"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



sábado, 23 de setembro de 2023

“A EXCELÊNCIA DO AMOR” - Conclusão


A EXCELÊNCIA DO AMOR” - Conclusão

“O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” (1Co 13.8,13).

O amor jamais acaba. Outra das marcantes características do amor é que ele dura para sempre. Uma qualidade como esta, que jamais terá fim, é certamente digna de ser obtida com muito esforço. O amor, portanto, deve ser preferido antes de todos os dons temporários e perecíveis. As profecias passam; as línguas cessam; o conhecimento chega ao fim. Portanto, o amor se acha tão mais acima de todos eles, justamente porque sobrevive depois que todos hajam cessado de existir.

O maior destes é o amor. Convencer-nos-emos de que isto é assim se avaliarmos sua excelência pelos seus efeitos, como já foi bem detalhado pelo apóstolo Paulo, e se igualmente levarmos em consideração a sua eternidade. Cada um extrai bênção pessoal de sua própria fé e esperança, ao passo que o amor é derramado para o bem de outrem. A fé e a esperança são os acompanhantes de nosso estado imperfeito, porém o amor persistirá mesmo nas condições de perfeição.

Pois se examinarmos os frutos da fé, um a um, e os comparamos, descobriremos que a fé superior em muitos aspectos. Sim, até mesmo o amor propriamente dito, segundo o testemunho do próprio Paulo (1Ts 1.3), é um produto da fé; e o efeito é sem dúvida inferior à sua causa. Além disso, um notável tributo é pago à fé, o que não se aplica no caso do amor, quando João (1Jo 5.4) diz que a fé é a nossa vitória que vence o mundo. Finalmente, é pela fé que nascemos de novo, nos tornamos filhos de Deus, obtemos a vida eterna e Cristo habita em nós. Deixo de mencionar outras incontáveis bênçãos, porém os poucos exemplos serão suficientes para trazer a lume o que quero dizer quando afirmo que a fé é superior ao amor em muitos de seus efeitos. É evidente do texto que o amor é maior, não em todos os aspectos, mas porque ele durará eternamente, e no momento exerce um papel primário em conservar a Igreja em existência.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

“A EXCELÊNCIA DO AMOR” - Parte III


“A EXCELÊNCIA DO AMOR” - Parte III

“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1Co 13.7).

O apóstolo Paulo, então, nos leva a descobrir quão excelente é o amor, ao mostrar os seus efeitos ou os seus frutos. Entretanto, estas descrições não propõem simplesmente torná-lo atrativo, mas levar os coríntios a entenderem a forma como ele se expressa em ação e em sua natureza.

O amor tudo sofre. O que Paulo pretende com todas as descrições deste versículo é que o amor não é impaciente nem malicioso. Pois é da essência da tolerância sofrer e suportar tudo, enquanto que a essência da sinceridade e espírito humanitário é crer e esperar tudo. Somos natural e demasiadamente devotados a nós mesmos, e tal erro nos faz irritadiços e queixosos. O resultado é que passamos a desejar que outros levem nossos fardos, enquanto que, ao mesmo tempo, recusamos, de alguma forma, a dar-lhes assistência. O amor é o antídoto que cura esse tipo de enfermidade, pois ele nos faz servos de nossos irmãos e nos ensina a carregar seus fardos em nossos próprios ombros.

Ao referir-se a “tudo”, devemos concluir que tal ideia consiste em tudo quanto temos de suportar, e de forma correta. Pois não somos edificados através dos maus hábitos, quer por ostentosa aprovação deles por meio de conversação lisonjeira, quer emprestando-lhes apoio através de nossa conivência demonstrada em nossa indiferença em relação a eles. Além disso, essa tolerância não significa desistência de medidas disciplinares e punições que sejam porventura merecidas.

O amor tudo crê. Não significa que o cristão consciente e intencionalmente permita ser enganado; não que ele se dispa da sabedoria e discernimento com o fim de deixar que as pessoas o tripudiem mais facilmente. Então, o que é? O que Paulo está pedindo, aqui, é que haja sinceridade e altruísmo na formulação de juízos; e aqui, ele afirma que estas virtudes vão sempre acompanhadas com o amor. O que isto significará na prática é que o cristão será melhor percebido através de sua própria bondade e altruísmo do que provocando humilhação a seu irmão pela desconfiança infundada.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“A EXCELÊNCIA DO AMOR” - Parte II


“A EXCELÊNCIA DO AMOR” - Parte II

“O amor não se comporta inconvenientemente, não busca seus interesses, não se sente provocado, não suspeita do mal; não se regozija com a injustiça, mas se alegra com a verdade” (1Co 13.5,6).

O apóstolo Paulo, então, nos leva a descobrir quão excelente é o amor, ao mostrar os seus efeitos ou os seus frutos. Entretanto, estas descrições não propõem simplesmente torná-lo atrativo, mas levar os coríntios a entenderem a forma como ele se expressa em ação e em sua natureza.

Não se comporta inconvenientemente. O amor não se deleita com fútil ostentação nem provoca grande espalhafato, mas sempre age de forma moderada e elegante. E assim Paulo uma vez mais se vê censurando os coríntios de maneira indireta, pois se portavam tão indecentemente e com tanto orgulho, que não revelavam qualquer escrúpulo em ignorar toda e qualquer cortesia.

Não busca seus interesses. Disto pode-se deduzir que o amor não é algo inato em nós, pois todos nós somos portadores de uma natural tendência de amar e de cuidar de nós mesmos, buscando só o que nos interessa. O amor é o único antídoto que cura essa tendência tão pervertida, pois ele nos faz ignorar nossas próprias circunstâncias e preocupar-nos realmente com a sorte de nosso próximo, amando e cuidando dele. Além disso, “buscar as próprias coisas de alguém” é viver devotadamente para ele e sentir-se completamente feliz em ajudá-lo a cuidar do interesse dele. A questão se é lícito que o cristão se preocupe com seu próprio bem-estar é solucionada por esta definição. Porque Paulo não pretende que deixemos de preocupar-nos e de cuidar de nossos próprios negócios; senão que condena o excessivo cuidado e ansiedade pelos mesmos, o que nasce do amor excessivamente cego por nós mesmos. Mas tal excesso consiste em negligenciarmos os outros e pensarmos demais em nós mesmos, ou vivermos tão concentrados em nossos interesses que nos abstraímos da consideração que Deus nos manda ter para com o nosso próximo.

O apóstolo Paulo acrescenta que o amor é também um freio que impede as disputas, pois aquele que é cortês e tolerante não explode em ira repentina e nem se lança precipitadamente em controvérsias e contendas.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quarta-feira, 20 de setembro de 2023

“A EXCELÊNCIA DO AMOR” - Parte I


“A EXCELÊNCIA DO AMOR” - Parte I

“O amor é paciente, é bondoso; o amor não inveja, não se vangloria” (1 Co 13.4).

O apóstolo Paulo, então, nos leva a descobrir quão excelente é o amor, ao mostrar os seus efeitos ou os seus frutos. Entretanto, estas descrições não propõem simplesmente torná-lo atrativo, mas levar os coríntios a entenderem a forma como ele se expressa em ação e em sua natureza. Mas o objetivo primordial é mostrar quão necessário é na preservação da unidade da Igreja. E não tenho dúvida de que Paulo pretendia repreender os coríntios de forma indireta, confrontando-os com uma situação completamente diversa daquela propriamente deles, para que pudessem aperceber-se de seus próprios erros ao contrastarem-se com o que viam.

A primeira descrição do amor é que ele, ao suportar pacientemente muitas coisas, fortalece a paz e a harmonia da Igreja. A segunda qualidade do amor é bem semelhante, ou seja, bondade e respeito. A terceira qualidade consiste em que ele corrige a emulação, a qual se constitui na causa originária de todas as disputas. Ele inclui inveja que causa emulação, porquanto se assemelha muito a ela; ou, antes, ele tem em mente a espécie de emulação que se associa à inveja e frequentemente se origina dela. Segue-se que onde a inveja mantém influência, onde cada um é ávido por destaque pessoal, pelo menos na aparência, o amor não pode prosperar.

O amor não age insolentemente, não é obstinado, arrogante motivado pela autoconfiança. Paulo, pois, está a reivindicar para o amor uma influência moderada, e mostra que ele é um freio para manter o homem sob controle e impedi-lo de se prorromper em atos desaforados, de modo a viver junto [com outros] de maneira tranquila e ordeira. Finalmente, ele acrescenta que o amor é algo estranho ao orgulho que, em sua presunção, olha para os outros com ar desdenhoso. 

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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terça-feira, 19 de setembro de 2023

“MINISTROS ATRAVÉS DE QUEM CRESTES”


“MINISTROS ATRAVÉS DE QUEM CRESTES”

“Quem é Apolo? E quem é Paulo? Ministros através de quem crestes; e conforme o Senhor deu a cada um” (1 Co 3.5).

O apóstolo Paulo, agora, passa a discutir o ponto de vista que deve ser mantido sobre os ministros, e o propósito para o qual foram ordenados pelo Senhor. Porém, nomeia a si mesmo e a Apolo antes dos outros com o fim de evitar que fossem acusados de ciúme. “Que outro é o trabalho dos ministros”, pergunta ele, “senão o de conduzir-vos à fé por meio de sua pregação?” De tal fato Paulo conclui que não deve haver ostentação em homem algum, porque a fé não admite glorificação senão exclusivamente em Cristo. Segue-se que aqueles que exaltam excessivamente a homens, os privam de sua genuína grandeza. Pois a coisa mais importante de todas é que eles são ministros da fé, ou seja, conquistam seguidores, sim, mas não para eles mesmos, e, sim, para Cristo. Porém, ainda que pareça que ele, ao se comportar assim, está a subtrair a autoridade dos ministros, na verdade não lhes está a conferir menos que o devido. Pois ele lhes confere uma grande honra ao dizer que obtemos nossa fé por intermédio de seu ministério. Contudo, o selo da aprovação é clarissimamente posto na eficácia do doutrinamento através de outros, quando ele é chamado o instrumento do Espírito Santo; e os pastores não estão sendo honrados com nenhuma atribuição ordinária quando Deus diz que sejam usados como ministros para a ministração dos incomparáveis tesouros da fé.

Esta redação que tenho adotado - Ministros através de quem crestes; e conforme o Senhor deu a cada um” - está, em minha opinião, mais próxima da verdade. Se a seguirmos, a frase será mais rica, porque consistirá de duas cláusulas, como seguem: Em primeiro lugar, ministros são aqueles que colocam seus serviços à disposição de Cristo, para que alguém possa crer nEle. Além do mais, eles não possuem nada propriamente seu do quê se orgulhar, visto que também não realizam nada propriamente seu, e não possuem virtude para excelência alguma exceto pelo dom de Deus, e cada um segundo a sua própria medida; o que revela que tudo quanto um indivíduo venha a possuir, sua fonte se acha em outrem. Finalmente, ele os mantém todos juntos como por um vínculo comum, visto que tinham necessidade do auxílio mútuo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“O HOMEM ESPIRITUAL JULGA TODAS AS COISAS”


“O HOMEM ESPIRITUAL JULGA TODAS AS COISAS”

“Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém” (1Co 2.15).

Tendo o apóstolo Paulo anulado a capacidade do homem natural de julgar as coisas do Espírito, ele agora ensina que só os espirituais são juízes capazes desta matéria; porque só o Espírito de Deus conhece a si mesmo, e é sua função pessoal separar suas próprias coisas das dos outros; para aprovar o que é propriamente seu e despir tudo o mais de qualquer probidade. Portanto, o significado é o seguinte: “Nesta conexão, não existe lugar para o discernimento da carne! É tão-somente o homem espiritual que possui esse conhecimento, firme e saudável, dos mistérios de Deus; é ele quem de fato distingue verdade e falsidade; o ensino de Deus das invenções humanas; e os seus equívocos são diminutos”. Em contrapartida, “ninguém o julga”, porque a certeza de fé não se acha sob o controle humano, como se pudesse ser reduzida a ruínas a seu bel-prazer, quando, de fato, é ela superior aos próprios anjos. Note-se que essa prerrogativa é atribuída não ao homem pessoalmente, mas à Palavra de Deus, a qual usa os espirituais como guias quando estão julgando, e a qual, naturalmente, lhes é elucidada por Deus, para que possam entender. Quando isto se dá, a convicção do homem se faz inabalável, porque ela está acima das ambiguidades do juízo humano.

Ademais, observe-se a palavra julgar. O que o apóstolo quer significar com ela é só que somos iluminados pelo Espírito para recebermos a verdade, mas que somos igualmente equipados com o espírito de discernimento a fim de não vivermos suspensos pela dúvida entre a verdade e a falsidade, mas para sermos capazes de decidir o que devemos evitar o que devemos seguir.

Neste ponto, porém, podemos formular a seguinte pergunta: quem é este homem espiritual, e onde havemos de encontrá-lo munido de tanta luz que se torna capaz de a tudo julgar, quando estamos bem conscientes do fato de que estamos cercados por um grande contingente de ignorância, e sujeitos ao risco de cairmos em erros, e, o que é ainda mais sério, quando ainda o mais excelente dos homens repentinamente fracassa? A resposta é fácil: Paulo não faz esta capacidade aplicável a todos, como se ele isentasse a todos os que são renovados pelo Espírito de Deus de todo o gênero de erro; mas simplesmente deseja ensinar que a inteligência humana é inútil para avaliar os ensinos da religião, e que a prerrogativa de julgar, segundo este critério, pertence exclusivamente ao Espírito de Deus. Portanto, um homem só julga corretamente e com segurança pelo prisma de seu novo nascimento e segundo a medida da graça a ele concedida - e não mais!

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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domingo, 17 de setembro de 2023

“SE ALGUÉM QUER SER CONTENCIOSO”


“SE ALGUÉM QUER SER CONTENCIOSO”

“Contudo, se alguém quer ser contencioso, saiba que nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus” (1Co 11.16).

Amante de contendas é aquele que se deleita em fomentar disputas, e de modo algum revela alguma consideração pelo espaço da verdade. Incluídos nesta categoria estão todos os que destroem o bem e os costumes benéficos, sem qualquer necessidade de o assim fazerem; que suscitam controvérsias sobre questões que são tão claras como o sol ao meio-dia; que não param para pensar; que não podem tolerar alguém melhor que eles. Nessa classe de pessoas estão incluídos também os anti-sociais que acariciam um estranho ponto de vista que os leva a um inusitado modo de vida. O apóstolo Paulo não crê que tais pessoas mereçam alguma resposta, porque a contenção é algo danoso, e por isso deve ser mantida fora das igrejas. É por isso que o apóstolo nos ensina que os que são obstinados e amantes de controvérsia devem ser reprimidos com autoridade, em vez de serem submetidos a longos debates e assim provem que laboram em erro. Pois se você quiser satisfazer o contencioso, de que é melhor que ele, as disputas nunca chegarão ao fim; porque, ainda que seja refutado cem vezes, ele continuará argumentando cada vez mais atrevidamente.

Portanto, prestemos muita atenção a este versículo a fim de não sermos arrebatados por argumentos fúteis. Entretanto, temos sempre diante de nós o dispositivo que nos faz saber distinguir as pessoas contenciosas. Pois aquele que não concorda com as nossas opiniões, ou tem suficiente coragem de se nos opor, não significa que deve ser tido na conta de contencioso. Mas quando ele nos olha de frente, com insistência e obstinácia, então afirmemos com Paulo que “as contenções não devem ser conservadas nos costumes da Igreja”.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sexta-feira, 15 de setembro de 2023

“CHAMADOS PARA SER SANTOS”


“CHAMADOS PARA SER SANTOS”

“À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (1Co 1.2,3).

Chamados para ser santos - devemos considerar como significando: “Assim fostes chamados para a santidade”. Mas isso pode ser considerado de duas formas. Primeiro, podemos entender Paulo como a dizer que a causa da santificação é o chamado divino, porque Deus mesmo nos escolhera; em outras palavras, depende de sua graça, e não da excelência do homem. O significado alternativo é o seguinte: é compatível com a nossa profissão [de fé] que sejamos santos, porque este é o propósito do ensino do evangelho. Ainda que o primeiro significado pareça adequar-se melhor ao contexto, faz pouca diferença de que forma você o considere, quando ambos os significados estão em estreita harmonia um com o outro, pois a nossa santidade emana da fonte da eleição divina, e é também o alvo da nossa vocação.

Portanto, devemos sustentar que somos justos, de forma alguma com base em nossos próprios esforços, mas, sim, com base na vocação divina; porque é exclusivamente ele quem santifica os que por natureza eram impuros. E creio que, mui provavelmente, quando Paulo aponta, como se o fizesse com seu dedo, para a livre fonte de santidade, é para subir os degraus mais altos, ou seja, para o gracioso propósito de Deus mesmo, por meio do qual Cristo também se nos revelou. Além disso, assim como somos chamados por meio do evangelho para a vida irrepreensível, ela deve, pois tornar-se uma realidade em nós, de tal modo que o nosso chamado venha a ser eficaz.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“AOS SANTIFICADOS EM CRISTO JESUS”


“AOS SANTIFICADOS EM CRISTO JESUS”

“À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso: graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo” (1Co 1.2,3).

Aqui, Paulo lhes traz à lembrança as bênçãos que Deus lhes concedera, como se os estivesse reprovando porque, na prática, nem sempre se mostravam agradecidos. O que pode ser mais descortês do que rejeitar um apóstolo, por cujo ministério haviam sido separados como propriedade particular de Deus?

O apóstolo mostra, contudo, pelo uso destes qualificativos, que eles estão incluídos entre os verdadeiros membros da Igreja, e que legitimamente pertencem à sua comunhão. Pois se o leitor não revelar-se de fato um cristão, mediante a santidade de vida, então é certo que não estará qualificado a buscar refúgio na Igreja, e de forma alguma será um de seus membros. Portanto, todos quantos desejam ser reconciliados entre o povo de Deus devem santificar-se em Cristo. Ademais, a palavra “santificação” denota separação. Isto se dá conosco quando, pela ação do Espírito, renascemos para novidade de vida, para servirmos, não ao mundo, mas a Deus. Porque, visto que, por natureza somos impuros, o Espírito nos separa para Deus. Isto realmente acontece quando somos enxertados no corpo de Cristo, fora do qual só há corrupção, e visto que o Espírito nos é dado somente em Cristo, e fora dele não existe nenhuma outra fonte, Paulo corretamente nos diz que somos santificados em Cristo, quando através dele, aderimos a Deus e nele somos feitos “novas criaturas” (2Co 5.17).

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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segunda-feira, 11 de setembro de 2023

“PARA NÃO SERMOS CONDENADOS COM O MUNDO”


“PARA NÃO SERMOS CONDENADOS COM O MUNDO”

“Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo” (1 Co 11.32).

Aqui temos profunda necessidade de conforto. Pois se alguém, que se acha em dificuldade, crê que é porque Deus está irado contra ele, seu quebrantamento é suficiente para movê-lo à penitência. O apóstolo Paulo, pois, diz que, quando Deus mostra sua ira aos crentes, ele o faz de tal forma que, ao mesmo tempo, deixa claro que não esquece sua misericórdia; e ainda mais que isto, ele diz que quando Deus nos pune é devido à sua particular preocupação por nossa salvação. Constitui-se num conforto inestimável o fato de que as punições, por meio das quais nossos pecados são corrigidos, são prova, não da ira divina visando à nossa destruição, mas, antes, de seu amor paternal; e que, ao mesmo tempo, elas nos ajudam a restabelecer nossa salvação, pois Deus se ira contra nós como seus filhos, a quem ele não quer que pereçam.

Ao dizer: “para não sermos condenados com o mundo”, Paulo tem em mente duas coisas. A primeira é que quando os filhos deste mundo vivem felizes e sem dificuldades, embalados por seus próprios prazeres, estão sendo engordados como suínos para o dia da matança. Pois ainda que o Senhor, às vezes, convoca também os ímpios ao arrependimento, usando neles seu azorrague, todavia às vezes os toma por estranhos e lhes permite que desçam seus declives desenfreadamente, até que encham até à plenitude a medida de sua condenação final. O privilégio de ser chamado de volta dos limites da destruição, através das punições, pertence, pois, somente aos crentes.

A segunda coisa que ele pretende é que as punições [divinas] são remédios dos quais os crentes necessitam, pois, do contrário, eles seriam também impelidos em direção à perdição eterna, se porventura não fossem impedidos pelas punições temporais.

Esses pensamentos nos ajudam não só a sermos pacientes a fim de suportarmos calmamente as aflições impostas por Deus, mas também para aprendermos a gratidão; de modo que, dando graças a Deus nosso Pai, submetamo-nos à sua disciplina em obediência voluntária. Há muitos outros meios pelos quais esses pensamentos podem ser-nos de muita utilidade, a saber: transformam nossas punições em algo saudável para nós, desde que nos ensinem a mortificação da carne e a humildade diante de Deus; nos fazem habituados a obedecer a Deus; nos convencem de nossas próprias fraquezas; lançam chamas em nossos corações com solicitude pela oração; nos fazem esperançosos de que realizaremos uma grande obra; de modo que, seja longa ou breve, toda severidade que possa haver nestes pensamentos, é tudo absorvido pela alegria espiritual.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“SE NOS JULGÁSSEMOS A NÓS MESMOS”


“SE NOS JULGÁSSEMOS A NÓS MESMOS”

“Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” (1 Co 11.31).

Eis aqui uma notável afirmação, ou seja: que Deus não fica irado conosco repentinamente, punindo-nos tão logo erramos, mas, na maioria das vezes, é em razão de nossa negligência que ele se vê forçado a punir-nos, ou seja, quando nota que estamos despreocupados e apáticos, ludibriando-nos a nós mesmos em relação aos nossos pecados. Por isso, desviaremos de nós ou mitigaremos os castigos que nos ameaçam, se antes de tudo fizermos um balanço de nós mesmos e, sinceramente arrependidos, desviarmos a ira de Deus por meio de orações sinceramente a ele dirigidas, inflingindo-nos punições, de nosso próprio arbítrio. Numa palavra, os crentes, evitam o juízo divino por meio de penitência [arrependimento ativo]; e o único antídoto pelo qual podem obter absolvição aos olhos de Deus é através da autocondenação espontânea.

Entretanto, você não deve deduzir (como geralmente o fazem os falsos mestres) que há uma espécie de transação entre nós e Deus, nesta conexão, de modo que, ao infligirmos punição a nós mesmos, de nossa própria iniciativa, fazemos compensação a ele, e em certo sentido nos redimimos a nós mesmos debaixo de sua mão. Portanto, não desviamos o juízo de Deus antecipadamente só porque trazemos algo de natureza compensatória, que o possa apaziguar. A razão é que quando Deus nos pune, a sua intenção é sacudir-nos de nossa letargia e incitar-nos à penitência. Se procedermos assim, de nosso próprio arbítrio, então não existe mais razão para ele prosseguir exercendo seu juízo contra nós. Porém, se alguém que já aprendeu a viver insatisfeito consigo mesmo e a praticar penitência se vê ainda, não obstante, perseguido pelo azorrague divino, devemos deduzir disso que seu arrependimento não é tão completo e tão forte que se exima da necessidade de alguma reprovação a ajudá-lo a desenvolvê-la ainda mais. Note-se como o arrependimento estanca o juízo divino como um antídoto eficaz, mas não como algo que o substitua.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 7 de setembro de 2023

“SABEDORIA, JUSTIÇA, SANTIFICAÇÃO, E REDENÇÃO”


“SABEDORIA, JUSTIÇA, SANTIFICAÇÃO, E REDENÇÃO”

“Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1Co 1.30,31).

Visto que há muitos que, quando não querem afastar-se deliberadamente de Deus, buscam, contudo, algo fora de Cristo, como se ele só não possuísse em si mesmo todas as coisas, Paulo nos diz, de passagem, que quão grandes são os tesouros com os quais Cristo está munido, e, ao assim proceder, procura descrever, ao mesmo tempo, o nosso modo de existência em Cristo. Pois quando o apóstolo chama Cristo nossa justiça, o oposto deve ser entendido a nosso respeito, ou seja, que em nós não há outra coisa senão pecado; e assim se dá com os demais termos nesta oração. Pois aqui ele atribui a Cristo quatro títulos que somam toda a sua perfeição e todos os benefícios que nos advêm dele [Cristo].

Primeiro. Paulo afirma que Cristo foi feito nossa sabedoria. Por isso ele quer dizer que alcançamos a plenitude da sabedoria em Cristo, porque o Pai se revelou plenamente nele para conosco, de modo que não podemos desejar saber coisa alguma fora dele (Cl 2.3).

Segundo. Paulo afirma que Cristo foi feito nossa justiça. Por isso ele quer dizer que em seu Nome fomos aceitos por Deus, porque ele fez expiação por nossos pecados por meio de sua morte, e sua obediência nos é imputada para justiça. Porque, visto que a justiça da fé consiste na remissão de pecados e na graciosa aceitação, nós obtemos ambas através de Cristo.

Terceiro. Paulo o chama nossa santificação. Por isto ele quer dizer que nós, que por natureza somos imundos, nascemos de novo pela ação do Espírito, para a santidade, para que tenhamos condições de servir a Deus. Disto deduzimos também que não podemos ser previamente justificados pela instrumentalidade da fé somente, se concomitantemente não vivermos em santidade. Porquanto, esses dons da graça vão juntos como que atados por uma laço indestrutível, de modo que, se alguém tenta separá-los, em certo sentido está fragmentando Cristo. Consequentemente, que aqueles que almejam ser justificados pela graciosa benemerência divina, através de Cristo, reconhecem que tal coisa não pode absolutamente ser concretizada, a menos que, concomitantemente, se apegue a ele para a santificação; em outras palavras, ele deve nascer de novo através da instrumentalidade do Espírito, para a irrepreensibilidade e pureza de vida.

Quarto. Paulo ensina que Cristo nos foi dado para a redenção. Com isto ele quer dizer que somos libertados, por sua graciosa benemerência, de toda a escravidão do pecado, e de toda a miséria que flui dele. Assim a redenção é o primeiro dom de Cristo a ter início em nós, e o último a ser consumado ou completado. Pois a salvação começa quando somos desembaraçados do labirinto do pecado e da morte. Nesse ínterim, contudo, suspiramos pelo dia da final ressurreição, ansiando pela redenção, como é posto em Romanos 8.23.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quarta-feira, 6 de setembro de 2023

“AQUELE QUE SE GLORIA, GLORIE-SE NO SENHOR”


“AQUELE QUE SE GLORIA, GLORIE-SE NO SENHOR”

“... para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1Co 1.31).

Note-se o propósito de Deus em nos dar generosamente tudo em Cristo. É que não podemos reivindicar nada para nós mesmos, senão reconhecer que ele nos dá tudo. Porque Deus não nos despe e nos deixa nus, senão que nos veste de glória simultaneamente, embora com esta única condição: que sempre que desejamos gloriar-nos, devemos desviar-nos de nós mesmos. Sumariando, o homem, reduzido à nulidade a seus próprios olhos, sabendo que a bondade existe só em Deus, e em nenhum outro, e tendo desistido energicamente de sua própria glória, está não apenas disposto, mas também aspira com todas as forças de seu ser promover tão somente a glória de Deus. E isto se faz ainda mais evidente do contato da passagem do profeta de quem o apóstolo Paulo tomou este texto por empréstimo. Pois ali o Senhor, depois de negar a todos os homens o direito de vangloriar-se na força, na sabedoria e na riqueza, ordena-lhes a gloriarem-se somente no conhecimento dele [Deus] (Jr 9.23,24). Mas ele deseja ser conhecido de tal maneira que saibamos que é ele quem age com retidão, justiça e misericórdia. Pois este conhecimento produz em nós tanto confiança como temor a ele. Portanto, o indivíduo que realmente se gloria em Deus é aquele que adquiriu uma tal atitude mental que para si mesmo não reivindica nada exceto o desejo de exaltar unicamente a Deus; aquele que se satisfaz com sua graça; que encontra toda a sua felicidade em seu amor paternal; que, em síntese, se sente feliz somente em Deus. Digo “realmente se gloria”, visto que os hipócritas também se gloriam nele, porém de maneira errônea (como Paulo afirma em Romanos 2.17), quando ensoberbecidos com seus dons, ou presumidos em sua ímpia confiança na carne, ou mercadejando sua Palavra, contudo usam seu Nome como proteção para si mesmos.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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