“POR CAUSA DOS FARISEUS, NÃO O CONFESSAVAM”
“Contudo, muitos
dentre as próprias autoridades creram nele, mas, por causa dos fariseus, não o
confessavam, para não serem expulsos da sinagoga” (Jo 12.42).
Pode-se imaginar
que o Evangelista João fala incorretamente, ao separar a fé da confissão; pois
é com o coração que cremos para a justiça, e é com a boca que fazemos confissão
para a salvação [Rm 10.10), e é impossível que a fé, que uma vez tenha sido
acesa no coração, não arroje suas chamas. Minha resposta é que ele realça aqui
quão fraca era a fé dos que eram tão mornos, ou melhor, frios. Em suma, João
tem em vista que abraçaram a doutrina de Cristo, porque bem sabiam que ela
provinha de Deus, mas que não possuíam uma fé vívida, ou uma fé tão vigorosa
como deveriam ter; pois Cristo não concede aos seus seguidores um espírito de medo, e sim de firmeza, para que ousada e destemidamente confessem o que
têm aprendido dele. Entretanto, não creio que ficaram em total silêncio, mas como
sua confissão não era suficientemente
pública, o Evangelista, em minha opinião, simplesmente declara que não faziam
uma confissão de sua fé, pois o tipo próprio de confissão era a declaração
pública de que eram discípulos de Cristo. Que ninguém, pois, se gabe, se em
algum aspecto oculta ou dissimula sua fé por medo de incorrer no ódio dos
homens; porque, por mais odioso que seja o Nome de Cristo, aquela covardia que
nos impele a nos esquivarmos, um mínimo sequer, da confissão dele, não admite
escusa.
Deve-se observar
ainda que os líderes (principais) têm
menos rigor e firmeza, porque a ambição quase sempre reina neles, a qual é a
mais escravizadora de todas as disposições e, para expressá-lo numa só palavra,
pode-se dizer que as honras terrenas são cadeias de ouro que prendem um homem
para que o mesmo não consiga cumprir seu dever com liberdade. Por esta conta,
as pessoas que são postas numa condição inferior e humilde devem suportar sua
sorte com maior paciência, porquanto estão, ao menos, isentas de muitas redes
nocivas. Não obstante, os grandes e nobres devem lutar contra sua elevada
posição para que esta não os embarace de se submeterem a Cristo. João afirma
que eles tinham medo dos fariseus,
não que os demais escribas e sacerdotes permitissem livremente que algum homem
se denominasse discípulo de Cristo, mas porque, sob a semelhança de zelo,
cruelmente ardiam no íntimo com mais intensa ferocidade. O zelo, na defesa da
religião, é uma excelente virtude, mas se adicionar-lhe a hipocrisia, não pode haver
praga mais danosa. Tanto mais solícitos devemos ser em rogar ao Senhor que nos
guie pela regra inerrante de seu Espírito.
Para não serem expulsos da sinagoga. Isto era o que os impelia ao medo da desgraça; pois teriam
sido expulsos da sinagoga. Daí vemos
quão grande é a perversidade dos homens, a qual não só corrompe e avilta a melhor
das ordenanças de Deus, mas as convertem em destrutiva tirania. A excomunhão
deveria ter sido o tendão da santa disciplina, para que a punição fosse prontamente
infligida, se alguma pessoa menosprezasse a Igreja. Mas os problemas atingiram
um ponto tal, que todo aquele que confessasse pertencer a Cristo era banido da sociedade dos crentes.
Deus nos
abençoe!
João
Calvino (1509-1564).
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