"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



segunda-feira, 30 de junho de 2025

“O SEU TESTEMUNHO É VERDADEIRO”


“O SEU TESTEMUNHO É VERDADEIRO”

“Este é o discípulo que dá testemunho a respeito destas coisas e que as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. Há, porém, ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos” (Jo 21.24,25).

O significado da palavra evangelho é bem conhecido. Na Escritura, ela denota, a alegre e prazerosa mensagem da graça a nós exibida em Cristo, a fim de instruir-nos a desprezar o mundo com suas passageiras riquezas e prazeres, a desejar essa bênção de todo nosso coração e abraçá-la quando ela nos for oferecida. É natural em todos nós aquela conduta que percebemos em homens irreligiosos que cultivam extravagantes prazeres nos fúteis deleites do mundo, ainda que sejam poucos, de modo que alguns se deixam afetar pelos encantos das bênçãos espirituais. Com o propósito de corrigir esse erro, Deus expressamente dá o título de evangelho à mensagem que ele ordena seja concernente a Cristo. Desse modo, ele nos lembra que em nenhuma outra parte se pode obter a genuína e sólida felicidade, e que nele temos tudo que necessitamos para a perfeição de uma vida feliz.

Há quem considere a palavra evangelho como se estendendo a todas as preciosas promessas de Deus que se acham espalhadas inclusive na Lei e nos Profetas. Tampouco se pode negar que sempre que Deus declara que se deixará reconciliar com os homens e perdoará seus pecados, ao mesmo tempo exibe Cristo cujo peculiar ofício onde que se manifeste, é jorrar por toda parte os raios de sua alegria. Reconheço, pois, que os [antigos] pais foram participantes juntamente conosco do mesmo evangelho, no que diz respeito à fé na salvação gratuita. Visto, porém, que a declaração ordinária do Espírito Santo nas Escrituras é que o evangelho foi proclamado pela primeira vez quando Cristo veio, abracemos também essa forma de expressão, bem como conservemos a definição de evangelho que tenho formulado, a saber: é a solene publicação da graça revelada em Cristo. Por isso o evangelho é chamado de poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê [Rm 1.16], porque nele Deus exibe sua justiça. Ele é também chamado embaixada por meio do qual Deus reconcilia consigo os homens [2Co 5.20]; e, visto que Cristo é o penhor da misericórdia de Deus e de seu paternal amor para conosco, assim ele é, de uma maneira peculiar, o tema do evangelho.

Por isso, ele veio para que as histórias que narram que Cristo se manifestou em carne, morreu, ressuscitou dentre os mortos e, por fim, foi assunto ao céu tivessem peculiarmente o mérito do título evangelho. Pois ainda que, por razões já expressas, esta palavra signifique o Novo Testamento, contudo o título que denota a totalidade, pela prática geral, representa aquela parte dele que declara que Cristo se nos manifestou na carne, morrendo e ressuscitando dentre os mortos. Mas, como a mera história não seria suficiente, e de fato ela seria de nenhuma valia para a salvação, o evangelista não relata simplesmente que Cristo nasceu, morreu e venceu a morte, mas também explica com que propósito ele nasceu, morreu e ressuscitou, bem como qual o benefício que recebemos desses fatos.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

quarta-feira, 25 de junho de 2025

“AMARAM MAIS A GLÓRIA DOS HOMENS”


“AMARAM MAIS A GLÓRIA DOS HOMENS”

“Porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus” (Jo 12.43).

O Evangelista João declara expressivamente que aqueles homens não eram guiados por alguma superstição, mas apenas diligenciavam em evitar a desgraça entre os homens; pois se a ambição tinha maior influência sobre eles do que o temor de Deus, segue-se que não era um fútil escrúpulo da consciência que os fazia inquietos. Ora, que possamos observar quão grande ignomínia se contrai diante de Deus, mediante a covardia dos que, movidos pelo medo de serem odiados, dissimulam sua fé diante dos homens. Pode alguma coisa ser mais tola, ou, melhor, pode algo ser mais bestial do que preferir o fútil aplauso dos homens ao juízo de Deus? Mas ele declara que todos quantos se esquivam do ódio dos homens, quando a fé pura deve ser confessada, se deixam dominar por esse tipo de demência. E com razão, pois o apóstolo, ao aplicar a inabalável firmeza de Moisés, diz ele que permaneceu firme, como se visse aquele que é invisível [Hb 11.27]. Com estas palavras ele tem em vista que, quando alguma pessoa fixa seus olhos em Deus, seu coração se torna invencível e totalmente incapaz de ser movido. Donde, pois, provém a fraqueza que nos leva a ceder à insidiosa hipocrisia, senão porque, aos olhos do mundo, todos os nossos sentidos se embrutecem? Pois uma genuína visão de Deus dissiparia instantaneamente toda névoa da riqueza e honras. Longe, pois, com aqueles que consideram uma negação indireta de Cristo como sendo um escândalo trivial, ou, como costumam chamá-lo, uma leve transgressão! [Mt 10.33].

Amar mais a glória dos homens significa, nesta passagem, o anseio pelo desfrute de reputação entre os homens. O apóstolo João, pois, tem em vista que aqueles homens eram tão devotados ao mundo, que aspiravam mais o aplauso dos homens do que o agrado de Deus. Além disso, ao acusar deste crime os que negavam a Cristo, ao mesmo tempo ele mostra que a excomunhão, da qual os sacerdotes usavam e abusavam, contraria a tudo o que era direito e lícito e era destituída de qualquer valor ou eficácia.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“POR CAUSA DOS FARISEUS, NÃO O CONFESSAVAM”


“POR CAUSA DOS FARISEUS, NÃO O CONFESSAVAM”  

“Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele, mas, por causa dos fariseus, não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga” (Jo 12.42).

Pode-se imaginar que o Evangelista João fala incorretamente, ao separar a fé da confissão; pois é com o coração que cremos para a justiça, e é com a boca que fazemos confissão para a salvação [Rm 10.10), e é impossível que a fé, que uma vez tenha sido acesa no coração, não arroje suas chamas. Minha resposta é que ele realça aqui quão fraca era a fé dos que eram tão mornos, ou melhor, frios. Em suma, João tem em vista que abraçaram a doutrina de Cristo, porque bem sabiam que ela provinha de Deus, mas que não possuíam uma fé vívida, ou uma fé tão vigorosa como deveriam ter; pois Cristo não concede aos seus seguidores um espírito de medo, e sim de firmeza, para que ousada e destemidamente confessem o que têm aprendido dele. Entretanto, não creio que ficaram em total silêncio, mas como sua confissão não era suficientemente pública, o Evangelista, em minha opinião, simplesmente declara que não faziam uma confissão de sua fé, pois o tipo próprio de confissão era a declaração pública de que eram discípulos de Cristo. Que ninguém, pois, se gabe, se em algum aspecto oculta ou dissimula sua fé por medo de incorrer no ódio dos homens; porque, por mais odioso que seja o Nome de Cristo, aquela covardia que nos impele a nos esquivarmos, um mínimo sequer, da confissão dele, não admite escusa.

Deve-se observar ainda que os líderes (principais) têm menos rigor e firmeza, porque a ambição quase sempre reina neles, a qual é a mais escravizadora de todas as disposições e, para expressá-lo numa só palavra, pode-se dizer que as honras terrenas são cadeias de ouro que prendem um homem para que o mesmo não consiga cumprir seu dever com liberdade. Por esta conta, as pessoas que são postas numa condição inferior e humilde devem suportar sua sorte com maior paciência, porquanto estão, ao menos, isentas de muitas redes nocivas. Não obstante, os grandes e nobres devem lutar contra sua elevada posição para que esta não os embarace de se submeterem a Cristo. João afirma que eles tinham medo dos fariseus, não que os demais escribas e sacerdotes permitissem livremente que algum homem se denominasse discípulo de Cristo, mas porque, sob a semelhança de zelo, cruelmente ardiam no íntimo com mais intensa ferocidade. O zelo, na defesa da religião, é uma excelente virtude, mas se adicionar-lhe a hipocrisia, não pode haver praga mais danosa. Tanto mais solícitos devemos ser em rogar ao Senhor que nos guie pela regra inerrante de seu Espírito.

Para não serem expulsos da sinagoga. Isto era o que os impelia ao medo da desgraça; pois teriam sido expulsos da sinagoga. Daí vemos quão grande é a perversidade dos homens, a qual não só corrompe e avilta a melhor das ordenanças de Deus, mas as convertem em destrutiva tirania. A excomunhão deveria ter sido o tendão da santa disciplina, para que a punição fosse prontamente infligida, se alguma pessoa menosprezasse a Igreja. Mas os problemas atingiram um ponto tal, que todo aquele que confessasse pertencer a Cristo era banido da sociedade dos crentes. De igual modo, nos dias atuais, líderes eclesiásticos, a fim de exercer o mesmo tipo de tirania, falsamente pretendem o direito de exercer a excomunhão, e não só trovejam com cega fúria contra todos os santos, mas tudo faz para descer Cristo de seu trono celestial; e, no entanto não hesitam manter com impudência o direito da sacra jurisdição com a qual Cristo adornou a Igreja.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“MUITOS DENTRE AS PRÓPRIAS AUTORIDADES CRERAM NELE”


“MUITOS DENTRE AS PRÓPRIAS AUTORIDADES CRERAM NELE”

“Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele, mas, por causa dos fariseus, não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga” (Jo 12.42).

O murmúrio e ferocidade dos judeus, ao rejeitarem a Cristo, elevou-se a tal nível de insolência que era possível que se concluísse que todo o povo, sem exceção, havia conspirado contra ele. Mas o apóstolo João diz que, em meio à demência geral da nação, havia muitos que eram de uma mente sã. Aliás, esse era um notável exemplo da graça de Deus; porque, quando a impiedade uma vez chega a prevalecer, ela se torna uma sorte de praga universal, afetando com seu contágio cada parte do corpo. Portanto, é um dom notável e uma graça especial de Deus quando, em meio a um povo tão corrupto, encontram-se alguns que permanecem impolutos. E mesmo agora percebemos no mundo a mesma graça de Deus, pois ainda que a impiedade e menosprezo por Deus se proliferem por toda parte, e ainda que uma vasta multidão de seres humanos promova furiosas tentativas com o intuito de exterminar completamente a doutrina do evangelho, contudo esse encontra alguns lugares de abrigo; e assim a fé tem o que se pode chamar seus portos ou lugares de refúgio, para que ela não seja inteiramente banida do mundo.

A palavra é ainda enfática; porque, na ordem dos governantes existia tão profundo e inveterado ódio pelo evangelho, que raramente se poderia crer que se pudesse encontrar em seu meio um único crente. Tão mais profunda admiração se deve ao Espírito de Deus que penetra onde não havia nenhuma abertura, ainda que não fosse um vício, peculiar a uma única geração, que os governantes fossem rebeldes e desobedientes a Cristo; porquanto honra, riqueza e alto escalão geralmente são acompanhados por orgulho. A consequência é que aqueles que, inchados de arrogância, raramente se reconhecem como sendo homens, por isso não se deixam subjugar com facilidade e com humildade voluntária. Todos quantos, pois, que mantém uma elevada posição no mundo, se porventura são sábios, olharão com suspeita para sua posição, não permitindo que ela seja um entrave em seu caminho. Quando João diz que havia muitos, isto não deve ser entendido como se constituíssem a maioria ou mesmo a metade; porque, quando comparados com os outros que constituíam um número mui vasto, eram poucos, mas, mesmo assim, eram muitos, quando vistos separadamente.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sábado, 21 de junho de 2025

“SACIÁ-LO-EI COM LONGEVIDADE”


“SACIÁ-LO-EI COM LONGEVIDADE”

Saciá-lo-ei com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação” (Sl 91.16).

Pode parecer estranho que longevidade seja mencionada no último versículo como a eles prometida, visto que muitos dentre o povo do Senhor são cedo arrebatados do mundo. Mas eu poderia reiterar uma observação que já foi feita em outros lugares, a saber, que aquelas bênçãos divinas que estão prometidas em relação ao presente mundo perecível, não devem ser consideradas como bons feitos num sentido universal e absoluto, ou cumpridas em total concordância com uma regra estabelecida e igual. Riquezas e outros confortos mundanos devem ser vistos como que propiciando alguma experiência do favor e benevolência divinos, mas não se deduz daí que os pobres sejam objetos do desprazer divino; ter um corpo saudável e boa saúde são bênçãos de Deus, porém não devemos conceber que isso constitua prova de que a fraqueza e a enfermidade devam ser consideradas com desaprovação. Longa vida deve ser classificada entre os benefícios desse gênero, e seriam concedidos por Deus a todos seus filhos não fosse para seu benefício serem eles levados tão cedo deste mundo. Eles se satisfazem mais com um curto período durante o qual vivem melhor que os ímpios, ainda que sua vida se estenda por mil anos. A expressão não pode aplicar-se aos ímpios, de que estão satisfeitos com longevidade, pois por mais longa seja sua vida, a sede de seus desejos continua a ser inextinguível. É a vida, e nada mais, que eles esbanjam com tal ansiedade; tampouco se pode dizer ter eles um desfruto momentâneo daquele favor e bondade divinos que só podem comunicar a real satisfação. O salmista poderia, pois, com propriedade declarar, como um privilégio pertencente peculiarmente ao povo do Senhor, que vivem satisfeitos com a vida. A trajetória breve que lhes é designada é reconhecida por eles como sendo sobejamente suficiente. Além disso, longevidade não se deve jamais comparar com eternidade. A salvação divina se estende para além das estreitas fronteiras da existência terrena; e se vivermos ou morrermos, é para isso que devemos primordialmente olhar. É com essa visão que o salmista, depois de declarar todos os demais benefícios que Deus concede, acrescenta esta como uma frase final que, quando ele os tiver seguido com sua paternal bondade por toda sua vida, por fim lhes mostrará sua salvação.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“NA SUA ANGÚSTIA EU ESTAREI COM ELE”


“NA SUA ANGÚSTIA EU ESTAREI COM ELE”

“Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia eu estarei com ele, livrá-lo-ei e o glorificarei” (Sl 91.15).

O salmista agora mostra mais claramente o que tencionava com a expressão confiar em Deus ou depositar nele nosso amor e deleite. Pois aquele afeto e desejo que são produzidos pela fé nos impelem a invocar seu nome. Esta é outra prova em apoio da verdade, ou, seja: que a oração está propriamente fundamentada na Palavra de Deus. Não temos a liberdade, nesta matéria, de seguir as sugestões de nossa própria mente e arbítrio, mas devemos buscar a Deus somente até onde ele nos convidou a aproximar-nos dele. O contexto pode também ensinar-nos que a fé não é ociosa nem inoperante, e que um teste, pelo qual devemos testar os que buscam o livramento de Deus, é se eles têm recorrido a Deus da forma prescrita. Aqui temos uma lição adicional, a saber: que os crentes jamais serão isentos de angústias e constrangimentos. Deus não lhes promete vida ociosa e prazeres mundanos, mas o livramento de suas tribulações. Faz-se menção que ele os glorificará, insinuando que o livramento que Deus oferece, e o qual já foi mencionado neste Salmo, não é de uma natureza meramente temporária, mas que por fim resultará que eles chegarão a uma perfeita felicidade. Ele lhes confere muita honra neste mundo e se glorifica neles de forma muito clara, porém ainda não é a completação de sua trajetória com que ele lhes oferece base para o triunfo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sexta-feira, 20 de junho de 2025

“E DISSE-LHES: RECEBEI O ESPÍRITO SANTO”


“E DISSE-LHES: RECEBEI O ESPÍRITO SANTO”

“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.21,22).

Nenhum dos filhos dos homens é qualificado para desempenhar um ofício tão difícil, e por isso Cristo prepara os apóstolos para o mesmo pela graça de seu Espírito. E de fato governar a Igreja de Deus, levar a embaixada da salvação eterna, erigir o reino de Deus na terra e elevar seres humanos até o céu é uma tarefa que está além da capacidade humana. Portanto, não devemos ficar surpresos se jamais se achou um homem qualificado, se o mesmo não for equipado pelo Espírito Santo; pois ninguém pode falar sequer uma palavra concernente a Cristo, a menos que o Espírito guie sua língua [1Co 12.3]; o fato é que não existe ninguém que seja competente para desempenhar fiel e honestamente todos os deveres de tão excelente ofício. Além do mais, é tão-somente a glória de Cristo que forma aqueles a quem ele designa para serem mestres de sua igreja; pois a razão pela qual a plenitude do Espírito foi derramada sobre ele é para que pudesse outorgá-la a cada um segundo determinada medida.

Recebei o Espírito Santo. Ainda que continue sendo o Pastor de sua Igreja, Cristo necessariamente deve demonstrar o poder de seu Espírito nos ministros cuja agência ele emprega; e isso também ele testificou pelo símbolo externo, quando soprou sobre os apóstolos; pois isso não seria aplicável se o Espírito não procedesse dele. Cristo não só comunica a seus discípulos o Espírito que ele mesmo recebera, porém outorga o que é propriamente seu, como o Espírito que ele tinha em comum com o Pai.

Deve-se lembrar que, aqueles a quem Cristo chama para o ofício pastoral ele igualmente adorna com os dons necessários para que sejam qualificados para o desempenho de seu oficio, ou, pelo menos, não venha a ser algo vazio e impreciso. E se isso é verdade, não há dificuldade alguma em refutar a tola vanglória dos falsos pastores e mestres que, enquanto empregam termos sublimes de louvor em enaltecimento de sua posição, não podem demonstrar uma única fagulha do Espirito Santo. Querem que creiamos que são os legítimos pastores da Igreja, e igualmente que são os apóstolos de Cristo, embora seja evidente que são totalmente destituídos da graça do Espírito Santo. Um critério infalível é aqui determinado para julgar a vocação dos que governam a Igreja de Deus; e esse critério é se percebemos que de fato têm recebido o Espírito Santo.

Entretanto, o que Cristo primordialmente pretendia com isso era sustentar a dignidade da posição dos apóstolos; pois era sem sentido que aqueles que tinham sido escolhidos para serem os primeiros e os mais eminentes arautos do evangelho possuíssem autoridade incomum. Mas se Cristo, naquele tempo, outorgou o Espírito aos apóstolos através do sopro, pode-se concluir que era supérfluo enviar o Espírito Santo mais tarde. Minha resposta é que o Espírito foi dado aos apóstolos nesta ocasião de uma maneira tal que só foram aspergidos por sua graça, porém não foram cheios com a plenitude de poder, pois quando o Espírito apareceu sobre eles em línguas de fogo [At 2.3], eles foram totalmente renovados. E de fato ele não os designou para serem os arautos do seu evangelho, ao ponto de enviá-los imediatamente à obra, mas lhes ordenou que repousassem, como lemos em outro lugar: Permanecei na cidade de Jerusalém até que do alto sejais revestidos de poder [Lc 24.49]. E se levarmos tudo devidamente em consideração, concluiremos não que ele lhes mune com os dons necessários para o presente uso, mas que os designa para que fossem os órgãos de seu Espírito para o futuro; e por isso esse sopro deve ser entendido como uma referência principalmente àquele magnificente ato de enviar o Espírito, o qual tinha com frequência prometido.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 19 de junho de 2025

“NÃO TEMAS, FILHA DE SIÃO”


“NÃO TEMAS, FILHA DE SIÃO”

“E Jesus, tendo conseguido um jumentinho, montou-o, segundo está escrito: Não temas, filha de Sião, eis que o teu Rei aí vem, montado em um filho de jumenta” (Jo 12.14,15).

Nestas palavras do profeta Zacarias, como citadas pelo evangelista João, devemos observar, em primeiro lugar, que nunca a tranquilidade é restaurada em nossas mentes, ou o temor e tremor banidos dela, exceto quando temos consciência de que Cristo reina entre nós. As palavras do profeta, assim, são diferentes; pois ele exorta os crentes a cultivarem entusiasmo e regozijo. Aqui, porém, o Evangelista descreve a maneira como nossos corações exultam com verdadeiro júbilo. Isso se dá quando é removido aquele temor com o qual todos nós seríamos atormentados até que, estando reconciliados com Deus, obtenhamos aquela paz que emana da fé [Rm 5.1]. Este benefício, pois, vem a nós através de Cristo, que, esmaga o jugo do pecado, cancela a culpa e abole a morte, libertando-nos da tirania de Satanás. Livremente, nos gloriamos, confiando na proteção de nosso Rei, já que aqueles que são postos sob sua guarda não devem temer perigo algum. Não que vivamos isentos de temor, ao longo de toda a nossa vida terrena, mas porque a confiança, fundada em Cristo, se ergue superior a tudo mais. Ainda que Cristo estivesse a uma imensa distância, contudo o profeta exortou os piedosos daquele tempo a que nutrissem entusiasmo e regozijo, porque Cristo haveria de vir. “Eis que”, disse ele, “teu Rei aí vem; portanto, não temas”. Agora que ele já veio, a fim de que nos regozijemos em sua presença, devemos lutar mais vigorosamente contra o temor, para que, livres de nosso inimigo, pacificamente e com intenso júbilo honremos ao nosso Rei.

Filha de Sião. O profeta se dirigiu a Sião em seu próprio tempo, porque ela era a habitação e morada da Igreja. Agora, Deus arrebanhou para si uma Igreja do mundo inteiro, mas esta promessa é peculiarmente dirigida aos crentes que se submetem a Cristo, para que reinem neles. Ao descrever Cristo como “a cavalgar um jumento”, significa que seu reino em nada será comum, com a pompa, esplendor, riqueza e poder do mundo e era oportuno que isto se tornasse conhecido mediante uma manifestação externa, para que todos se assegurassem plenamente de que isto [o reino] é espiritual.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quarta-feira, 18 de junho de 2025

“BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR”


“BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR”

“No dia seguinte, a numerosa multidão que viera à festa, tendo ouvido que Jesus estava de caminho para Jerusalém, tomou ramos de palmeiras e saiu ao seu encontro, clamando: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor e que é Rei de Israel! “ (Jo 12.12,13).

Antes de tudo devemos entender o que está implícito nesta frase: vir em nome do Senhor. Aquele que não se apresenta temerariamente nem falsamente assume a honra, mas, sendo devidamente chamado, tem a diretriz e autoridade de Deus para suas ações, vem em nome de Deus. Este título pertence a todos os verdadeiros servos de Deus. Um profeta que, guiado pelo Espírito Santo, honestamente entrega aos homens a doutrina que recebera do céu, vem em nome de Deus. Um rei, por cuja mão Deus governa seu povo, vem no mesmo nome. Mas como o Espírito do Senhor repousou sobre Cristo, ele é a Cabeça de todas as coisas [Ef 1.22], e todos quantos ele tem ordenado governar sobre a igreja estão sujeitos à sua autoridade, ou melhor, são mananciais a fluírem dele como a Fonte, ele, com razão, afirma que vieram em nome de Deus. Tampouco é apenas pela suma posição de sua autoridade que ele excede aos demais, mas porque Deus se nos manifesta plenamente nele, pois nele habita corporalmente a plenitude da Deidade, no dizer de Paulo [Cl 2.9]; ele é a imagem viva de Deus [Hb 1.3]; e, em suma, é o verdadeiro Emanuel [Mt 1.23]. Portanto, é por um direito especial que se diz que ele veio em nome do Senhor, porque por meio dele Deus se manifestou plenamente, e não parcialmente, como fizera previamente por meio dos profetas. Devemos, pois, começar com ele como a Cabeça, quando desejamos abençoar os servos de Deus.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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segunda-feira, 16 de junho de 2025

“DEUS AMA AO QUE DÁ COM ALEGRIA”


“DEUS AMA AO QUE DÁ COM ALEGRIA”

“Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria” (2Co 9.7).

Tendo-lhe ordenado a dar liberalmente, agora o apóstolo Paulo lança luz no fato de que Deus julga liberalmente, não com base na quantidade dada, mas com base no motivo. Naturalmente que Paulo gostaria que os coríntios dessem uma ampla quantidade, de tal maneira que os irmãos fossem socorridos o mais ricamente possível, porém não pretendia extorquir deles nada que fosse contra a sua vontade. Por isso ele lhes diz que dessem liberalmente, tanto quanto sentissem que deviam. Paulo contrataste o propósito do coração com má vontade e por necessidade. Quando agimos sob a compulsão da necessidade, não agimos em consonância com o propósito de nosso coração, e, sim, com relutância. A necessidade aqui referida é aquela conhecida como necessidade extrínseca, aquela necessidade que é imposta de fora. Naturalmente que obedecemos a Deus porque é necessário, todavia o fazemos de coração. Pois neste caso a necessidade nos é imposta por nós mesmos, movidos por nosso próprio arbítrio; e posto que a nossa carne é relutante, às vezes envidamos um grande esforço para nos compelir à realização do dever necessário. Mas quando somos compelidos externamente a fazer algo que de bom grado evitaríamos, se pudéssemos; então o fazemos, não zelosa ou alegremente, mas com relutância e com o consentimento forçado.

Porque Deus ama ao que dá com alegria. O apóstolo Paulo nos traz de volta a Deus, porque, como disse no início, a oferta é um sacrifício, e tão-somente um sacrifício voluntário pode agradar a Deus. Pois quando diz que Deus ama ao doador contente, ele deduz o contrário, ou seja: que Deus rejeita o constrangimento e a coerção. Não é sua vontade dominar-nos como tirano; ele se nos revela como Pai, portanto requer de nós a espontânea obediência de filhos.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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