“NO ZELO, NÃO SEJAIS REMISSOS”
“No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo
ao tempo” (Rm 12.11).
Este preceito, “no zelo, não sejais remissos”, nos é
comunicado não só porque a vida cristã deve ser ativa, mas também porque é
próprio que às vezes desconsideremos nossas próprias vantagens e dediquemos
nossos labores em prol de nossos irmãos; e nem sempre em prol daqueles que são
bons, mas também em prol daqueles que se nos revelam ingratos e indignos. Em
resumo, visto que devemos esquecer de nós mesmos na execução de muitos de nossos
deveres, jamais estaremos adequadamente preparados para a obediência a Cristo,
a menos que instemos conosco mesmos, esforçando-nos diligentemente por
desprender-nos de toda a nossa indolência.
Ao acrescentar “fervorosos de espírito”, o apóstolo
Paulo nos mostra como devemos firmar-nos
ao preceito anterior. Não há outro corretivo mais eficaz para nossa indolência
do que o fervor do espírito. Portanto, a diligência em fazer o bem requer
aquele zelo que o Espírito de Deus acendeu em nossos corações. Por que, pois,
diria alguém, Paulo nos exorta a cultivar este fervor? Eis minha resposta:
embora este zelo seja um dom divino, estes deveres são destinados aos crentes a
fim de que destruam sua indiferença e fomentem aquela chama que Deus lhes
acendeu. Pois geralmente sucede que, ou abafamos, ou mesmo extinguimos o
Espírito em razão de nossas próprias mazelas.
O terceiro conselho, “servindo ao tempo”, tem a mesma
referência. Visto que o curso da nossa vida é por demais breve, nossa chance de
fazer o bem tão logo passa. Devemos, pois, ser mais solícitos na realização de
nossos deveres. Assim, o apóstolo, em outra passagem, nos convida a remir o tempo, visto que os dias são
maus [Ef 5.16]. O significado pode ser também que devemos saber como
administrar nosso tempo, porquanto há grande necessidade de assim fazermos. Não
obstante, Paulo, creio eu, está contrastando seu preceito entre servir o tempo e
[servir] o ócio. Obviamente, Paulo desejava relacionar o culto divino com os
deveres que desempenhamos em favor de nossos irmãos e tudo quanto serve para
fortalecer o amor, a fim de transmitir maior encorajamento aos crentes.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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