“QUEM
AMA O PRÓXIMO TEM CUMPRIDO A LEI”
“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos
ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei” (Rm 13.8).
O propósito do apóstolo Paulo, aqui, é reduzir todos os preceitos da
lei em um só, a saber: o amor, a fim de sabermos que mantendo a prática do amor,
estamos exatamente obedecendo aos mandamentos; e ao procedermos assim, estamos
sendo preparados para assumir qualquer responsabilidade que nos possibilite a
preservar a caridade. E assim ele confirma sobejamente o preceito que
apresentara concernente à obediência devida aos magistrados. E esta obediência
de forma alguma constitui uma parte do amor de somenos importância.
Não obstante, alguns sentem certa dificuldade nesta passagem, e de tal
dificuldade não conseguem desvencilhar-se completamente, ou seja: Paulo ensina
que a lei é cumprida quando amamos ao nosso próximo. O problema, portanto,
consiste em que ele, aqui, não faz menção do culto devido a Deus, ainda que certamente
não era sua intenção de omiti-lo. O fato é que o apóstolo não está se referindo
a toda a lei. Ele está simplesmente falando daqueles deveres que a lei requer
de nós com relação ao nosso próximo. É também verdade que toda a lei é cumprida
quando amamos nosso próximo, porque o genuíno amor pelo ser humano só tem uma
fonte, a saber: o amor de Deus. O amor ao próximo é a evidência e decorrência
do amor a Deus. Na verdade Paulo, aqui, menciona só segunda tábua [da lei],
porquanto sua inquirição se relaciona somente a esta. É como se ele dissesse: “Aquele
que ama a seu próximo como a si mesmo tem cumprido seu dever para com o mundo
todo”. É fútil a objeção daqueles que
tentam encontrar neste versículo a justificação [procedente] das obras. O
apóstolo não está declarando o que o homem faz ou deixa de fazer, mas está
falando daquelas condições que em parte alguma julgaríamos ter cumprido. Ao
dizermos que o ser humano não é justificado por meio das obras, não negamos que
a observância da lei constitua verdadeira justiça. Mas, visto que ninguém
cumpre a lei, ou jamais a tenha cumprido, defendemos a tese de que todos os
homens se acham excluídos dela, e que, por isso, o nosso único refúgio está na
graça de Cristo.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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