“SABEDORIA, JUSTIÇA, SANTIFICAÇÃO, E REDENÇÃO”
“Mas vós sois
dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e
justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se
gloria, glorie-se no Senhor” (1Co 1.30,31).
Visto que há
muitos que, quando não querem afastar-se deliberadamente de Deus, buscam,
contudo, algo fora de Cristo, como se ele só não possuísse em si mesmo todas as
coisas, Paulo nos diz, de passagem, que quão grandes são os tesouros
com os quais Cristo está munido, e, ao assim proceder, procura descrever, ao
mesmo tempo, o nosso modo de existência em Cristo. Pois quando o apóstolo chama Cristo
nossa justiça, o oposto deve ser
entendido a nosso respeito, ou seja, que em nós não há outra coisa senão pecado;
e assim se dá com os demais termos nesta oração. Pois aqui ele atribui a Cristo
quatro títulos que somam toda a sua perfeição e todos os benefícios que nos advêm
dele [Cristo].
Primeiro. Paulo afirma que
Cristo foi feito nossa sabedoria. Por
isso ele quer dizer que alcançamos a plenitude da sabedoria em Cristo, porque o
Pai se revelou plenamente nele para conosco, de modo que não podemos desejar
saber coisa alguma fora dele (Cl 2.3).
Segundo. Paulo afirma que Cristo
foi feito nossa justiça. Por isso ele
quer dizer que em seu Nome fomos aceitos por Deus, porque ele fez expiação por
nossos pecados por meio de sua morte, e sua obediência nos é imputada para
justiça. Porque, visto que a justiça da fé consiste na remissão de pecados e na
graciosa aceitação, nós obtemos ambas através de Cristo.
Terceiro. Paulo o chama nossa santificação. Por isto ele quer dizer
que nós, que por natureza somos imundos, nascemos de novo pela ação do
Espírito, para a santidade, para que tenhamos condições de servir a Deus. Disto
deduzimos também que não podemos ser previamente justificados pela
instrumentalidade da fé somente, se concomitantemente não vivermos em santidade.
Porquanto, esses dons da graça vão juntos como que atados por uma laço indestrutível,
de modo que, se alguém tenta separá-los, em certo sentido está fragmentando
Cristo. Consequentemente, que aqueles que almejam ser justificados pela
graciosa benemerência divina, através de Cristo, reconhecem que tal coisa não
pode absolutamente ser concretizada, a menos que, concomitantemente, se apegue
a ele para a santificação; em outras palavras, ele deve nascer de novo através
da instrumentalidade do Espírito, para a irrepreensibilidade e pureza de vida.
Quarto. Paulo ensina que Cristo nos
foi dado para a redenção. Com isto
ele quer dizer que somos libertados, por sua graciosa benemerência, de toda a
escravidão do pecado, e de toda a miséria que flui dele. Assim a redenção é o primeiro
dom de Cristo a ter início em nós, e o último a ser consumado ou completado.
Pois a salvação começa quando somos desembaraçados do labirinto do pecado e da
morte. Nesse ínterim, contudo, suspiramos pelo dia da final ressurreição,
ansiando pela redenção, como é posto em Romanos 8.23.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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