“NÃO ANDO À PROCURA DE GRANDES COISAS”
“SENHOR,
não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar; não ando à procura de
grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim” (Sl 131.1).
Ao negar que andava em ou era familiarizado com grandes coisas, devemos supor que Davi se referia à disposição ou à atitude de sua alma. Pois manter, como ele o fez, o ofício de profeta, ser investido de dignidade real, não mencionando as outras distinções com que ele foi honrado acima dos homens comuns, eram coisas grandes demais. Mas a expressão era apropriada, visto que ele se confinava estritamente ao objetivo único de servir a Deus e à Igreja. Se alguém ainda se vê inclinado a enfatizar indevidamente a palavra aqui empregada, maravilhosas demais para mim, no final do versículo, deve ser considerada como que conectada com o que Davi disse sobre as grandes coisas, bem como sobre as coisas veladas ou ocultadas, para que leiamos: não tenho andado em grandes coisas que estão acima de mim. A questão não é se a posição de Davi era pequena ou exaltada. Bastava que ele fosse cuidadoso em não ultrapassar os limites próprios de sua vocação. Ele não pensava em si mesmo com liberdade para dar sequer um passo, se não fosse chamado por Deus a fazer isso.
A submissão de
Davi nessas questões é contrastada com a presunção dos que, sem qualquer
autorização de Deus, correm a empreendimentos desautorizados e se envolvem em
deveres que pertencem propriamente a outros; pois, sempre que tivermos uma
visão clara do chamado divino, não podemos dizer que as coisas estão veladas ou
ocultadas de nós ou que são grandes demais para nós; contanto que estejamos
prontos para toda obediência. Em contrapartida, os que se rendem à influência
da ambição, logo se perderão num labirinto de perplexidade. Vemos como Deus
confunde a soberba e os projetos orgulhosos dos filhos deste mundo. Correm todo
o curso de sua carreira selvagem, reviram a terra de ponta cabeça, a seu
bel-prazer, e estendem sua mão em todas as direções; são cheios de complacência
na ponderação de seus próprios talentos e aptidões; e, num momento, quando
todos seus planos já foram plenamente formulados, são inteiramente subvertidos,
porque não há neles nenhuma firmeza. Há duas formas diferentes assumidas pela
presunção daqueles que não querem ser humildes seguidores de Deus, mas precisam
ter suas necessidades colocadas diante dEle. Alguns avançam com precipitação
imprudente e parecem como se quisessem edificar até ao céu; outros não exibem
tão publicamente a excesso de seus desejos, são mais lentos em seus movimentos
e ponderam cautelosamente o futuro. No entanto, a presunção destes resulta do
mesmo fato: com total inadvertência em relação a Deus, como se o céu e a terra
lhes estivessem sujeitos, promulgam seu decreto quanto ao que eles farão num
futuro. Estes edificam, por assim dizer, no mar profundo. Mas a sua obra nunca
virá à superfície, por mais extensa que seja a duração de suas vidas. Enquanto
isso, os que se submetem a Deus, como Davi, mantendo-se em sua própria esfera,
moderados em seus desejos, desfrutarão uma vida de tranquilidade e segurança.
Deus nos
abençoe!
João
Calvino (1509-1564).
*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

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