“NÃO FOI COM ENGANO, NEM COM IMUNDÍCIA, NEM COM FRAUDULÊNCIA”
“Porque a
nossa exortação não foi com engano, nem com imundícia, nem com fraudulência; mas,
como fomos aprovados de Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim
falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos
corações” (1Ts 2.3,4).
O apóstolo confirma,
através de outro argumento, os tessalonicenses na fé que haviam abraçado –
porquanto haviam sido fiel e puramente instruídos na palavra do Senhor, pois
ele mantém que a sua doutrina estava isenta de todo o engano e impureza. E, com
vistas a deixar esta questão fora de dúvida, ele invoca o testemunho da
consciência deles. Os três termos de que faz uso podem, ao que parece, ser
distinguidos da seguinte maneira: engano pode se referir à essência da
doutrina, imundícia às afeições do coração, fraudulência ao modo
de agir. Portanto, em primeiro lugar, ele afirma que eles não haviam sido
enganados ou iludidos com falácias, quando abraçaram o tipo de doutrina que
lhes havia sido entregue por ele. Em segundo lugar, declara sua integridade,
porquanto não havia se achegado a eles por influência de qualquer desejo
impuro, mas atuou exclusivamente através de uma disposição honesta. Em terceiro
lugar, diz que não havia feito nada fraudulenta ou maliciosamente, mas, pelo
contrário, havia manifestado uma simplicidade conveniente a um ministro de
Cristo. Como estas coisas eram bem conhecidas aos tessalonicenses, eles tinham
um fundamento suficientemente firme para a sua fé.
Paulo dá um
passo além, pois apela a Deus como o Autor do seu apostolado, e raciocina da
seguinte maneira: “Deus, quando me designou para este ofício, deu testemunho de
mim como um servo fiel; não há razão, portanto, para que os homens tenham
dúvidas quanto à minha fidelidade, a qual sabem ter sido aprovada por Deus”.
Contudo, ele não se gloria em ter sido aprovado, como se o fosse por si
mesmo; pois não disputa aqui a respeito do que possuía por natureza, nem coloca
a sua própria força em colisão com a graça de Deus, mas simplesmente afirma que
o Evangelho lhe havia sido confiado como a um servo fiel e aprovado.
Neste texto como em Gálatas 1.10, Paulo, admiravelmente,
contrasta agradar aos homens e agradar a Deus como coisas que se
opõem entre si. Ademais, quando diz: Deus, que prova os nossos corações, ele
sugere que aqueles que se esforçam por obter o favor dos homens não são
influenciados por uma consciência honesta, e não fazem nada de coração.
Saibamos, portanto, que os verdadeiros ministros do evangelho devem ter por
alvo devotar os seus esforços a Deus, e fazer isto de coração; não por qualquer
consideração exterior pelo mundo, e sim porque a consciência lhes diz que isto
é correto e apropriado. Assim se assegurará que eles não terão por alvo agradar
aos homens, ou seja, que eles não agirão sob influência da ambição, tendo
em vista o favor dos homens.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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