"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



quinta-feira, 30 de novembro de 2023

“PARA AGUARDARDES DOS CÉUS O SEU FILHO”

“PARA AGUARDARDES DOS CÉUS O SEU FILHO”

“E para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (1Ts 1.10).

A doutrina do evangelho visa a nos induzir a servir e obedecer a Deus. Ninguém é propriamente convertido a Deus, senão o homem que aprendeu a colocar-se totalmente em sujeição a ele. Contudo, como isto é algo simplesmente mais do que difícil, em tão grande corrupção da nossa natureza, ao mesmo tempo o apóstolo Paulo revela o que é que nos retém e nos confirma no temor a Deus e na obediência a ele – aguardar dos céus a Cristo. Pois, a menos que sejamos despertados para a esperança da vida eterna, o mundo rapidamente nos atrairá a si. Pois, assim como é apenas a confiança na bondade divina que nos induz a servir a Deus, do mesmo modo é apenas a expectativa da redenção final que nos impede de recuarmos. Portanto, que todos os que desejam perseverar em um curso de vida santa apliquem toda a sua mente à expectativa da vinda de Cristo. Pois, certamente, sem Cristo estamos arruinados e entregues ao desespero, mas, quando Cristo se revela, a vida resplandece para nós. Tenhamos em mente, porém, que isto é dito exclusivamente aos crentes, pois, quanto aos ímpios, assim como ele virá para ser seu Juiz, do mesmo modo eles só podem tremer ao esperá-lo. É isto que Paulo acrescenta na sequência – que Cristo nos livra da ira vindoura. Pois isto não é sentido senão por aqueles que, estando reconciliados com Deus pela fé, já têm a consciência apaziguada; do contrário, seu nome é terrível. É verdade que Cristo nos livrou pela sua morte da ira de Deus, mas a importância desse livramento se tornará visível no último dia. No entanto, esta afirmação consiste de duas seções. A primeira é que a ira de Deus e a destruição eterna são iminentes à raça humana, porquanto todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23). A segunda é que não existe meio de escape senão através da graça de Cristo; pois não é sem bons motivos que Paulo lhe atribui este ofício. Contudo, é um dom inestimável que os que são piedosos, sempre que é feita menção ao juízo, saibam que Cristo virá para eles como um Redentor.

Além disso, o apóstolo afirma enfaticamente: a ira vindoura, para despertar as mentes piedosas, para que não fracassem ao considerar a vida presente. Pois, assim como a fé é a convicção de fatos que se não veem (Hb 11.1), nada é menos adequado do que estimarmos a ira de Deus de acordo com o que cada um é afligido no mundo; assim como nada é mais absurdo do que nos apegarmos às bênçãos transitórias de que desfrutamos, para que por elas tenhamos uma estimativa do favor de Deus. Portanto, enquanto, por um lado, os ímpios se divertem à vontade, e nós, por outro, definhamos em miséria, aprendamos a temer a vingança de Deus, que está oculta aos olhos da carne.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

“VIVO OU MORTO?” parte III


“VIVO OU MORTO?” parte III

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef. 2.1).

Deixe-me dizer, em terceiro lugar, como uma alma morta pode ser vivificada espiritualmente.

Que uma coisa fique bem clara: não conseguimos efetuar essa mudança gigantesca por nós mesmos. Não depende de nós. Não temos força ou poder para tanto. Podemos mudar nossos pecados, mas não podemos mudas os nossos corações. Podemos assumir um novo caminho, mas não uma nova natureza. Podemos fazer reformas e alterações consideráveis. Podemos deixar de lado muitos maus hábitos e começar a assumir deveres externos diversos, mas não podemos criar um novo princípio dentro de nós. Não podemos fazer algo a partir do nada. O etíope não pode mudar a sua pele, nem o leopardo as suas manchas, e nem nós podemos dar vida às nossas próprias almas (Jr 13.23).

Outra coisa que fique igualmente clara: nenhum homem poderá fazer isso por nós. Pastores podem pregar, orar por nós, receber-nos no batismo, admitir-nos à mesa da comunhão, oferecer-nos o pão e o vinho. Mas não podem outorgar vida espiritual. Podem pôr ordem em lugar de desordem, decência exterior em lugar de pecado franco, mas não podem atingir abaixo da superfície. Não podem alcançar nossos corações. Paulo pode plantar, Apolo regar, mas só Deus pode dar os frutos (1Co 3.6).

Quem, então, pode tornar viva uma alma morta? Ninguém a não ser Deus. Só aquele que do nada formou o mundo no dia da criação pode fazer de alguém uma nova criatura. Só quem formou o homem do pó da terra, dando vida ao seu corpo, poderá dar vida à sua alma. É ofício especial de Deus fazer isso, pelo seu Espírito, e só Ele tem poder para realizar tal coisa.

O Evangelho glorioso faz provisão para isso. O Senhor Jesus é um Salvador completo. A Cabeça viva e poderosa não tem membros mortos. Seu povo não é apenas justificado e perdoado, mas também vivificado juntamente com Ele, tornando-se participante de sua ressurreição. O Espírito une o pecador a Ele, e por essa união ergue-o da morte para a vida. Nele o pecador vive depois que creu. A fonte de toda essa vitalidade é a união de Cristo com a alma, iniciada e mantida pelo Espírito. Cristo é a fonte única de toda vida espiritual, e o Espírito Santo é o agente que transmite essa vida às nossas almas.

Deus nos abençoe!

J.C.Ryle (1816-1900).

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“VIVO OU MORTO?” parte II


“VIVO OU MORTO?” parte II

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef. 2.1).

Em segundo lugar, permita-me dizer que todo homem precisa ser vivificado para tornar-se espiritualmente ressurreto.

A vida é a mais poderosa das possessões. Da morte para vida é a maior das transformações. E nenhuma transformação menor do que essa terá valor para capacitar a alma do homem para o céu.

O que se requer não é um conserto ou uma alteração, uma pequena limpeza e purificação, um pouco de pintura e remendo, uma folha nova no caderno da vida. É a entrada de algo totalmente novo, o semear em nós de uma mova natureza, de um novo ser, de um novo princípio, de uma nova mente; só isso, e nada menos que isso, poderá vir de encontro às necessidades da alma do homem. Não precisamos apenas de pele nova, precisamos de um coração novo.

Cortar um bloco de mármore e esculpir dele uma nobre estátua, derreter uma barra de ferro e forjá-la em molas de relógio - essas são mudanças imensas. Contudo, nada são em comparação com a mudança que um filho de Adão requer, pois são meramente o mesmo material sob nova forma. O homem precisa de uma transformação tão grande quanto a ressurreição dos mortos; precisa tornar-se nova criatura. As coisas antigas terão que passar, e tudo terá que ser novo. Precisa nascer de novo - nascer do alto, nascer de Deus. O nascimento natural não é mais necessário à vida do corpo do que o nascimento espiritual é necessário à vida da alma (2Co 5.17; Jo 3.3).

A mais rude folha de capim que cresce no campo, é um objeto mais nobre do que a mais linda flor de cera formada por um artista, por haver naquela algo que a ciência do homem não tem a capacidade de doar: a vida. A mais esplêndida estátua de mármore da Grécia ou Itália nada vale em comparação com a criança pobre e doente que engatinha pelo chão de um casebre, pois, com toda a sua beleza, a estátua é morta.

Você que já passou da morte para a vida, tem razão para ser grato! Lembre-se do que você era outrora, por natureza. Pense no que agora é pela graça de Deus. Veja os ossos secos que saíram dos túmulos. Você era assim; quem fez a diferença? Deus! Humilhe-se diante do estrado dos seus pés. Louve-O por sua livre graça. Diga-lhe com frequência: “Por que eu, Senhor? Por que foste misericordioso comigo?

Deus nos abençoe!

J.C.Ryle (1816-1900).

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“VIVO OU MORTO?” parte I


“VIVO OU MORTO?” parte I

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2.1).

Esta questão merece muita consideração. Examine seu próprio coração e não deixe de lado esta leitura sem fazer uma auto-avaliação. Você está entre os vivos ou entre os mortos?

Primeiro, permita-me dizer que por natureza, todos estamos espiritualmente mortos.

“Morto” é palavra bem forte, mas não foi minha invenção e nem é termo que eu escolhi. O Espírito Santo ensinou a Paulo para que ele escrevesse, referindo-se aos efésios: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2.1). O Senhor Jesus Cristo empregou esta palavra na parábola do filho pródigo: “porque este meu filho estava morto e reviveu” (Lc 15.24-32). Você encontrará também em 1 Timóteo 5.6: “A que se entrega aos prazeres, mesmo viva, está morta”. Deve o homem saber mais do que está escrito? Não deve cuidar em falar o que a Bíblia diz, nem mais e nem menos do que isso?

Estar “morto” é uma ideia terrível, que o homem não deseja receber. Não gosta de admitir a extensão do mal que aflige sua alma; ele fecha os olhos à verdadeira gravidade do perigo. Muitas pessoas estão prontas para admitir que naturalmente a maioria das pessoas “não é bem o que deveria ser, é egoísta, instável, não tem a devida seriedade”. Mas, mortos? Ah, não! Não devemos mencionar isto. É exagero dizer uma coisa dessas.

O que nos importa não é o que nos agrada na religião. A grande questão é: O que está escrito? O que diz o Senhor? Os pensamentos de Deus não são os pensamentos dos homens, e as palavras de Deus não são as palavras dos homens. Deus diz que toda pessoa viva que não é cristã genuína, seja ela importante ou humilde, rica ou pobre, velha ou jovem - que ela está espiritualmente morta. Não há nada mais correto, mais fiel e verdadeiro do que o que Deus diz.

Quando um homem tem o coração frio e desinteressado pela religião, quando suas mãos jamais se empregam na obra de Deus, quando seus pés desconhecem os caminhos de Deus, quando sua língua quase nunca é usada para o louvor ou para a oração, quando seus ouvidos são surdos à voz de Cristo no Evangelho e seus olhos cegos à beleza do Reino dos Céus, quando sua mente está repleta das coisas do mundo e não há lugar para coisas espirituais - quando encontramos essas marcas num homem, a palavra certa que o descreve é “morto”.

Deus nos abençoe!

J.C.Ryle (1816-1900).

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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

“A FIGUEIRA MURCHA” - parte do segundo e terceiro ponto

“A FIGUEIRA MURCHA” - parte do segundo e terceiro ponto

“Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve fome; e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente. Vendo isto os discípulos, admiraram-se e exclamaram: Como secou depressa a figueira!” (Mt 21.17-20).

II. Já é hora de nos lembrarmos da verdade solene do nosso segundo ponto: Essas pessoas serão inspecionadas pelo Rei Jesus.

Ele Se aproximará delas, e quando chegar a elas, procurará fruto. Ele perscruta totalmente o nosso caráter, para ver se há alguma fé genuína, algum amor verdadeiro, alguma esperança viva, algum gozo que seja fruto do Espírito Santo, alguma paciência, alguma abnegação, algum fervor na oração, algum andar com Deus, alguma habitação do Espírito Santo; e se Ele não vir tais coisas, não ficará satisfeito com a frequência à igreja, às reuniões de oração, às santas ceias, às leituras bíblicas, aos sermões, porquanto todas essas coisas podem não passar de folhagem. Se nosso Senhor não vir em nós o fruto do Espírito, não ficará satisfeito conosco, e Sua inspeção levará a medidas severas. Notem que o que Jesus está procurando não são suas palavras, suas resoluções, suas alegações, mas sua sinceridade, sua fé interior, suas pessoas sendo realmente trabalhadas pelo Espírito de Deus para produzirem frutos dignos do Seu reino. Nosso Senhor tem o direito de esperar fruto quando Ele vem procurá-lo. Como cristãos, confessamos que somos redimidos dentre os homens, e que fomos libertos desta geração perversa. Cristo talvez não espere fruto provindo dos homens que reconhecem o mundo e suas épocas mutáveis como sua orientação suprema; mas certamente pode esperar fruto daquele que crê na Sua própria Palavra.

III. Agora, em terceiro lugar, pela ajuda do Espírito de Deus, quero considerar a verdade de que o resultado da vinda de Cristo será muito terrível para quem fez uma profissão precoce - porém infrutífera.

Onde poderia ter esperado achar fruto, aquele que procurou não achou nada senão folhas. Nada senão folhas significa nada senão mentiras. Seria essa uma expressão severa? Se eu professo a fé, sem a possuir, não se trata de uma mentira? Se eu professo o arrependimento, sem ter-me arrependido, não se trata de uma mentira? Se eu me reúno com o povo do Deus vivo, sem ter o temor a Deus no meu coração, não se trata de uma mentira? Se eu venho à mesa da comunhão, e participo do pão e do vinho, porém nunca discirno o corpo do Senhor, não se trata de uma mentira? Se eu professo que defendo as doutrinas da graça, mas não tenho a certeza da veracidade delas, não se trata de uma mentira? Se nunca senti minha própria depravação, se nunca fui chamado de modo eficaz, se nunca conheci minha eleição por Deus, se nunca descansei no sangue remidor, e se nunca fui renovado pelo Espírito, minha defesa das doutrinas da graça não seria uma mentira? Se não há nada senão folhas, não há nada senão mentiras, e o Salvador percebe que a situação é assim.

Deus nos abençoe!

C.H.Spurgeon (1834-1892).

*Parte do segundo e terceiro ponto do sermão “A Figueira Murcha”, por C.H.Spurgeon em 29/09/1889.

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“A FIGUEIRA MURCHA” - Introdução e parte do primeiro ponto


“A FIGUEIRA MURCHA” - Introdução e parte do primeiro ponto

“Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve fome; e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente. Vendo isto os discípulos, admiraram-se e exclamaram: Como secou depressa a figueira!” (Mt 21.17-20).

Que grande lição para as igrejas! Tem havido igrejas nas quais se destacaram os números e a influência, contudo a fé, o amor e a santidade não foram mantidos, e o Espírito Santo as deixou à exibição vã de uma profissão infrutífera; e ali ficam aquelas igrejas com o tronco da organização e com os galhos amplamente estendidos, mas estão mortas, e ano após ano tornam-se cada vez mais decadentes. Irmãos, temos nesta hora igrejas desse tipo entre os protestantes evangélicos. Que nunca seja assim com esta igreja! Podemos ter um bom número de pessoas que vem para ouvir a Palavra, e um grupo considerável de homens e mulheres que professam estar convertidos; mas a não ser que a piedade vital esteja em seu meio, o que são as congregações e as igrejas? Podemos ter um ministério de valor, mas o que ele seria sem o Espírito de Deus? Podemos ter grandes ofertas, e muitos esforços exteriores, mas o que valem sem o espírito da oração, o espírito da fé, o espírito da graça e da consagração? Eu ficaria apavorado se um dia nós chegássemos a ser como uma árvore precoce, ostentando uma profissão superlativa, mas sem valor aos olhos do Senhor, por estar ausente a vida secreta da piedade e da união vital com Cristo. Seria melhor o machado derrubar todo vestígio da árvore, do que deixá-la em pé sob o céu como uma mentira aberta, uma zombaria, uma ilusão.

I. Em primeiro lugar, então, há no mundo casos de profissão promissora, porém infrutífera. 

Os casos aos quais nos referimos não são tão raros assim. As pessoas envolvidas neles superam, em muito, tantas outras. Sua promessa é bem audível, e seu exterior é muito impressionante. Parecem árvores frutíferas; esperamos delas muitas cestadas dos melhores figos. Elas nos impressionam com a sua conversa, nos deixam assoberbados com os seus modos. Invejamos a elas, e açoitamos a nós mesmos. Essa última atitude talvez não nos faça mal; mas invejar hipócritas não pode deixar de ser danoso a longo prazo; isto porque quando for descoberta a hipocrisia delas, tenderemos a desprezar a religião, como também os que fingem ser religiosos. Acaso vocês não conhecem pessoas que na aparência são tudo e na realidade não são nada? Ó pensamento tenebroso! Nós mesmos poderíamos ser assim? Vejam o homem: ele está forte na fé, até o ponto da presunção; está alegre na esperança, até o ponto da leviandade; é amoroso de espírito, até o ponto de total indiferença quanto à verdade! Como é loquaz na conversa! Como está profundo na especulação teológica! Como é fervoroso em conclamar a movimentos de avanço! Nunca, porém, entrou no reino mediante o novo nascimento. Nunca foi ensinado por Deus. O evangelho chegou a ele somente em palavras. A obra do Espírito Santo lhe é desconhecida. Porventura não existem tais pessoas? Não há pessoas que são defensoras da ortodoxia, no entanto, heterodoxas na sua própria conduta? Não conhecemos homens e mulheres cujas vidas negam o que os seus lábios professam? Temos certeza de que assim é. Todas as vinhas já tiveram nelas figueiras cobertas de folhas, que se destacaram pela folhagem da sua profissão de fé, todavia não produziram frutos para o Senhor.

Deus nos abençoe!

*Introdução e parte do primeiro ponto do sermão “A Figueira Murcha”, por C.H.Spurgeon em 29/09/1889.

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“A FIGUEIRA MURCHA” - Conclusão

 

“A FIGUEIRA MURCHA” - Conclusão (Mt 21.17-20)

Sugiro que todas as pessoas aqui presentes clamem ao Senhor para nos tornar conscientes da nossa esterilidade natural. Amados irmãos, que o Senhor nos leve a lamentar nossa esterilidade, mesmo quando trazemos alguns frutos. Sentirem-se bem satisfeitos consigo mesmos é perigoso: julgarem-se santos, e até mesmo perfeitos, é ficar à beira da fossa do orgulho. Se vocês erguerem a cabeça tão alta, temo que vão batê-la contra a verga da porta. Se andarem sobre pernas de pau, temo que cairão. É muito mais seguro sentir: "Senhor, realmente sirvo a Ti, e não sou enganador. Amo-te realmente; Tu tens operado em mim as obras do Espírito. Mas ai de mim! Não sou o que quero ser, não sou o que devo ser. Aspiro à santidade; ajuda-me a alcançá-la. Senhor, devo ficar deitado no próprio pó diante de Ti quando penso que, depois de ter recebido o trabalho da escavação e da adubação, produzo tão poucos frutos. Sinto que sou menos do que nada. Meu clamor é: "Deus tem misericórdia de mim". Se eu tivesse feito tudo, ainda seria um servo de pouco proveito; mas tendo feito tão pouco, Senhor, onde esconderei a minha cabeça culpada?"

Finalmente, depois de terem feito essa confissão, e o bom Senhor ter ouvido, há um símbolo nas Escrituras que eu gostaria que vocês copiassem. Imaginemos que nesta manhã vocês se sintam tão secos, mortos e infrutíferos, que não podem servir a Deus como gostariam de fazer, nem sequer orar pedindo mais graça, conforme desejam. Então, estão como doze varas. Estão muito mortas e secas, porque ficaram sempre nas mãos de doze chefes, que as usaram como cetros do seu cargo oficial. Essas doze varas devem ser colocadas diante do Senhor. Esta aqui é a de Arão; mas está tão morta e seca como qualquer das demais. Todas as doze são colocadas onde o Senhor habita. Vemo-las no dia seguinte. Onze delas continuam a ser varas secas; mas vejam essa vara de Arão! O que aconteceu? Era seca como a morte. Mas vejam, brotou! Isto é maravilhoso! Mas olhem, floresceu! Há nela flores de amendoeira. São cor-de-rosa e brancas. É uma maravilha! Mas olhem de novo: produziu amêndoas! Aqui estão! Vejam estes frutos verdes, que parecem pêssegos. Tirem a parte carnuda, e aqui está uma amêndoa cuja casca vocês podem quebrar para achar a noz. O poder celestial veio sobre a vara seca, e brotou, e floresceu, e até mesmo produziu amêndoas. Frutificar é a prova da vida e do favor. Senhor, tome essas pobres varas hoje, e faça- as brotar. Senhor, aqui estamos, num feixe, realize aquele milagre antigo em mil de nós. Faça-nos brotar, florescer, e frutificar! Vem com poder divino, e transforma esta congregação de gavela em pomar. Quem dera que nosso bendito Senhor obtivesse um figo dalguma vara seca nesta manhã! — pelo menos um figo tal como este: "Deus tem misericórdia de mim, pecador!" Há doçura nessa oração. Nosso Senhor Jesus gosta do sabor de um figo tal como este: "Senhor, creio! Ajuda a minha falta de fé!" Aqui está outro: "Ainda que ele me mate, nele esperarei" — é uma cestada de figos temporãos, e o Senhor Se regozija na sua doçura. Vem, Espírito Santo, produza frutos em nós hoje, mediante a fé em Jesus Cristo, nosso Senhor! 

Amém e Amém!

C.H.Spurgeon (1834-1892).

*Parte conclusiva do sermão pregado por C.H.Spurgeon em 29/09/1889.

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domingo, 19 de novembro de 2023

“REGOZIJAI-VOS SEMPRE. ORAI SEM CESSAR. EM TUDO, DAI GRAÇAS”


“REGOZIJAI-VOS SEMPRE. ORAI SEM CESSAR. EM TUDO, DAI GRAÇAS”

“Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1Ts 5.16-18).

Regozijai-vos sempre. Refiro isto à moderação de espírito, quando a mente se mantém calma sob a adversidade, e não dá lugar à tristeza. Concordemente, relaciono estas três coisas entre si: regozijar-se sempre, orar sem cessar e em tudo dar graças. Pois, quando recomenda a oração constante, o apóstolo Paulo aponta o meio de se regozijar perpetuamente, porque através deste meio pedimos a Deus alívio em relação a todas as nossas aflições. De modo semelhante, em Filipenses 4.4, tendo dito: “Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos. Seja a vossa moderação notória a todos. Não estejais inquietos por coisa alguma. Perto está o Senhor”, ele indica a seguir o meio para isto: “antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, com ação de graças”.

Nessa passagem, como sabemos, o apóstolo apresenta como fonte de alegria uma mente calma e serena, que não é excessivamente perturbada por injúrias ou adversidades. Mas, para que não sejamos abatidos pela aflição, tristeza, ansiedade e temor, ele nos manda descansarmos na providência de Deus. E, como frequentemente se introduzem dúvidas quanto a se Deus cuida de nós, também prescreve o remédio – que, pela oração, descarreguemos nossas ansiedades como que em seu seio, como Davi nos recomenda a fazer em Sl 37.5 e Sl 55.22; e Pedro também, conforme o seu exemplo (1Pe 5.7). Como, porém, somos excessivamente precipitados em nossos desejos, ele impõe um freio sobre eles – que, embora desejemos aquilo de que precisamos, ao mesmo tempo não deixemos de dar graças.

Paulo observa, aqui, praticamente a mesma ordem, embora em menos palavras. Pois, antes de tudo, queria que tivéssemos os benefícios de Deus em tanta estima que o reconhecimento deles e a meditação sobre eles superassem toda a tristeza. E, sem sombra de dúvida, se consideramos o que Cristo nos concedeu, não haverá amargura de tristeza tão intensa que não possa ser aliviada, e dê lugar à alegria espiritual. Pois, se esta alegria não reina em nós, o reino de Deus é ao mesmo tempo banido de nós, ou nós dele. E muito ingrato a Deus é o homem que não dê um valor tão elevado à justiça de Cristo e à esperança da vida eterna, regozijando-se em meio à tristeza. Como, porém, nossas mentes são facilmente abatidas, até que deem lugar à impaciência, devemos observar o remédio que ele prescreve logo após. Pois, ao sermos derribados e abatidos, somos novamente levantados pelas orações, porque colocamos sobre Deus o que nos sobrecarregava. Como, porém, a cada dia, sim, a cada instante, há muitas coisas que podem perturbar a nossa paz, e frustrar a nossa alegria, por esta causa ele nos manda orar sem cessar. Ação de graças, conforme disse, é acrescentada como uma limitação. Pois muitos oram de tal modo que ao mesmo tempo murmuram contra Deus, e se queixam de que ele não gratifique imediatamente seus desejos. Mas, pelo contrário, é conveniente que nossos desejos sejam refreados de tal modo que, contentes com o que nos é dado, sempre misturemos ações de graças aos nossos desejos. É verdade que podemos licitamente pedir, sim, suspirar e lamentar, mas isto deve ser de tal modo que a vontade de Deus seja mais aceitável a nós do que a nossa própria.

Pois esta é a vontade de Deus. Deus possui tal disposição para conosco em Cristo que mesmo em nossas aflições temos grande oportunidade de dar graças. Pois, o que é mais justo e mais apropriado para nos apaziguar, senão quando sabemos que Deus nos abraça em Cristo tão ternamente, que ele torna em nosso benefício e felicidade todas as coisas que nos ocorrem? Portanto, tenhamos em mente que este é um remédio especial para corrigir a nossa impaciência – desviar nossos olhos de contemplar os males presentes que nos atormentam, e direcionar nossa vista a uma consideração de natureza diferente: como Deus permanece favorável a nós em Cristo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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segunda-feira, 6 de novembro de 2023

“O AMOR QUE PROCEDE DE CORAÇÃO PURO”


“O AMOR QUE PROCEDE DE CORAÇÃO PURO”

“Mas o intuito da presente admoestação é o amor que procede de coração puro, de uma consciência íntegra, e de uma fé sem fingimento” (1Tm 1.5).

Se o objetivo e o fim da lei é que sejamos instruídos no amor que nasce da fé e de uma consciência íntegra, conclui-se, pois, que aqueles que desviam seu ensino para questões motivadas pela curiosidade são maus intérpretes da lei. Nesta passagem, não é de grande relevância se o amor é considerado como uma referência a ambas as tábuas da lei ou só a segunda. Recebemos o mandamento de amar a Deus de todo o nosso coração e ao nosso próximo como a nós mesmos, ainda que, quando o amor é mencionado na Escritura, geralmente se restrinja mais ao amor ao próximo. Neste versículo, não hesitaria em entender o amor como sendo tanto a Deus quanto ao próximo, se Paulo houvera mencionado unicamente a palavra amor. Visto, porém, que ele acrescenta a fé e uma consciência íntegra, a interpretação que estou para apresentar se adequa muito bem ao contexto em que ele está escrevendo. A suma da lei consiste em que devemos adorar a Deus com uma fé genuína e uma consciência pura, bem como devemos igualmente amar uns aos outros; e todo aquele que se desvia disso corrompe a lei de Deus, torcendo-a para servir a algum outro propósito alheio a ela mesma.

Aqui, porém, pode surgir uma dúvida, ou seja: Paulo, aparentemente, situa o amor antes da fé. Minha resposta é que aqueles que pensam assim estão se portando como infantis, pois o fato de o amor ser mencionado primeiro não significa que ele desfruta do primeiro lugar de honra, já que Paulo também deixa em evidência que ele procede da fé. Ora, a causa, indubitavelmente, tem prioridade sobre o efeito, e se todo o contexto for levado em conta, o que Paulo está dizendo é o seguinte: “A lei nos foi promulgada a fim de instruir-nos na fé, a qual é a mãe de uma consciência íntegra e de um amor genuíno”. Daí termos que começar com a fé e não com o amor.

Há pouca distinção entre coração puro e consciência íntegra. Ambos são frutos da fé. Atos 15.9 fala de um coração puro, ao dizer que “Deus purifica os corações mediante a fé”. E Pedro diz que uma consciência íntegra está fundamentada na ressurreição de Cristo (1Pe 3.21). À luz desta passagem torna-se evidente que não pode haver amor sem o temor de Deus e a integridade de consciência. Devemos notar os termos que Paulo usa para descrever cada uma dessas virtudes. Não há nada mais comum ou mais fácil do que vangloriar-se da fé e de uma consciência íntegra, porém são mui poucos os que comprovam por meio de seus atos que estão isentos de toda sombra de hipocrisia. Devemos notar especialmente como ele fala da fé sem fingimento, significando que é insincera qualquer profissão de fé que não se pode comprovar por uma consciência íntegra e manifestar-se no amor. Visto que a salvação do homem depende da fé, e a perfeita adoração divina consiste de fé e de uma consciência integra e de amor, não precisamos sentir-nos surpresos por Paulo dizer que estes elementos constituem a suma da lei.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 2 de novembro de 2023

CD Boas Palavras - Pr. Josué Rodrigues

CD Boas Palavras - Pr. Josué Rodrigues

“De boas palavras transborda o meu coração. Ao Rei consagro o que compus; a minha língua é como a pena de habilidoso escritor” (Sl 45.1)


Deus nos abençoe!

“GRAÇA A VÓS OUTROS E PAZ”


“GRAÇA A VÓS OUTROS E PAZ”

“Graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do [nosso] Senhor Jesus Cristo, o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, a quem seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (Gl 1.3-5).

Graça a vós e paz. Essa forma de saudação ocorre em outras epístolas. Sou da opinião de que o apóstolo Paulo deseja que os gálatas desfrutem da amizade com Deus e, com ela, de todas as boas coisas. Pois todo o gênero de prosperidade nos emana do favor de Deus. Paulo apresenta suas orações tanto a Cristo quando ao Pai, porquanto fora de Cristo não pode haver nem graça e nem qualquer bom êxito.

O apóstolo começa enaltecendo a graça de Cristo, com o fim de chamar os gálatas de volta para ele e para perseverar nele. Porque, se porventura tivessem realmente apreciado esta bênção redentiva, jamais se haveriam desviado para observâncias estranhas. Aquele que conhece a Cristo certamente se apegará a ele, o abraçará com ambos os braços, se sentirá completamente acolhido nele e nada desejará além dele. O melhor antídoto para purificar nossas mentes de qualquer gênero de erro ou superstição é guardar na lembrança o que Cristo representa para nós e o fato de que ele nos tem conduzido.

As palavras - “o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados” - são muito importantes. O que Paulo desejava dizer aos gálatas, francamente, é que a expiação dos pecados e a perfeita justiça não devem ser buscadas em qualquer outra fonte além de Cristo. Pois ele se ofereceu ao Pai em sacrifício. E, ele foi uma oferenda tal que não devemos tentar equipará-la com quaisquer outras satisfações. Tão gloriosa é esta redenção, que devemos olhar para ela fascinados e maravilhados. Além do mais, o que Paulo aqui atribui a Cristo, em outras partes da Escritura é referido a Deus, o Pai. E tal coisa se adequa bem a ambos; pois, de um lado, o Pai, por seu eterno propósito, decretou esta expiação, e nela deu tal prova de seu amor para conosco que não poupou ao seu Unigênito Filho, mas o entregou por todos nós. E Cristo, por outro lado, se ofereceu em sacrifício para reconciliar-nos com Deus. Daqui, segue-se que sua morte é a satisfação pelos [nossos] pecados.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

“APÓSTOLO, NÃO DA PARTE DE HOMENS”

 

“APÓSTOLO, NÃO DA PARTE DE HOMENS”

“Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos” (Gl  1.1).

Em suas saudações, o apóstolo Paulo tinha por costume reivindicar o título de apóstolo com o fim de corroborar seu ensino com a autoridade inerente ao seu ofício. Essa autoridade depende, não do critério ou opinião de homens, mas exclusivamente da vocação divina. Devemos notar que ele diz que não fora chamado da parte de homens, nem por intermédio de homem algum. Com isso, ele não pretendia excluir inteiramente a vocação da Igreja, mas simplesmente mostrar que seu apostolado repousava numa escolha prévia e mais excelente.

Paulo também declara que os Autores de seu apostolado foram Deus o Pai e Jesus Cristo. Cristo é evocado em primeiro, porque seu papel é enviar, e o nosso é sermos embaixadores dele. Mas, para tornar a afirmação mais completa, o Pai é também mencionado, como se quisesse dizer: “Se porventura existe alguém para quem a majestade de Cristo é inteiramente insuficiente, então que o mesmo saiba que meu ofício foi também recebido de Deus o Pai”.

A sua menção da ressurreição de Cristo por Deus o Pai é pertinente a este contexto, porquanto esse é o princípio do reino de Cristo. Censuravam Paulo por ele não ter tratado com Cristo face a face enquanto ele estivera na terra. Mas o apóstolo afirma o contrário, dizendo que, assim como Cristo fora glorificado por sua ressurreição, assim também ele igualmente exerce seu poder no governo de sua Igreja. A vocação de Paulo, pois, tem ainda mais honra do que se Cristo, quando ainda era um mortal, o houvera ordenado. E este fato merece atenção. Pois Paulo insinua que seus detratores estavam de fato atacando maliciosamente o maravilhoso poder de Deus que fora demonstrado na ressurreição de Cristo. Pois o mesmo Pai celestial que ressuscitara a Cristo dentre os mortos também designara a Paulo como arauto dessa sua portentosa obra.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“EIS QUE VOS DIGO UM MISTÉRIO”


EIS QUE VOS DIGO UM MISTÉRIO”

“Isto afirmo, irmãos, que a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos” (1Co 15.50,51).

Ao chegar a este ponto, o argumento do apóstolo Paulo consistiu de duas partes. Ele demonstrou, antes de tudo, que haverá ressureição dos mortos; e, em segundo lugar, qual será a natureza da ressurreição. Mas agora ele prossegue apresentando uma descrição mais completa de como ela se dará, chamando sua descrição de mistério, visto que não havia a mesma clareza sobre esta, como no caso dos outros aspetos, na ausência, até aqui, de qualquer revelação de Deus sobre o assunto. Paulo procede assim a fim de levá-los a prestar mais atenção ao que tem a dizer. Ao fazer uso do termo “mistério”, ele está a adverti-los de que estão se tornando familiarizados com algo sobre o qual não só não sabem nada, mas também que deve ser considerado como parte dos segredos celestiais de Deus.

Nem todos dormiremos. Não há variante nos manuscritos gregos, mas há três redações diferentes no latim. A primeira é: “Na verdade todos morreremos, mas nem todos seremos transformados”. A segunda é: “Na verdade todos ressuscitaremos, mas nem todos seremos transformados”. A terceira é: “Certamente, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados”. Minha conjectura é que estas diferenças são oriundas do fato de que alguns revisores, sendo um tanto obtusos, e achando a redação genuína um tanto inconsistente, tomaram a iniciativa de substituí-la pela que entendiam se a mais provável. Porque, em face da dificuldade, parecia-lhes inconveniente que “nem todos morreremos”, quando Hebreus 9.27 afirma que “aos homens está determinado morrerem uma vez”. Portanto, o alteraram para que significasse “nem todos seremos transformados”, e ainda que “todos ressuscitaremos”, ou “todos morreremos”, e ser transformados, para eles, significa a glória que somente os filhos de Deus receberão. Porém, à luz do contexto, podemos decidir qual é a redação genuína.

O propósito de Paulo é explicar o que já havia dito, ou seja, que seremos feitos semelhantes a Cristo, porque “carne e sangue não podem herdar o reino de Deus”. Mas isto suscita a seguinte pergunta: qual, pois, será o destino daqueles que estiverem vivos quando o Dia do Senhor chegar? Paulo responde que, embora não morram, não obstante serão todos renovados, para que a mortalidade e a corrupção sejam destruídas. Notemos, porém, que ele está falando somente dos crentes; porque, ainda que haverá ressurreição, e até mesmo transformação dos incrédulos, todavia, diante do fato de que são passados em silêncio aqui, devemos entender tudo o que ficou dito como aplicando-se exclusivamente aos eleitos. Agora percebemos o quanto esta frase se ajusta à precedente, porque, havendo dito que levaremos a imagem de Cristo, ele agora esclarece que tal se dará quando formos transformados, para que o que é mortal seja absorvido pela vida, e também mostra que não se fará nenhuma diferença nesta transformação, que a vinda de Cristo alcançará alguns que ainda estarão vivos naquele tempo.

Mas ainda temos que encontrar uma solução para o problema de que “está determinado que todos os homens morram”; e de fato esta não é uma tarefa difícil. Visto que a transformação não pode acontecer sem a destruição da natureza que existia previamente, e tal transformação é corretamente considerada como uma espécie de morte; porém, visto que não há separação entre a alma e corpo, esta não deve ser imaginada como sendo uma morte ordinária. Será morte no sentido em que nossa natureza corruptível será destruída; não será adormecimento, visto que a alma não se separará do corpo; mas haverá uma súbita transição de nossa natureza corruptível para a bem-aventurada imortalidade.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
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