“FAZE RESPLANDECER O TEU ROSTO SOBRE O TEU SERVO”
“Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua
misericórdia” (Sl 31.16).
Faze
resplandecer o teu rosto sobre o teu servo. Esta forma de expressão é tomada da
preocupação comum dos homens, os quais acreditam que Deus não lhes tem nenhuma
consideração, a menos que demonstre visível cuidado por eles através de seus
efeitos. De conformidade com o critério da razão, as aflições ocultam seu
semblante, assim como as nuvens obscurecem o brilho do sol. Davi, pois, suplica
a Deus que, ao dar-lhe imediata assistência, fizesse-lhe evidente que ele
desfrutava de sua graça e favor, o que de forma alguma é fácil de discernir em
meio às trevas das aflições. Ora, diz-se que Deus levanta sobre nós a luz de
seu rosto de duas maneiras: ou quando ele abre seus olhos e assume o comando de
nossos afazeres, ou quando ele nos mostra seu favor. Estes dois elementos são
deveras inseparáveis, ou, melhor, um depende do outro. Mas, pelo primeiro modo
de expressar-se, nós, segundo nossas concepções carnais, atribuímos a Deus uma
mutabilidade que, propriamente falando, não lhe pertence. Enquanto que a segunda
forma de expressar-se indica que nossos próprios olhos, e não os olhos de Deus,
estão fechados ou ofuscados quando parece não levar ele em conta nossas aflições.
Pelo termo, salva-me, Davi explica o que quis
dizer com a primeira expressão; mas como naquele tempo não houve qualquer
aparente segurança para ele, então se anima a esperar por ela, pondo diante de
seus olhos a misericórdia de Deus.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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