“Mas, quando
julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o
mundo” (1 Co 11.32).
Aqui temos
profunda necessidade de conforto. Pois se alguém, que se acha em dificuldade,
crê que é porque Deus está irado contra ele, seu quebrantamento é suficiente para
movê-lo à penitência. O apóstolo Paulo, pois, diz que, quando Deus mostra sua
ira aos crentes, ele o faz de tal forma que, ao mesmo tempo, deixa claro que
não esquece sua misericórdia; e ainda mais que isto, ele diz que quando Deus
nos pune é devido à sua particular preocupação por nossa salvação. Constitui-se
num conforto inestimável o fato de que as punições, por meio das quais nossos
pecados são corrigidos, são prova, não da ira divina visando à nossa
destruição, mas, antes, de seu amor paternal; e que, ao mesmo tempo, elas nos
ajudam a restabelecer nossa salvação, pois Deus se ira contra nós como seus
filhos, a quem ele não quer que pereçam.
Ao dizer: “para não sermos condenados com o mundo”,
Paulo tem em mente duas coisas. A primeira é que quando os filhos deste mundo
vivem felizes e sem dificuldades, embalados por seus próprios prazeres, estão sendo
engordados como suínos para o dia da matança. Pois ainda que o Senhor, às
vezes, convoca também os ímpios ao arrependimento, usando neles seu azorrague,
todavia às vezes os toma por estranhos e lhes permite que desçam seus declives
desenfreadamente, até que encham até à plenitude a medida de sua condenação
final. O privilégio de ser chamado de volta dos limites da destruição, através
das punições, pertence, pois, somente aos crentes.
A segunda
coisa que ele pretende é que as punições [divinas] são remédios dos quais os
crentes necessitam, pois, do contrário, eles seriam também impelidos em direção
à perdição eterna, se porventura não fossem impedidos pelas punições temporais.
Esses
pensamentos nos ajudam não só a sermos pacientes a fim de suportarmos
calmamente as aflições impostas por Deus, mas também para aprendermos a
gratidão; de modo que, dando graças a Deus nosso Pai, submetamo-nos à sua
disciplina em obediência voluntária. Há muitos outros meios pelos quais esses
pensamentos podem ser-nos de muita utilidade, a saber: transformam nossas punições
em algo saudável para nós, desde que nos ensinem a mortificação da carne e a
humildade diante de Deus; nos fazem habituados a obedecer a Deus; nos convencem
de nossas próprias fraquezas; lançam chamas em nossos corações com solicitude
pela oração; nos fazem esperançosos de que realizaremos uma grande obra; de modo
que, seja longa ou breve, toda severidade que possa haver nestes pensamentos, é
tudo absorvido pela alegria espiritual.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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