"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



terça-feira, 14 de maio de 2024

“NÃO VOS VINGUEIS A VÓS MESMOS”


“NÃO VOS VINGUEIS A VÓS MESMOS”

“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” (Rm 12.19).

O mal que o apóstolo Paulo corrige aqui é mais sério do que o mencionado no versículo 17, “Não torneis a ninguém mal por mal”. E, no entanto, ambos têm a mesma fonte de origem, ou seja: um amor desordenado direcionado para si mesmo e um orgulho inerente que nos leva a uma excessiva indulgência para com nossos próprios erros, enquanto que nos revelamos intolerantes para como os erros alheios. Visto, pois, que esta enfermidade cria em quase todos um desejo frenético por vingança, mesmo quando sofrem as mais leves injúrias, o apóstolo nos ordena, aqui, a não cultivarmos o espírito de vingança, mesmo quando somos dolorosamente feridos, mas que deixemos a vingança com o Senhor. E visto que aqueles que uma vez se deixam prender por esta descontrolada paixão não podem ser dominados com facilidade, ele nos refreia pelo uso de termos persuasivos, como amados.

O preceito, pois, consiste em que não devemos cultivar o espírito de vingança, nem vingar as injúrias que porventura se nos fazem, visto que temos de dar lugar a ira. Dar lugar à ira consiste em deixar com Deus a autoridade de julgar. Aqueles que planejam a vingança privam Deus desta autoridade. Se, pois, é errôneo usurpar o ofício divino, tampouco nos é lícito extorquir dele a vingança, porque, ao procedermos assim, antecipamos o juízo divino; porquanto Deus quis reservar esse oficio exclusivamente para si. Ao mesmo tempo, o apóstolo afirma que aqueles que esperam pacientemente pelo socorro divino deixarão Deus ser seu Vingador, enquanto que aqueles que antecipam sua vingança não deixam lugar para o seu socorro.

Aqui, o apóstolo Paulo não só nos proíbe de tomar a vingança em nossas mãos, mas também de permitir que nossos corações sejam tentados por este desejo. Fazer aqui distinção entre vingança pública e privativa é, portanto, supérfluo. A pessoa que recorre ao auxílio do magistrado com o coração sobrecarregado com o malévolo desejo de vingança não merece mais escusa do que se engendrasse meios de executar a vingança com suas próprias mãos. De fato, como veremos a seguir, não devemos nem mesmo pedir a Deus que nos vingue. Se porventura nossas petições emanam de nossos sentimentos pessoais, e não do santo zelo do Espírito, não deixaremos Deus ser nosso Juiz; ao contrário, seremos servos de nossos desejos corruptos.

Portanto, só nos é possível dar lugar à ira quando esperamos pacientemente o tempo certo de nosso livramento, orando nesse ínterim para que aqueles que agora nos trazem sofrimento se arrependam e se transformem em nossos amigos [e irmãos].

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.

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