“NAS TUAS MÃOS, ESTÃO OS MEUS DIAS”
“Nas tuas mãos, estão os meus dias; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores” (Sl 31.15).
Para
que Davi pudesse mais jubilosamente confiar a preservação de sua pessoa a Deus,
ele nos assegura que, confiando em sua guarda divina, não se preocupava com
aqueles eventos casuais e imprevisíveis que comumente apavoram os homens. A
significação de sua linguagem é: Senhor, tua é a prerrogativa, e somente teu é
o poder de dispor tanto de minha vida quanto de minha morte. Tampouco usa ele o
plural, em minha opinião, sem razão plausível; antes, ele destaca a variedade
de casualidades pelas quais a vida de uma pessoa é geralmente molestada. É uma
exposição insípida restringir a frase, meus dias, ao tempo em que ele
vivesse, como se Davi quisesse dizer não mais que estando seu tempo ou seus
dias terrenos na mão de Deus. Ao contrário, minha opinião é que, enquanto
meditava nas diversas revoluções e nos multiformes perigos que casualmente
pendem sobre nós, e nos multiformes eventos imprevistos que de tempo em tempo
sucedem, ele, não obstante, confiadamente repousava na providência de Deus, a
qual ele cria ser, segundo o dito popular, o árbitro tanto da boa quanto da má sorte. Na primeira cláusula vemos que ele não só denomina Deus de o
governante do mundo em geral, mas também afirma que sua vida está em sua mão; e
não só isso, mas que, quaisquer que fossem as agitações a que estivesse
sujeito, e quaisquer que fossem as tribulações e vicissitudes que lhe
sobreviessem, ele estaria seguro debaixo da proteção divina. Nisto está
fundamentada sua oração, a saber: Deus o preservará e me livrará da mão de meus
inimigos.
Deus nos
abençoe!
João Calvino
(1509-1564).
Nenhum comentário:
Postar um comentário