“SEDE PACIENTES NA TRIBULAÇÃO”
“Regozijai-vos na
esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes” (Rm 12.12).
Estes três conselhos se
entrelaçam e parecem depender do anterior - servindo ao tempo. A
pessoa que põe sua alegria na esperança da vida por vir, e suporta suas
tribulações com, paciência, também está pronta a dedicar-se ao tempo e se vale
da oportunidade de marchar com vigor em busca de seu alvo. Sempre que venha ao
caso (pois não faz muita diferença se as frases são ou não relacionadas), o apóstolo Paulo
primeiro nos proíbe a permanecermos contentes com nossas bênçãos momentâneas, ou a pôr nossa alegria na terra ou nas coisas terrenas, como se nossa felicidade
estivesse localizada ali. Ao contrário disso, ele nos convida a dirigir nossas
mentes rumo ao céu, para que experimentemos aquela alegria que é sólida e
plenária. Se a nossa alegria repousa na esperança da vida por vir, esta
esperança gerará em nós paciência na adversidade, visto que nenhum sentimento
de pesar será capaz de sucumbir tal alegria. Portanto, estas duas coisas se
acham estritamente relacionadas entre si, ou seja: a alegria que nasce da
esperança, e a paciência que nasce da adversidade. Somente a pessoa que
aprendeu a buscar sua felicidade para além deste mundo, com o fim de reduzir e
aliviar as asperezas e amarguras da cruz com a consolação da esperança, se sujeitará
calma e tranquilamente a carregar a cruz.
Entretanto, visto que
ambas as coisas estão muito acima de nossas forças, devemos permanecer
constantemente em oração e invocar continuamente a Deus, para que ele não
permita que nossos corações sejam destroçados pelas calamidades. Além do mais,
Paulo não só nos estimula à prática da oração, mas expressamente nos intima à
perseverança, visto que nossa guerra é incessante e sofremos vários assaltos
todo dia. Mesmo os mais fortes dentre nós são incapazes de suportar estes
revezes sem frequente reaquisição de novas energias. Mas a diligência na oração
é o melhor antídoto contra o risco de soçobrarmos.
Deus nos abençoe!
João Calvino
(1509-1564).
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