“APÓSTOLO, NÃO DA PARTE DE HOMENS”
“Paulo,
apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por
Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos” (Gl 1.1).
Em suas saudações,
o apóstolo Paulo tinha por costume reivindicar o título de apóstolo com o fim
de corroborar seu ensino com a autoridade inerente ao seu ofício. Essa autoridade
depende, não do critério ou opinião de homens, mas exclusivamente da vocação
divina. Devemos notar que ele diz que não fora chamado da parte de homens, nem
por intermédio de homem algum. Com isso, ele não pretendia excluir inteiramente
a vocação da Igreja, mas simplesmente mostrar que seu apostolado repousava numa
escolha prévia e mais excelente.
Paulo também
declara que os Autores de seu apostolado foram Deus o Pai e Jesus Cristo.
Cristo é evocado em primeiro, porque seu papel é enviar, e o nosso é sermos
embaixadores dele. Mas, para tornar a afirmação mais completa, o Pai é também
mencionado, como se quisesse dizer: “Se porventura existe alguém para quem a
majestade de Cristo é inteiramente insuficiente, então que o mesmo saiba que
meu ofício foi também recebido de Deus o Pai”.
A sua menção
da ressurreição de Cristo por Deus o Pai é pertinente a este contexto,
porquanto esse é o princípio do reino de Cristo. Censuravam Paulo por ele não
ter tratado com Cristo face a face enquanto ele estivera na terra. Mas o
apóstolo afirma o contrário, dizendo que, assim como Cristo fora glorificado
por sua ressurreição, assim também ele igualmente exerce seu poder no governo
de sua Igreja. A vocação de Paulo, pois, tem ainda mais honra do que se Cristo,
quando ainda era um mortal, o houvera ordenado. E este fato merece atenção.
Pois Paulo insinua que seus detratores estavam de fato atacando maliciosamente
o maravilhoso poder de Deus que fora demonstrado na ressurreição de Cristo.
Pois o mesmo Pai celestial que ressuscitara a Cristo dentre os mortos também designara
a Paulo como arauto dessa sua portentosa obra.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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