“SACIÁ-LO-EI COM LONGEVIDADE”
“Saciá-lo-ei com
longevidade e lhe mostrarei a minha salvação” (Sl 91.16).
Pode parecer
estranho que longevidade seja mencionada no último versículo como a
eles prometida, visto que muitos dentre o povo do Senhor são cedo arrebatados
do mundo. Mas eu poderia reiterar uma observação que já foi feita em outros
lugares, a saber, que aquelas bênçãos divinas que estão prometidas em relação
ao presente mundo perecível, não devem ser consideradas como bons feitos num
sentido universal e absoluto, ou cumpridas em total concordância com uma regra
estabelecida e igual. Riquezas e outros confortos mundanos devem ser vistos
como que propiciando alguma experiência do favor e benevolência divinos, mas
não se deduz daí que os pobres sejam objetos do desprazer divino; ter um corpo
saudável e boa saúde são bênçãos de Deus, porém não devemos conceber que isso
constitua prova de que a fraqueza e a enfermidade devam ser consideradas com
desaprovação. Longa vida deve ser classificada entre os benefícios desse
gênero, e seriam concedidos por Deus a todos seus filhos não fosse para seu
benefício serem eles levados tão cedo deste mundo. Eles se satisfazem mais com
um curto período durante o qual vivem melhor que os ímpios, ainda que sua vida
se estenda por mil anos. A expressão não pode aplicar-se aos ímpios, de que
estão satisfeitos com longevidade, pois por mais longa seja sua vida, a sede de
seus desejos continua a ser inextinguível. É a vida, e nada mais, que eles
esbanjam com tal ansiedade; tampouco se pode dizer ter eles um desfruto
momentâneo daquele favor e bondade divinos que só podem comunicar a real satisfação.
O salmista poderia, pois, com propriedade declarar, como um privilégio
pertencente peculiarmente ao povo do Senhor, que vivem satisfeitos com a vida.
A trajetória breve que lhes é designada é reconhecida por eles como sendo
sobejamente suficiente. Além disso, longevidade não se deve jamais comparar com
eternidade. A salvação divina se estende para além das estreitas fronteiras da
existência terrena; e se vivermos ou morrermos, é para isso que devemos
primordialmente olhar. É com essa visão que o salmista, depois de declarar
todos os demais benefícios que Deus concede, acrescenta esta como uma frase
final que, quando ele os tiver seguido com sua paternal bondade por toda sua
vida, por fim lhes mostrará sua salvação.
Deus nos
abençoe!
João
Calvino (1509-1564).
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