“E DISSE-LHES: RECEBEI O ESPÍRITO SANTO”
“Disse-lhes,
pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também
vos envio. E, havendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o
Espírito Santo” (Jo 20.21,22).
Nenhum dos filhos
dos homens é qualificado para desempenhar um ofício tão difícil, e por isso
Cristo prepara os apóstolos para o mesmo pela graça de seu Espírito. E de fato
governar a Igreja de Deus, levar a embaixada da salvação eterna, erigir o reino
de Deus na terra e elevar seres humanos até o céu é uma tarefa que está além da
capacidade humana. Portanto, não devemos ficar surpresos se jamais se achou um
homem qualificado, se o mesmo não for equipado pelo Espírito Santo; pois
ninguém pode falar sequer uma palavra concernente a Cristo, a menos que o
Espírito guie sua língua [1Co 12.3); o fato é que não existe ninguém que seja
competente para desempenhar fiel e honestamente todos os deveres de tão
excelente ofício. Além do mais, é tão-somente a glória de Cristo que forma
aqueles a quem ele designa para serem mestres de sua igreja; pois a razão pela
qual a plenitude do Espírito foi derramada sobre ele é para que pudesse outorgá-la
a cada um segundo determinada medida.
Recebei o Espírito Santo. Ainda que
continue sendo o Pastor de sua Igreja, Cristo necessariamente deve demonstrar o
poder de seu Espírito nos ministros cuja agência ele emprega; e isso também ele
testificou pelo símbolo externo, quando soprou
sobre os apóstolos; pois isso não seria aplicável se o Espírito não procedesse
dele. Cristo não só comunica a seus discípulos o Espírito que ele mesmo recebera, porém outorga o que é propriamente
seu, como o Espírito que ele tinha em comum com o Pai.
Deve-se lembrar
que, aqueles a quem Cristo chama para o ofício pastoral ele igualmente adorna
com os dons necessários para que sejam qualificados para o desempenho de seu
oficio, ou, pelo menos, não venha a ser algo vazio e impreciso. E se isso é
verdade, não há dificuldade alguma em refutar a tola vanglória dos falsos pastores
e mestres que, enquanto empregam termos sublimes de louvor em enaltecimento de
sua posição, não podem demonstrar uma única fagulha do Espirito Santo. Querem
que creiamos que são os legítimos pastores da Igreja, e igualmente que são os
apóstolos de Cristo, embora seja evidente que são totalmente destituídos da
graça do Espírito Santo. Um critério infalível é aqui determinado para julgar a
vocação dos que governam a Igreja de Deus; e esse critério é se percebemos que de
fato têm recebido o Espírito Santo.
Entretanto, o
que Cristo primordialmente pretendia com isso era sustentar a dignidade da posição
dos apóstolos; pois era sem sentido que aqueles que tinham sido escolhidos para
serem os primeiros e os mais eminentes arautos do evangelho possuíssem
autoridade incomum. Mas se Cristo, naquele tempo, outorgou o Espírito aos
apóstolos através do sopro, pode-se
concluir que era supérfluo enviar o Espírito Santo mais tarde. Minha resposta é
que o Espírito foi dado aos apóstolos nesta ocasião de uma maneira tal que só
foram aspergidos por sua graça, porém não foram cheios com a plenitude de poder,
pois quando o Espírito apareceu sobre eles em línguas de fogo [At 2.3], eles foram totalmente renovados. E de
fato ele não os designou para serem os arautos do seu evangelho, ao ponto de
enviá-los imediatamente à obra, mas lhes ordenou que repousassem, como lemos em
outro lugar: Permanecei na cidade de
Jerusalém até que do alto sejais revestidos de poder [Lc 24.49]. E se
levarmos tudo devidamente em consideração, concluiremos não que ele lhes mune
com os dons necessários para o presente uso, mas que os designa para que fossem
os órgãos de seu Espírito para o futuro; e por isso esse sopro deve ser entendido como uma referência principalmente àquele
magnificente ato de enviar o Espírito, o qual tinha com frequência prometido.
Deus nos
abençoe!
João
Calvino (1509-1564).
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