“NÃO SEJA EU ENVERGONHADO”
“Não seja eu envergonhado, SENHOR, pois te invoquei; envergonhados sejam
os perversos, emudecidos na morte” (Sl 31.17).
Não seja eu envergonhado, SENHOR. Com estas palavras,
Davi dá seguimento à sua oração, e para fortalecer suas esperanças ele se
contrasta com seus inimigos; pois teria sido mais que absurdo permitir aos que,
com sua intensa perversidade, provocavam a ira de Deus escapassem com
impunidade, e aquele que era inocente e descansava em Deus fosse desapontado e
se tornasse alvo de zombaria. Consequentemente, aqui percebemos qual a implicação
da comparação que o salmista faz. Além do mais, em vez de falar de sua esperança
ou confiança, ele agora fala de sua invocação a Deus, dizendo: pois te invoquei.
E faz isso por boas razões, pois aquele que confia na providência divina deve fugir
para Deus com orações e forte clamor. Que eles sejan emudecidos na morte, subentende quando ela sobrevém aos ímpios, restringindo-os e impedindo-os de
darem curso às suas injúrias. Este emudecer se opõe tanto às suas maquinações
enganosas e traiçoeiras quanto aos seus insolentes insultos. No próximo versículo,
pois, ele adiciona: Que os lábios mentirosos emudeçam, o quê, em minha opinião,
inclui tanto suas astúcias quanto as falsas pretensões e calúnias pelas quais
diligenciavam em concretizar seus desígnios, bem como a vã ostentação a quê se
entregavam. Pois ele nos diz que falam coisas injuriosas [ou graves] contra o justo,
com soberba e escárnio. Porque o conceito intransigente deles, o qual quase sempre
gera desdém, era o que fazia que esses inimigos de Davi fossem tão ousados em
mentir. Quem quer que soberbamente arrogue para si mais do que lhe é devido,
quase que necessariamente tratará os outros com desdém.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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