“GRAÇA A VÓS OUTROS E PAZ”
“Graça a vós
outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do [nosso] Senhor Jesus Cristo, o
qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste
mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, a quem seja a glória
pelos séculos dos séculos. Amém!” (Gl 1.3-5).
Graça a vós e paz. Essa forma de saudação ocorre em outras epístolas. Sou da opinião de que o apóstolo Paulo
deseja que os gálatas desfrutem da amizade com Deus e, com ela, de todas as
boas coisas. Pois todo o gênero de prosperidade nos emana do favor de Deus. Paulo
apresenta suas orações tanto a Cristo quando ao Pai, porquanto fora de Cristo não
pode haver nem graça e nem qualquer bom êxito.
O apóstolo
começa enaltecendo a graça de Cristo, com o fim de chamar os gálatas de volta
para ele e para perseverar nele. Porque, se porventura tivessem realmente
apreciado esta bênção redentiva, jamais se haveriam desviado para observâncias estranhas.
Aquele que conhece a Cristo certamente se apegará a ele, o abraçará com ambos
os braços, se sentirá completamente acolhido nele e nada desejará além dele. O
melhor antídoto para purificar nossas mentes de qualquer gênero de erro ou
superstição é guardar na lembrança o que Cristo representa para nós e o fato de
que ele nos tem conduzido.
As palavras - “o
qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados” - são muito importantes. O
que Paulo desejava dizer aos gálatas, francamente, é que a expiação dos pecados
e a perfeita justiça não devem ser buscadas em qualquer outra fonte além de
Cristo. Pois ele se ofereceu ao Pai em sacrifício. E, ele foi uma oferenda tal
que não devemos tentar equipará-la com quaisquer outras satisfações. Tão
gloriosa é esta redenção, que devemos olhar para ela fascinados e maravilhados.
Além do mais, o que Paulo aqui atribui a Cristo, em outras partes da Escritura
é referido a Deus, o Pai. E tal coisa se adequa bem a ambos; pois, de um lado,
o Pai, por seu eterno propósito, decretou esta expiação, e nela deu tal prova
de seu amor para conosco que não poupou ao seu Unigênito Filho, mas o entregou
por todos nós. E Cristo, por outro lado, se ofereceu em sacrifício para
reconciliar-nos com Deus. Daqui, segue-se que sua morte é a satisfação pelos
[nossos] pecados.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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