"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



sábado, 21 de junho de 2025

“SACIÁ-LO-EI COM LONGEVIDADE”


“SACIÁ-LO-EI COM LONGEVIDADE”

Saciá-lo-ei com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação” (Sl 91.16).

Pode parecer estranho que longevidade seja mencionada no último versículo como a eles prometida, visto que muitos dentre o povo do Senhor são cedo arrebatados do mundo. Mas eu poderia reiterar uma observação que já foi feita em outros lugares, a saber, que aquelas bênçãos divinas que estão prometidas em relação ao presente mundo perecível, não devem ser consideradas como bons feitos num sentido universal e absoluto, ou cumpridas em total concordância com uma regra estabelecida e igual. Riquezas e outros confortos mundanos devem ser vistos como que propiciando alguma experiência do favor e benevolência divinos, mas não se deduz daí que os pobres sejam objetos do desprazer divino; ter um corpo saudável e boa saúde são bênçãos de Deus, porém não devemos conceber que isso constitua prova de que a fraqueza e a enfermidade devam ser consideradas com desaprovação. Longa vida deve ser classificada entre os benefícios desse gênero, e seriam concedidos por Deus a todos seus filhos não fosse para seu benefício serem eles levados tão cedo deste mundo. Eles se satisfazem mais com um curto período durante o qual vivem melhor que os ímpios, ainda que sua vida se estenda por mil anos. A expressão não pode aplicar-se aos ímpios, de que estão satisfeitos com longevidade, pois por mais longa seja sua vida, a sede de seus desejos continua a ser inextinguível. É a vida, e nada mais, que eles esbanjam com tal ansiedade; tampouco se pode dizer ter eles um desfruto momentâneo daquele favor e bondade divinos que só podem comunicar a real satisfação. O salmista poderia, pois, com propriedade declarar, como um privilégio pertencente peculiarmente ao povo do Senhor, que vivem satisfeitos com a vida. A trajetória breve que lhes é designada é reconhecida por eles como sendo sobejamente suficiente. Além disso, longevidade não se deve jamais comparar com eternidade. A salvação divina se estende para além das estreitas fronteiras da existência terrena; e se vivermos ou morrermos, é para isso que devemos primordialmente olhar. É com essa visão que o salmista, depois de declarar todos os demais benefícios que Deus concede, acrescenta esta como uma frase final que, quando ele os tiver seguido com sua paternal bondade por toda sua vida, por fim lhes mostrará sua salvação.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“NA SUA ANGÚSTIA EU ESTAREI COM ELE”


“NA SUA ANGÚSTIA EU ESTAREI COM ELE”

“Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele, livrá-lo-ei e o glorificarei” (Sl 91.15).

O salmista agora mostra mais claramente o que tencionava com a expressão confiar em Deus ou depositar nele nosso amor e deleite. Pois aquele afeto e desejo que são produzidos pela fé nos impelem a invocar seu nome. Esta é outra prova em apoio da verdade, ou, seja: que a oração está propriamente fundamentada na Palavra de Deus. Não temos a liberdade, nesta matéria, de seguir as sugestões de nossa própria mente e arbítrio, mas devemos buscar a Deus somente até onde ele nos convidou a aproximar-nos dele. O contexto pode também ensinar-nos que a fé não é ociosa nem inoperante, e que um teste, pelo qual devemos testar os que buscam o livramento de Deus, é se eles têm recorrido a Deus da forma prescrita. Aqui temos uma lição adicional, a saber: que os crentes jamais serão isentos de angústias e constrangimentos. Deus não lhes promete vida ociosa e prazeres mundanos, mas o livramento de suas tribulações. Faz-se menção que ele os glorificará, insinuando que o livramento que Deus oferece, e o qual já foi mencionado neste Salmo, não é de uma natureza meramente temporária, mas que por fim resultará que eles chegarão a uma perfeita felicidade. Ele lhes confere muita honra neste mundo e se glorifica neles de forma muito clara, porém ainda não é a completação de sua trajetória com que ele lhes oferece base para o triunfo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sexta-feira, 20 de junho de 2025

“E DISSE-LHES: RECEBEI O ESPÍRITO SANTO”


“E DISSE-LHES: RECEBEI O ESPÍRITO SANTO”

“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.21,22).

Nenhum dos filhos dos homens é qualificado para desempenhar um ofício tão difícil, e por isso Cristo prepara os apóstolos para o mesmo pela graça de seu Espírito. E de fato governar a Igreja de Deus, levar a embaixada da salvação eterna, erigir o reino de Deus na terra e elevar seres humanos até o céu é uma tarefa que está além da capacidade humana. Portanto, não devemos ficar surpresos se jamais se achou um homem qualificado, se o mesmo não for equipado pelo Espírito Santo; pois ninguém pode falar sequer uma palavra concernente a Cristo, a menos que o Espírito guie sua língua [1Co 12.3); o fato é que não existe ninguém que seja competente para desempenhar fiel e honestamente todos os deveres de tão excelente ofício. Além do mais, é tão-somente a glória de Cristo que forma aqueles a quem ele designa para serem mestres de sua igreja; pois a razão pela qual a plenitude do Espírito foi derramada sobre ele é para que pudesse outorgá-la a cada um segundo determinada medida.

Recebei o Espírito Santo. Ainda que continue sendo o Pastor de sua Igreja, Cristo necessariamente deve demonstrar o poder de seu Espírito nos ministros cuja agência ele emprega; e isso também ele testificou pelo símbolo externo, quando soprou sobre os apóstolos; pois isso não seria aplicável se o Espírito não procedesse dele. Cristo não só comunica a seus discípulos o Espírito que ele mesmo recebera, porém outorga o que é propriamente seu, como o Espírito que ele tinha em comum com o Pai.

Deve-se lembrar que, aqueles a quem Cristo chama para o ofício pastoral ele igualmente adorna com os dons necessários para que sejam qualificados para o desempenho de seu oficio, ou, pelo menos, não venha a ser algo vazio e impreciso. E se isso é verdade, não há dificuldade alguma em refutar a tola vanglória dos falsos pastores e mestres que, enquanto empregam termos sublimes de louvor em enaltecimento de sua posição, não podem demonstrar uma única fagulha do Espirito Santo. Querem que creiamos que são os legítimos pastores da Igreja, e igualmente que são os apóstolos de Cristo, embora seja evidente que são totalmente destituídos da graça do Espírito Santo. Um critério infalível é aqui determinado para julgar a vocação dos que governam a Igreja de Deus; e esse critério é se percebemos que de fato têm recebido o Espírito Santo.

Entretanto, o que Cristo primordialmente pretendia com isso era sustentar a dignidade da posição dos apóstolos; pois era sem sentido que aqueles que tinham sido escolhidos para serem os primeiros e os mais eminentes arautos do evangelho possuíssem autoridade incomum. Mas se Cristo, naquele tempo, outorgou o Espírito aos apóstolos através do sopro, pode-se concluir que era supérfluo enviar o Espírito Santo mais tarde. Minha resposta é que o Espírito foi dado aos apóstolos nesta ocasião de uma maneira tal que só foram aspergidos por sua graça, porém não foram cheios com a plenitude de poder, pois quando o Espírito apareceu sobre eles em línguas de fogo [At 2.3], eles foram totalmente renovados. E de fato ele não os designou para serem os arautos do seu evangelho, ao ponto de enviá-los imediatamente à obra, mas lhes ordenou que repousassem, como lemos em outro lugar: Permanecei na cidade de Jerusalém até que do alto sejais revestidos de poder [Lc 24.49]. E se levarmos tudo devidamente em consideração, concluiremos não que ele lhes mune com os dons necessários para o presente uso, mas que os designa para que fossem os órgãos de seu Espírito para o futuro; e por isso esse sopro deve ser entendido como uma referência principalmente àquele magnificente ato de enviar o Espírito, o qual tinha com frequência prometido.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 19 de junho de 2025

“NÃO TEMAS, FILHA DE SIÃO”


“NÃO TEMAS, FILHA DE SIÃO”

“E Jesus, tendo conseguido um jumentinho, montou-o, segundo está escrito: Não temas, filha de Sião, eis que o teu Rei aí vem, montado em um filho de jumenta” (Jo 12.14,15).

Nestas palavras do profeta Zacarias, como citadas pelo evangelista João, devemos observar, em primeiro lugar, que nunca a tranquilidade é restaurada em nossas mentes, ou o temor e tremor banidos dela, exceto quando temos consciência de que Cristo reina entre nós. As palavras do profeta, assim, são diferentes; pois ele exorta os crentes a cultivarem entusiasmo e regozijo. Aqui, porém, o Evangelista descreve a maneira como nossos corações exultam com verdadeiro júbilo. Isso se dá quando é removido aquele temor com o qual todos nós seríamos atormentados até que, estando reconciliados com Deus, obtenhamos aquela paz que emana da fé [Rm 5.1]. Este benefício, pois, vem a nós através de Cristo, que, esmaga o jugo do pecado, cancela a culpa e abole a morte, libertando-nos da tirania de Satanás. Livremente, nos gloriamos, confiando na proteção de nosso Rei, já que aqueles que são postos sob sua guarda não devem temer perigo algum. Não que vivamos isentos de temor, ao longo de toda a nossa vida terrena, mas porque a confiança, fundada em Cristo, se ergue superior a tudo mais. Ainda que Cristo estivesse a uma imensa distância, contudo o profeta exortou os piedosos daquele tempo a que nutrissem entusiasmo e regozijo, porque Cristo haveria de vir. “Eis que”, disse ele, “teu Rei aí vem; portanto, não temas”. Agora que ele já veio, a fim de que nos regozijemos em sua presença, devemos lutar mais vigorosamente contra o temor, para que, livres de nosso inimigo, pacificamente e com intenso júbilo honremos ao nosso Rei.

Filha de Sião. O profeta se dirigiu a Sião em seu próprio tempo, porque ela era a habitação e morada da Igreja. Agora, Deus arrebanhou para si uma Igreja do mundo inteiro, mas esta promessa é peculiarmente dirigida aos crentes que se submetem a Cristo, para que reinem neles. Ao descrever Cristo como “a cavalgar um jumento”, significa que seu reino em nada será comum, com a pompa, esplendor, riqueza e poder do mundo e era oportuno que isto se tornasse conhecido mediante uma manifestação externa, para que todos se assegurassem plenamente de que isto [o reino] é espiritual.

Deus nos abençoe!

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quarta-feira, 18 de junho de 2025

“BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR”


“BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR”

“No dia seguinte, a numerosa multidão que viera à festa, tendo ouvido que Jesus estava de caminho para Jerusalém, tomou ramos de palmeiras e saiu ao seu encontro, clamando: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é Rei de Israel! “ (Jo 12.12,13).

Antes de tudo devemos entender o que está implícito nesta frase: vir em nome do Senhor. Aquele que não se apresenta temerariamente nem falsamente assume a honra, mas, sendo devidamente chamado, tem a diretriz e autoridade de Deus para suas ações, vem em nome de Deus. Este título pertence a todos os verdadeiros servos de Deus. Um profeta que, guiado pelo Espírito Santo, honestamente entrega aos homens a doutrina que recebera do céu, vem em nome de Deus. Um rei, por cuja mão Deus governa seu povo, vem no mesmo nome. Mas como o Espírito do Senhor repousou sobre Cristo, ele é a Cabeça de todas as coisas [Ef 1.22], e todos quantos ele tem ordenado governar sobre a igreja estão sujeitos à sua autoridade, ou melhor, são mananciais a fluírem dele como a Fonte, ele, com razão, afirma que vieram em nome de Deus. Tampouco é apenas pela suma posição de sua autoridade que ele excede aos demais, mas porque Deus se nos manifesta plenamente nele, pois nele habita corporalmente a plenitude da Deidade, no dizer de Paulo [Cl 2.9]; ele é a imagem viva de Deus [Hb 1.3]; e, em suma, é o verdadeiro Emanuel [Mt 1.23]. Portanto, é por um direito especial que se diz que ele veio em nome do Senhor, porque por meio dele Deus se manifestou plenamente, e não parcialmente, como fizera previamente por meio dos profetas. Devemos, pois, começar com ele como a Cabeça, quando desejamos abençoar os servos de Deus.

Deus nos abençoe!

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segunda-feira, 16 de junho de 2025

“DEUS AMA AO QUE DÁ COM ALEGRIA”


“DEUS AMA AO QUE DÁ COM ALEGRIA”

“Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2Co 9.7).

Tendo-lhe ordenado a dar liberalmente, agora o apóstolo Paulo lança luz no fato de que Deus julga liberalmente, não com base na quantidade dada, mas com base no motivo. Naturalmente que Paulo gostaria que os coríntios dessem uma ampla quantidade, de tal maneira que os irmãos fossem socorridos o mais ricamente possível, porém não pretendia extorquir deles nada que fosse contra a sua vontade. Por isso ele lhes diz que dessem liberalmente, tanto quanto sentissem que deviam. Paulo contrataste o propósito do coração com má vontade e por necessidade. Quando agimos sob a compulsão da necessidade, não agimos em consonância com o propósito de nosso coração, e, sim, com relutância. A necessidade aqui referida é aquela conhecida como necessidade extrínseca, aquela necessidade que é imposta de fora. Naturalmente que obedecemos a Deus porque é necessário, todavia o fazemos de coração. Pois neste caso a necessidade nos é imposta por nós mesmos, movidos por nosso próprio arbítrio; e posto que a nossa carne é relutante, às vezes envidamos um grande esforço para nos compelir à realização do dever necessário. Mas quando somos compelidos externamente a fazer algo que de bom grado evitaríamos, se pudéssemos; então o fazemos, não zelosa ou alegremente, mas com relutância e com o consentimento forçado.

Porque Deus ama ao que dá com alegria. O apóstolo Paulo nos traz de volta a Deus, porque, como disse no início, a oferta é um sacrifício, e tão-somente um sacrifício voluntário pode agradar a Deus. Pois quando diz que Deus ama ao doador contente, ele deduz o contrário, ou seja: que Deus rejeita o constrangimento e a coerção. Não é sua vontade dominar-nos como tirano; ele se nos revela como Pai, portanto requer de nós a espontânea obediência de filhos.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sábado, 14 de junho de 2025

“PARA QUE NÃO VEJAM COM OS OLHOS, NEM ENTENDAM COM O CORAÇÃO”


“PARA QUE NÃO VEJAM COM OS OLHOS, NEM ENTENDAM COM O CORAÇÃO”

“Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados” (Jo 12.40).

Lembremo-nos de que o profeta fala dos incrédulos (Is 6.10), os quais já haviam rejeitado a graça de Deus. É certo que todos continuariam sendo assim por natureza, se o Senhor não convertesse para obediência àqueles a quem elegera. A princípio, pois, a condição dos homens é igual e a mesma; mas, quando os réprobos se rebelam de iniciativa própria e movidos por sua própria perversidade contra Deus, se sujeitam à vingança dele, pela qual, sendo entregues a uma mentalidade reprovável, se precipitam continuamente, mais e mais, para sua própria destruição. Portanto, é por sua própria culpa se Deus não decide convertê-los, porquanto eles foram a causa de seu próprio desespero. Por estas palavras do profeta, somos ainda instruídos sucintamente sobre qual é o princípio de nossa conversão a Deus. Isso se dá quando ele ilumina os corações, os quais têm vivido afastados dele, na medida em que eram mantidos nas trevas de Satanás, mas, ao contrário, tal é o poder da luz divina, que ela nos atrai a si mesma e nos forma na imagem de Deus.

E sejam por mim curados. Em seguida ele adiciona o fruto da conversão, a saber, a cura. Com estas palavras, o profeta tem em vista a bênção de Deus e a condição próspera, bem como o livramento de todas as misérias que emanam da ira de Deus. Ora, se isto sucede aos réprobos, contrariando a natureza da Palavra, devemos atentar bem para o contraste implícito no uso oposto dela, ou seja, que o propósito para o qual a Palavra de Deus é pregada é para que ela nos ilumine ao verdadeiro conhecimento de Deus, para converter-nos a Deus e reconciliar-nos com ele, a fim de que sejamos felizes e abençoados.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“CEGOU-LHES OS OLHOS E ENDURECEU-LHES O CORAÇÃO”


“CEGOU-LHES OS OLHOS E ENDURECEU-LHES O CORAÇÃO”

“E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele, para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso, não podiam crer, porque Isaías disse ainda: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados” (Jo 12.37-40).

Esta passagem é tomada de Isaías 6.9, onde o Senhor adverte o profeta, dizendo que o labor que ele gasta na instrução não levará a nenhum outro resultado senão em fazer o povo pior. Antes de tudo ele diz: “Vai, e dize a este povo: Ouvindo, ouvis, e não ouvis; como se quisesse dizer: “Eu te envio a falar a surdos”. Em seguida ele agrega: Endurece o coração deste povo”. Com estas palavras ele tem em vista que sua intenção é fazer de sua palavra uma punição aos réprobos, a fim de fazê-los totalmente cegos, e para que sua cegueira os mergulhe em trevas ainda mais profundas. Este é um terrível juízo de Deus, quando esmaga os homens pela luz da doutrina, de tal maneira que os priva de todo entendimento; e quando, mesmo por meio daquilo que é sua única luz, ele derrama trevas sobre eles.

Mas, é preciso observar-se ser acidental à Palavra de Deus o fato de ela cegar os homens; pois nada pode ser mais inconsistente do que não haver diferença entre verdade e falsidade, que o pão da vida se converta em peçonha mortífera, e que a medicina agrave a doença. Mas isto deve ser atribuído à perversidade humana, a qual converte a vida em morte. É preciso observar-se ainda que alguma vezes o Senhor, de sua própria iniciativa, cega as mentes dos homens, privando-as de juízo e entendimento; algumas vezes isso provém de Satanás e dos falsos profetas, quando as embrutecem por meio de suas imposturas; algumas vezes quando também se faz isso por meio de seus ministros, quando a doutrina da salvação lhes é injuriosa e mortífera. Mas, conquanto os profetas labutem fielmente na obra de instrução, e confiem no Senhor o resultado de seu labor, ainda que não sejam bem sucedidos como gostariam, não devem desistir ou dar vazão ao seu desânimo. Ao contrário, que fiquem satisfeitos em saber que Deus aprova seu labor, ainda que este seja inútil aos homens, e que mesmo o aroma da doutrina, que os perversos convertem para si próprios em algo mortífero, “é bom e agradável a Deus”, como testifica Paulo (2Co 2.15).

Na Escritura, algumas vezes o coração é expresso pela sede dos afetos, aqui, porém, como em muitas outras passagens, ele denota o que se denomina a parte intelectual da alma. Moisés fala com o mesmo propósito: “Deus não vos tem dado um coração para entender” (Dt 29.4).

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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terça-feira, 10 de junho de 2025

“O APÓSTOLO LADRÃO – Parte 2


“O APÓSTOLO LADRÃO – Parte 2

“Então, Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, mui precioso, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se toda a casa com o perfume do bálsamo. Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, o que estava para traí-lo, disse: Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres? Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres; mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava” (Jo 12.3-6).

“E encheu-se toda a casa com o perfume do bálsamo”. Em seguida vem a queixa de Judas, a qual Mateus [26.8] atribui indiscriminadamente aos discípulos, e Marcos [14.4], a algum dentre eles. Mas é costumeiro nas Escrituras aplicar-se a muitos, valendo-se de uma metonímia, o que pertence a um ou a uns poucos. Quanto a mim, porém, penso ser provável que a censura tenha procedido somente de Judas, e que os demais se deixaram induzir, dando-lhe seu assentimento, porquanto os murmuradores, bafejando uma chama, facilmente acendem em nós uma variedade de disposições. E, mais especificamente, visto que somos extremamente propensos a formar juízos desfavoráveis, as calúnias prontamente nos influenciam. Mas a credulidade que o Espírito de Deus reprova nos apóstolos constitui uma advertência para não nos deixarmos, tão facilmente e com tanta credulidade, dar ouvidos às declarações caluniosas.

Os demais apóstolos, não movidos de má disposição, porém irrefletidamente, condenaram Maria. Judas, porém, recorre a um plausível expediente em prol de sua impiedade, ao pôr os pobres em evidência, a despeito de não nutrir qualquer preocupação por eles. Por esse exemplo somos instruídos sobre o desejo de possuir algo que nutre uma predisposição tão horrível: a perda daquilo que Judas vê esboçar-se sem uma oportunidade de roubá-lo o incita a uma fúria tal, que não hesita em trair Cristo. E, provavelmente, no que ele disse sobre os pobres sendo defraudados, não só fala falsamente a outros, mas igualmente se vangloriava intimamente, como os hipócritas costumam fazer; como se o ato de trair a Cristo fosse um erro trivial, pelo qual se esforçava em obter compensação pela perda que sofrera. Aliás, ele tinha apenas uma razão para trair a Cristo: recuperar de alguma forma aquilo que deixara escapar de suas mãos, pois foi a indignação inflamada nele, ante o lucro que perdera, que o levou a fomentar o desígnio de trair a Cristo.

É surpreendente que Cristo houvera escolhido, como tesoureiro, uma pessoa desse gênero, a qual ele bem sabia ser um ladrão. Pois que outro desígnio havia senão o de pôr em suas mãos uma corda para se estrangular? Um mero mortal não pode dar nenhuma outra resposta além desta: que os juízos divinos são um abismo profundo. No entanto, a ação de Cristo não deve ser vista como uma regra ordinária para confiarmos o cuidado dos pobres, ou qualquer coisa sacra, a uma pessoa perversa e ímpia. Porquanto Deus estabeleceu uma lei aos que forem chamados a governar a Igreja e a outros ofícios e a essa lei não temos a liberdade de violar. Com Cristo o caso era bem outro: sendo ele a Sabedoria de Deus, propiciou uma oportunidade, em sua predestinação secreta, na pessoa de Judas.

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terça-feira, 3 de junho de 2025

“ELE TEM CONSIDERADO A ORAÇÃO DO SOLITÁRIO”


ELE TEM CONSIDERADO A ORAÇÃO DO SOLITÁRIO

“Ele tem considerado a oração do solitário e não desprezou suas orações” (Sl 102.17).

É digno de nota que o livramento das tribos eleitas seja atribuído às orações dos fiéis. A mercê divina era deveras a única causa que o levou a livrar sua Igreja, visto que graciosamente lhe prometera essa bênção. Mas, para incitar os verdadeiros crentes a uma mais profunda solicitude à oração, Deus promete que, o que propusera fazer movido por seu próprio beneplácito, ele concederia em resposta a seus pedidos. Tampouco existe alguma inconsistência entre estas duas verdades, a saber: que Deus preserva a Igreja no exercício de sua soberana mercê, e que ele a preserva em resposta às orações de seu povo. Pois, visto que suas orações se acham conectadas às promessas graciosas, o efeito daquelas depende inteiramente destas. Ao dizer que as orações do solitário foram ouvidas, não se deve entender as orações de um único homem (pois, na sentença imediatamente seguinte, usa-se o plural), mas de todos os judeus, enquanto permaneciam lançados fora de seu próprio país e viviam exilados em terra estranha, são chamados solitário, porque, embora os países da Assíria e Caldéia fossem notavelmente férteis e deleitosos, todavia esses miseráveis cativos, como já observei previamente, perambulavam como por um deserto. E como naquele tempo esse povo solitário obteve favor por seus lamentos, assim agora, quando os fiéis se acham dispersos e destituídos de suas assembleias regulares, o Senhor ouvirá seus gemidos nessa desolada dispersão, contanto que todos eles, de comum acordo e com fé inabalável, sinceramente aspirem a restauração da Igreja.

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