“SE O TEU INIMIGO
TIVER FOME”
“Pelo contrário, se o teu
inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque,
fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça” (Rm 12.20).
O apóstolo
Paulo nos mostra como podemos verdadeiramente cumprir os preceitos contra a
vingança e contra o revide, ou seja, de retribuir o mal com o mal. Somos não só
impedidos de fazer injúria, mas também temos de fazer o bem aos que vivem a
prejudicar-nos. Há um gênero de retaliação indireta, ou seja, quando
fracassamos em tratar com benevolência àqueles que nos têm injuriado. Pelos
verbos comer e beber devemos entender atos de bondade de toda espécie.
Portanto, segundo nossas possibilidades, devemos auxiliar nosso inimigo em
qualquer problema, para que suas necessidades sejam supridas com nossos
recursos, conselhos e empenhos. Pelo termo inimigo ele não quer dizer aqueles
por quem sentimos ódio, mas aqueles que nutrem inimizade para conosco. Se
carecem de ser socorridos em suas necessidades corporais, muito menos devemos
contrapor-nos à sua salvação, invocando o mal sobre eles.
Paulo mostra também
a grande vantagem que podemos desfrutar tratando nossos inimigos com atos de
cortesia, visto que não devemos dissipar inutilmente nosso tempo e nossos esforços.
Há quem interprete brasas no sentido de destruição que é amontoada sobre a cabeça
de nosso inimigo, se tratamos sua indignidade com benevolência, e os nossos
atos, em relação a ele, são muito mais dignos do que realmente ele merece. E
isso ainda aumenta sem senso de culpa. Outros preferem formular a opinião de
que quando nosso inimigo se vê bem tratado, seu espírito é impelido a amar-nos
em troca. Fico com o ponto de vista mais simples, ou seja: seu espírito será
quebrantado de uma ou de outra maneira, a saber: ou nosso inimigo será comovido
pela bondade, ou, caso seja ele tão feroz que nada consiga acalmá-lo, será fustigado
e atormentado pelo testemunho de sua consciência, a qual se sentirá fulminada
ante a nossa bondade.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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