco Epifãnio. Nesse estado de trevas e tribulações, o profeta encoraja os fiéis a serem fortes, não se dirigindo apenas a uns poucos, mas a todo o corpo, sem exceções. E, a fim de que fossem sustentados em assaltos tão ferozes, ele desejava que demonstrassem em oposição a tais assaltos uma esperança inspirada pela encorajadora consideração de que a Igreja, por meio de tolerância paciente, tem se mostrado invariavelmente vitoriosa.

Quase cada palavra contém ênfase. Israel que o diga, ou seja, que ele considere as provações da Igreja nos tempos antigos; disso se pode deduzir que o povo de Deus nunca foi isentado de levar a cruz e que as várias aflições pelas quais têm sido provados sempre tiveram um resultado feliz. Ao falar dos inimigos de Israel usando apenas o pronome eles, e não sendo mais específico, o salmista agrava a severidade da aflição, mais do que se houvesse chamado expressamente pelo nome os assírios ou os egípcios. Ao não especificar qualquer classe particular de inimigos, ele notifica por meio do silêncio que o mundo está saturado de inumeráveis bandos de inimigos, que Satanás facilmente arma para a destruição dos homens bons, sendo o objetivo dele que novas guerras surjam continuamente e de todos os lados. A história certamente dá testemunho amplo de que o povo de Deus não tem enfrentado poucos inimigos, e sim que têm sido atacado por quase todo o mundo; e, além do mais, que foram molestados não só por inimigos externos, mas também por inimigos internos, que professavam pertencer à Igreja.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

domingo, 23 de novembro de 2025

ZINGT DAGEN IN UTRECHT - NEDERLAND ZINGT

DIAS DE CANTO EM UTRECHT - A HOLANDA CANTA

Agradeçamos a Deus e celebremos juntos os 35 anos do Netherlands Sings.


Deus nos abençoe!

domingo, 16 de novembro de 2025

"À IMAGEM DE SEU FILHO"


"À IMAGEM DE SEU FILHO"

“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29).

Jesus Cristo é a exata expressão do ser de Deus (Hb 1.3), e o amor é a primeira de suas características mais apreciáveis. Sermos criados à sua imagem, conforme a sua semelhança, amar como ele nos amou é o que melhor nos caracteriza como filhos de Deus. Devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos; devemos amar até mesmo os nossos inimigos, pois Deus nos amou quando ainda éramos seus inimigos (Rm 5.8-11). Se Deus nos tratasse no estrito exercício da sua justiça, nós seríamos todos condenados à morte eterna. Mas Deus nos amou, ele executou a sua justiça em seu próprio Filho, "para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus" (Rm 3.26).

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).

*Notem alguns versículos demonstrando a importância do amor como característica dos filhos de Deus.

“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba” (1Co 13.4-8).

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” (1Co 13.13).

“Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3.14).

“Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22.38-40).

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; Mas eu digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem” (Mt 5.43,44).

“Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas” (1Jo 3.11,12).

“Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si. Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3.14-16).

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado” (1João 4.7-12).

“E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós somos neste mundo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão” (1Jo 4.16.21).

“O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm 12.9,10).

“Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (1Pe 4.8).

“Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço” (João 15.9,10).

“E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Fp 1.9-11).

Deus nos abençoe!

Pr. José Rodrigues Filho

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil – Curitiba (PR).

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

“CUJOS NOMES SE ENCONTRAM NO LIVRO DA VIDA”


“CUJOS NOMES SE ENCONTRAM NO LIVRO DA VIDA”

“A ti, fiel companheiro de jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais cooperadores meus, cujos nomes se encontram no Livro da Vida” (Fp 4.3).

O livro da vida é o registro dos justos, os quais são predestinados para a vida, como nos escritos de Moisés [Ex 32.32]. Deus mantém consigo este registro guardado em segurança. Daí o livro nada mais ser do que seu eterno conselho, fixo em seu próprio seio. No lugar deste termo, Ezequiel emprega a expressão: “os registros da casa de Israel” [Ez 13.9]. Com o mesmo propósito, lemos no Salmo: “Sejam riscados do livro da vida, e não sejam inscritos com os justos” [SI 69.28]; isto é, que não constem no número dos eleitos de Deus, a quem ele recebe dentro dos limites de sua Igreja e de seu reino. Se alguém alegar que o apóstolo Paulo, assim, age temerariamente usurpando para si o direito de se pronunciar sobre os segredos de Deus, respondo que nós, em alguma medida, podemos julgar os sinais pelos quais Deus manifesta sua eleição, mas somente até onde admite nossa capacidade. Portanto, em todos aqueles em quem vemos se manifestarem as marcas da adoção, reconheçamos, por enquanto, que são filhos de Deus até que se abram os livros [Ap 2.12], os quais trarão a público plenamente todas as coisas. É verdade que a Deus somente pertence conhecer agora os que são seus [2Tm 2.19], e separar, pelo menos, as ovelhas dos cabritos [Mt 25.32]; no entanto, nossa parte é reconhecer, através da caridade, que são ovelhas todos quantos, em espírito de obediência, se submetem a Cristo como seu Pastor, que recorrem ao seu aprisco e aí permanecem continuamente. Nossa parte é dar extremo valor ao fruto e aos dons do Espírito Santo, os quais ele confere peculiarmente a seus eleitos, e que para nós serão os selos, por assim dizer, de uma eleição que nos é oculta.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“SIM, DEVERAS CONSIDERO TUDO COMO PERDA”


“SIM, DEVERAS CONSIDERO TUDO COMO PERDA”

“Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Fp 3.8,9).

O apóstolo Paulo enaltece o evangelho em oposição a todas as noções que tendem a nos distrair. Pois há muitas coisas que possuem aparência de excelência, mas o conhecimento de Cristo ultrapassa tudo mais, a um grau tal, por sua sublimidade, que, quando se faz uma comparação, nada existe que não seja desprezível. Portanto, aprendamos disto que [grande] valor devemos depositar no conhecimento de Cristo somente. Quanto ao fato de o chamar, meu Senhor, ele faz isso para expressar a intensidade de seu sentimento.

Por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo. Paulo diz mais do que fizera previamente; pelo menos, ele se expressa com mais precisão. É uma analogia tomada dos marinheiros que, quando se veem em perigo iminente de naufrágio, lançam tudo para fora, para que, sendo o navio aliviado, cheguem no porto em segurança. Paulo, pois, estava preparado a perder tudo que possuía, antes que ser privado de Cristo.

Pergunta-se, porém, se nos é necessário renunciar às riquezas, às honras, à nobreza de origem, e até mesmo à justiça externa, para que nos tornemos participantes de Cristo [Hb 3.14], pois todas essas coisas são dons de Deus, as quais, por si sós, não devem ser desprezadas. Respondo que o apóstolo aqui não fala tanto das coisas em si mesmas, quanto da qualidade delas. Claro, é verdade que o reino do céu se assemelha a uma pérola preciosa, por cuja aquisição ninguém hesitaria em vender tudo o que possui [Mt 13.46]. Não obstante, há certa diferença entre a substância das coisas e a qualidade. Paulo não achou necessário renegar a conexão com sua própria tribo e com a raça de Abraão, e tomar-se um alienado, a fim de se fazer cristão; mas sim renunciar à dependência dessa sua ascendência. Não era conveniente que, de casto ele viesse a ser incontinente; de sóbrio ele viesse a ser intemperante; e de respeitável e honrado viesse a ser dissoluto; senão que se despisse de uma falsa estima de sua justiça pessoal e a tratasse com desprezo. Nós também, quando tratamos da justiça da fé, não contendemos contra a substância das obras, e sim contra aquela qualidade com que os sofistas as investem, visto que contendem que os homens são justificados por elas. Paulo, pois, se despiu, não das obras, mas daquela equivocada confiança depositada nas obras, com que se ensoberbecia.

Quanto a riquezas e honras, assim que nos despimos de nosso apego a elas, então nos preparamos também para renunciar às próprias coisas, sempre que o Senhor demandar isto de nós, e assim suceder. Não é expressamente necessário que sejamos pobres a fim de podermos ser cristãos; mas, se ao Senhor aprouver que o sejamos, então devemos estar preparados a suportar a pobreza. Enfim, não é lícito aos cristãos possuir algo à parte de Cristo. Considero como à parte de Cristo tudo quanto se constitui em obstáculo à glória exclusiva e ao senhorio completo de Cristo sobre nós.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“MAS O QUE, PARA MIM, ERA LUCRO”


“MAS O QUE, PARA MIM, ERA LUCRO”

“Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo” (Fp 3.7).

Ignorar a Cristo é a única razão por que nos ensoberbecemos com fútil confiança. Daí, onde quer que vejamos uma falsa estima da excelência pessoal de alguém, arrogância e orgulho, asseguremo-nos de que, aí, Cristo não é conhecido. Em contrapartida, tão logo Cristo se manifesta, todas aquelas coisas que outrora maravilhavam nossos olhos com um falso esplendor instantaneamente se desvanecem, ou, pelo menos, diminuem de valor. Consequentemente, aquelas coisas que tinham sido lucro para Paulo, quando ainda era cego, ou, melhor, que se pareceram com lucro, ele reconhece como perda, após ser iluminado. Por que perda? Porque eram obstáculos no caminho de sua aproximação a Cristo.

O que é mais nocivo do que aquilo que nos impede de nos achegarmos a Cristo? Ora, o apóstolo Paulo fala principalmente de sua justiça pessoal, porquanto não somos recebidos por Cristo, a não ser que sejamos despidos e esvaziados de nossa justiça pessoal. Consequentemente, Paulo reconhece que nada lhe era tão danoso quanto sua justiça pessoal, visto que foi por meio dela que ele ficou excluído de Cristo.

Considerei perda por causa de Cristo. Paulo, tendo dito que renunciava todos os obstáculos no intuito de ganhar a Cristo, enaltece o evangelho em oposição a todas as noções que tendem a nos distrair. Pois há muitas coisas que possuem aparência de excelência, mas o conhecimento de Cristo ultrapassa tudo mais, a um grau tal, por sua sublimidade, que, quando se faz uma comparação, nada existe que não seja desprezível. Portanto, aprendamos disto que [grande] valor devemos depositar no conhecimento de Cristo somente. Quanto ao fato de o chamar, meu Senhor, ele faz isso para expressar a intensidade de seu sentimento.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“LOUVOR EM BLUES - VOL. 2”

“LOUVOR EM BLUES - VOL. 2”

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9).

Deus nos abençoe!

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

“ESTOU PLENAMENTE CERTO”


“ESTOU PLENAMENTE CERTO”

“Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6).

O apóstolo Paulo não derivava esta confiança da firmeza e da excelência dos homens, mas simplesmente do fato de que Deus manifestara seu amor para com os filipenses. E, indubitavelmente, esta é a genuína maneira de reconhecer os benefícios divinos - quando derivamos deles ocasião de nutrir boas esperanças quanto ao futuro. Porque, como são tomados imediatamente por sua bondade, e por sua paternal benevolência para conosco, que ingratidão seria não derivar disto nenhuma confirmação de esperança e bom ânimo! Além disto, Deus não é como os homens a ponto de se cansar ou sentir-se exausto em conferir bondade. Portanto, que os crentes se exercitem em constante meditação sobre os favores que Deus confere, para que se animem e confirmem a esperança quanto ao futuro, e tenham sempre em sua mente este silogismo: Deus não se esquece da obra que suas próprias mãos começaram, como o profeta testifica [SI 138.8; Is 59.8]; nós somos a obra de suas mãos; portanto, ele completará o que já começou a fazer em nós. Quando digo que somos a obra de suas mãos, não me refiro à mera criação, mas à vocação pela qual somos adotados como seus filhos. Pois o fato de que o Senhor nos chamou eficazmente para si, pela operação de seu Espírito, é sinal da nossa eleição.

Não obstante, pergunta-se se alguém pode estar certo quanto à salvação de outra pessoa, porquanto aqui Paulo não está falando de si mesmo, e sim dos filipenses. Respondo que a certeza que um indivíduo tem com respeito à sua salvação pessoal é muito diferente da que ele tem em relação à das outras pessoas. Pois o Espírito de Deus é minha testemunha de que fui chamado, como o é também de cada um dos eleitos. Quanto aos outros, não temos nenhum testemunho, exceto o da eficácia externa do Espírito; ou, seja, até onde a graça de Deus se exibe neles, e até onde a percebemos. Portanto, há uma grande diferença porque a certeza de fé permanece encerrada no interior de cada um, e não se exterioriza aos demais. Não obstante, onde quer que notemos quaisquer das marcas da eleição divina, que porventura sejam notadas por nós, devemos imediatamente estimular-nos a nutrir boa esperança, seja para que não sejamos invejosos em relação aos nossos semelhantes, seja subtraindo deles um juízo equitativo de caridade; e, ainda, para que sejamos gratos a Deus. Não obstante, esta é uma regra geral, seja quanto a nós mesmos, seja quanto aos demais - que, desconfiando de nossa própria força, dependamos inteiramente só de Deus.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR). 

domingo, 9 de novembro de 2025

“SALMOS CANTADOS - VOL. 1”

“SALMOS CANTADOS - VOL. 1”

“Responde-me quando clamo, ó Deus da minha justiça; na angústia, me tens aliviado; tem misericórdia de mim e ouve a minha oração” (Sl 4.1).

Deus nos abençoe!

“CARTA AOS FILIPENSES - VOZ E VIOLÃO”

“CARTA AOS FILIPENSES - VOZ E VIOLÃO”

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Fp 2.5-11).


Deus nos abençoe!

sábado, 8 de novembro de 2025

“O AMOR QUE PROCEDE DE CORAÇÃO PURO”


“O AMOR QUE PROCEDE DE CORAÇÃO PURO”

“Mas o intuito da presente admoestação é o amor que procede de coração puro, de uma consciência íntegra, e de uma fé sem fingimento” (1Tm 1.5).

Se o objetivo e o fim da lei é que sejamos instruídos no amor que nasce da fé e de uma consciência íntegra, conclui-se, pois, que aqueles que desviam seu ensino para questões motivadas pela curiosidade são maus intérpretes da lei. Nesta passagem, não é de grande relevância se o amor é considerado como uma referência a ambas as tábuas da lei ou só a segunda. Recebemos o mandamento de amar a Deus de todo o nosso coração e ao nosso próximo como a nós mesmos, ainda que, quando o amor é mencionado na Escritura, geralmente se restrinja mais ao amor ao próximo. Nesta passagem, não hesitaria em entender o amor como sendo tanto a Deus quanto ao próximo, se Paulo houvera mencionado unicamente a palavra amor. Visto, porém, que ele acrescenta a fé sem fingimento e uma consciência íntegra, a interpretação que estou para apresentar se adequa muito bem ao contexto em que ele está escrevendo. A suma da lei consiste em que devemos adorar a Deus com uma fé genuína e uma consciência pura, bem como devemos igualmente amar uns aos outros; e todo aquele que se desvia disso corrompe a lei de Deus, torcendo-a para servir a algum outro propósito alheio a ela mesma.

Aqui, porém, pode surgir uma dúvida, ou seja: Paulo, aparentemente, situa o amor antes da fé. Minha resposta é que aqueles que pensam assim estão se portando como infantis, pois o fato de o amor ser mencionado primeiro não significa que ele desfruta do primeiro lugar de honra, já que Paulo também deixa em evidência que ele procede da fé. Ora, a causa, indubitavelmente, tem prioridade sobre o efeito, e se todo o contexto for levado em conta, o que Paulo está dizendo é o seguinte: “A lei nos foi promulgada a fim de instruir-nos na fé, a qual é a mãe de uma consciência íntegra e de um amor genuíno”. Daí termos que começar com a fé e não com o amor.

Há pouca distinção entre coração puro e consciência íntegra. Ambos são frutos da fé. Atos 15.9 fala de um coração puro, ao dizer que “Deus purifica os corações mediante a fé”. E Pedro diz que uma consciência íntegra está fundamentada na ressurreição de Cristo (1Pe 3.21). À luz desta passagem torna-se evidente que não pode haver amor sem o temor de Deus e a integridade de consciência. Devemos notar os termos que o apóstolo Paulo usa para descrever cada uma dessas virtudes. Não há nada mais comum ou mais fácil do que vangloriar-se da fé e de uma consciência íntegra, porém são mui poucos os que comprovam por meio de seus atos que estão isentos de toda sombra de hipocrisia. Devemos notar especialmente como ele fala da fé sem fingimento, significando que é insincera qualquer profissão de fé que não se pode comprovar por uma consciência íntegra e manifestar-se no amor. Visto que a salvação do homem depende da fé, e a perfeita adoração divina consiste de fé e de uma consciência integra e de amor, não precisamos sentir-nos surpresos por Paulo dizer que estes elementos constituem a suma da lei.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR). 

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

“A FIM DE QUE NÃO ENSINEM OUTRA DOUTRINA”


“A FIM DE QUE NÃO ENSINEM OUTRA DOUTRINA”

“Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina” (1Tm 1.3).

Foi com grande relutância, e só sob compulsão da necessidade que o apóstolo Paulo se deixara separar de um assistente tão amado e fiel como Timóteo, para que, como seu correspondente, pudesse levar a cabo os deveres que demandavam a responsabilidade que não havia em nenhum outro para que se cumprissem. Isso deve ter exercido uma profunda influência em Timóteo, não só por tê-lo impedido de desperdiçar seu tempo, mas o ajudou a comportar-se de maneira excelente, além do comum. Ele aqui também encoraja Timóteo a opor-se aos falsos mestres que estavam adulterando a doutrina e sua pureza. Neste apelo para Timóteo cumprir seu dever em Éfeso, devemos notar a piedosa preocupação do apóstolo. Porque, enquanto se esforçava por estabelecer novas igrejas, ele não deixava as anteriores destituídas de pastor. Indubitavelmente, como diz o escritor, “Para manter a salvo o que já conquistou necessita-se de tanta habilidade quanto para conquistá-lo. A palavra admoestar ou ordenar compreende autoridade, pois era o propósito de Paulo revestir Timóteo com autoridade para que pudesse ele refrear outros.

A fim de que não ensinem outra doutrina. Em outras palavras, “não ensinar de modo diferente, fazendo uso de outro método” ou “ensinar uma nova doutrina. A tradução de Erasmo, “seguir uma nova doutrina”, não me satisfaz, visto que a mesma poderia aplicar-se tanto aos ouvintes quanto aos mestres. Se lemos: “ensinar de uma forma diferente”, o significado será mais amplo, pois Paulo estaria proibindo a Timóteo de permitir a introdução de novos métodos de ensino que sejam incompatíveis com o método legítimo e genuíno que lhe havia comunicado. Assim, na segunda epístola, ele não aconselha Timóteo a simplesmente conservar a substância de seu ensino, mas usa o termo o qual significa uma semelhança viva de seu ensino. Como a verdade de Deus é única, assim não há senão um só método de ensiná-la, o qual se acha livre de falsa pretensão e que degusta mais saborosamente a majestade do Espírito do que as demonstrações externas de eloquência humana. Se alguém se aparta disso, ele deforma e vicia a própria doutrina; e assim, “ensinar de maneira diferente”, aponta para a forma.

Se lermos: “ensinar algo diferente”, então a referência será à substância do próprio ensino. É digno de nota que, por outra doutrina, significa não só o ensino que está em franco conflito com a sã doutrina do evangelho, mas também tudo o que, ou corrompe a pureza do evangelho por meio de invenções novas e adventícias, ou o obscurece por meio de especulações irreverentes. Todas as maquinações humanas são outras tantas corrupções do evangelho, e aqueles que fazem mau uso das Escrituras, como costumam fazer as pessoas ímpias, fazendo do Cristianismo uma engenhosa exibição, obscurecem o evangelho. Todo ensino desse gênero é oposto à Palavra de Deus e àquela pureza da doutrina na qual Paulo ordena aos efésios a permanecerem firmes.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564). 

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR). 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

“SOU GRATO PARA COM AQUELE QUE ME FORTALECEU”


“SOU GRATO PARA COM AQUELE QUE ME FORTALECEU”

“Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério” (1Tm 1.12).

Sublime é a dignidade do apostolado que Paulo havia reivindicado para si; e, recordando de sua vida pregressa, não podia de forma alguma considerar-se digno de tão sublime honra. Portanto, para evitar de ser acusado de presunção, ele tem de referir-se a si mesmo, confessando sua indignidade e ainda afirmando ser apóstolo pela graça de Deus. De fato, ele avança ainda mais e se volta para as circunstâncias que pareciam depor contra sua autoridade para o seu bem, declarando que a graça de Deus brilha nele ainda com mais fulgor. Ao render graças a Cristo, ele remove a objeção que poderia ser atribuída caluniosamente contra ele, sem deixar-lhe qualquer chance de formular a pergunta se ele era ou não digno de um ofício tão honroso, pois ainda que em si mesmo não possuísse excelência de espécie alguma, era suficiente o fato de que fora escolhido por Cristo. Há muitos que usam a mesma honra de palavras para fazer uma exibição de sua humildade, mas que em nenhum existe a humildade de Paulo, pois que sua intenção era não só gloriar-se ardentemente no Senhor, mas também desviar de si toda e qualquer vanglória. Mas, pelo quê ele está dando graças? É pelo fato de lhe haver concedido um lugar no ministério, e desse fato ele deduz que fora considerado fiel. Cristo não recebe pessoas indiscriminadamente, antes, porém, faz seleção daqueles que são apropriados, e assim reconhecemos como dignos todos aqueles a quem ele honra. Não é incompatível com isso o fato de Judas, segundo a profecia do Salmo 109.8, ser levantado por pouco tempo para em seguida celeremente cair. Por outro lado, com Paulo foi diferente, pois que obteve seu ofício com um propósito distinto e sob condições distintas, pois Cristo declarou [At 9.15] que ele haveria de ser “um vaso escolhido para ele”.

Ao falar assim, Paulo parece estar fazendo da fidelidade que antecipadamente demonstrara a causa de seu chamamento. Se tal fosse o caso, então sua gratidão seria hipócrita e absurda, pois então deveria seu apostolado, não tanto a Deus, mas a seus próprios méritos. Não concordo que sua intenção fosse que ele fora escolhido para a obra apostólica em razão de sua fé ter sido conhecida de antemão por Deus, porquanto Cristo não poderia ter previsto nele nada de bem exceto aquilo que o próprio Pai lhe concedera. E assim permanece sempre verdadeiro que “Não fostes vós que me escolhestes a mim, pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto” [Jo 15.16]. Mas a intenção de Paulo é completamente diferente: para ele, o fato de Cristo fazer dele um apóstolo fornecia prova de sua fidelidade. Ele afirma: os que Cristo toma por apóstolos têm que confessar que foram declarados fiéis pelo decreto de Cristo. Este veredicto não repousa sobre a presciência, e, sim, sobre o testemunho dirigido aos homens, como se ele dissesse: “Dou graças a Cristo que me chamou para este ministério, e assim publicamente declarou que sancionava minha fidelidade”.

Paulo agora se volta para outras bênçãos de Cristo, e diz que ele o fortaleceu ou o capacitou. Com isso ele quer dizer não só que no princípio fora formado pela mão divina, de uma forma tal que ficou perfeitamente qualificado para o seu ofício, mas inclui também a concessão contínua de graças. Porquanto não teria sido suficiente que uma só ocasião houvera sido declarado fiel, caso Cristo não o fortalecesse com a constante comunicação de seu socorro. Portanto, ele diz que é pela graça de Cristo que fora inicialmente levantado para o apostolado e por que agora continua nele.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564). 

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR). 

“PRIMEIRA CARTA A TIMÓTEO - VOZ E VIOLÃO”

“PRIMEIRA CARTA A TIMÓTEO - VOZ E VIOLÃO”

“Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério” (1Tm 1.12).


Deus nos abençoe!