“CANA QUEBRADA E TORCIDA QUE FUMEGA”
“Eis aqui o
meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz. Farei
repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará juízo aos gentios. Não
contenderá, nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz. Não esmagará a
cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega, até que faça vencedor o juízo.
E, no seu nome, esperarão os gentios” (Mt 12.18-21; Is 42.1-4).
Outra coisa
que nos chama a atenção nesta passagem é a encorajadora descrição do caráter de
nosso Senhor Jesus Cristo, que o apóstolo Mateus extraiu da profecia de Isaías.
“Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega”.
O que devemos
entender com as expressões “cana quebrada” e “torcida que fumega”? Sem dúvida
alguma, a linguagem do profeta é figurada. O que significam essas duas expressões?
A explicação mais simples parece ser que o Espírito Santo estava aqui
descrevendo pessoas cuja graça no momento é fraca, cujo arrependimento é débil,
e cuja fé e pequena. Para com tais pessoas, o Senhor Jesus Cristo mostrar-se-á
muito terno e compassivo. Embora a cana quebrada seja frágil, não será
esmagada. Por menor que seja a torcida que fumega, não será apagada. Essa é a
verdade permanente no reino da graça divina, que uma graça fraca, uma fé fraca
e um arrependimento fraco são todos preciosos aos olhos de nosso Senhor. “Deus é
mui grande, contudo a ninguém despreza” (Jó 36.5).
A doutrina
aqui salientada é plena de consolo e conforto. Para os milhares de crentes em
todas as igrejas de Cristo, essa doutrina deverá representar grande paz e
esperança. Em cada congregação, há alguns que ouvem o evangelho, mas estão à
beira de desistir da própria salvação, porquanto as suas forças lhes parecem
tão poucas. Estão cheios de temores e desalentos, porquanto o seu conhecimento,
fé, esperança e amor parecem tão pequenos e insignificantes. Que esses crentes
sejam consolados por este texto bíblico. Que eles saibam que a fé, embora
fraca, confere ao seu possuidor um interesse real e verdadeiro em Cristo, tanto
quanto a fé mais robusta, embora não forneça o mesmo gozo. Há vida biológica em
um recém-nascido, tanto quanto em um homem plenamente adulto. Há fogo em uma
fagulha, tanto quanto nas chamas mais ardentes. Mesmo o menor grau de graça
divina é uma possessão que dura para sempre. A graça divina vem do céu, é
preciosa aos olhos de nosso Senhor, jamais será rejeitada.
Acaso Satanás faz
pouco caso dos primeiros passos do arrependimento para com Deus e da fé em
nosso Senhor Jesus Cristo? Não! Pelo contrário, ele é tomado de grande ira,
porque percebe que o seu tempo está se tornando cada vez mais curto. Acaso os
anjos de Deus consideram com desdém os primeiros sinais de penitência para com
Deus, em Cristo? Não, de maneira alguma! Há júbilo entre os anjos, quando os pecadores
se arrependem. Acaso o Senhor Jesus mostra desinteresse quando a fé é pequena e
o arrependimento é fraco? Não, certo que não! No momento em que uma “cana quebrada”
como Saulo de Tarso começa a clamar a Deus, eis que o Senhor lhe envia Ananias,
porque “ele está orando” (At 9.11). Erramos gravemente se não encorajarmos os
primeiros passos de uma alma em direção a Cristo. Que os ignorantes deste mundo
escarneçam e zombem, se assim o quiserem fazer. Podemos estar certos de que as “canas
quebradas” e as “torcidas que fumegam” são muito preciosas aos olhos de nosso Senhor.
Que todos nós
entesouremos estas verdades no coração, utilizando-as nos momentos de
necessidade, tanto para o nosso proveito como para o de outras pessoas. Deveria
ser um conceito bem firme em nossa religião cristã que uma fagulha é melhor do
que a escuridão, e que uma pequena fé é melhor do que nenhuma fé. Há quem
despreze “o dia dos humildes começos”? (Zc 4.10), mas esses humildes começos
não são desprezados por Cristo; e também não deveriam ser desprezados pelos
crentes.
Deus nos
Abençoe!
J.C.Ryle (1816-1900).
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