“A FIGUEIRA MURCHA” - Introdução e parte do primeiro ponto
“Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve fome; e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente. Vendo isto os discípulos, admiraram-se e exclamaram: Como secou depressa a figueira!” (Mt 21.17-20).
Que grande lição para as igrejas! Tem havido igrejas nas quais se
destacaram os números e a influência, contudo a fé, o amor e a santidade não
foram mantidos, e o Espírito Santo as deixou à exibição vã de uma profissão
infrutífera; e ali ficam aquelas igrejas com o tronco da organização e com os
galhos amplamente estendidos, mas estão mortas, e ano após ano tornam-se cada
vez mais decadentes. Irmãos, temos nesta hora igrejas desse tipo entre os protestantes
evangélicos. Que nunca seja assim com esta igreja! Podemos ter um bom número de
pessoas que vem para ouvir a Palavra, e um grupo considerável de homens e
mulheres que professam estar convertidos; mas a não ser que a piedade vital esteja
em seu meio, o que são as congregações e as igrejas? Podemos ter um ministério
de valor, mas o que ele seria sem o Espírito de Deus? Podemos ter grandes
ofertas, e muitos esforços exteriores, mas o que valem sem o espírito da
oração, o espírito da fé, o espírito da graça e da consagração? Eu ficaria apavorado
se um dia nós chegássemos a ser como uma árvore precoce, ostentando uma
profissão superlativa, mas sem valor aos olhos do Senhor, por estar ausente a
vida secreta da piedade e da união vital com Cristo. Seria melhor o machado
derrubar todo vestígio da árvore, do que deixá-la em pé sob o céu como uma
mentira aberta, uma zombaria, uma ilusão.
I. Em primeiro lugar, então, há no mundo casos de profissão promissora, porém infrutífera.
Os
casos aos quais nos referimos não são tão raros assim. As pessoas envolvidas
neles superam, em muito, tantas outras. Sua promessa é bem audível, e seu
exterior é muito impressionante. Parecem árvores frutíferas; esperamos delas
muitas cestadas dos melhores figos. Elas nos impressionam com a sua conversa,
nos deixam assoberbados com os seus modos. Invejamos a elas, e açoitamos a nós
mesmos. Essa última atitude talvez não nos faça mal; mas invejar hipócritas não
pode deixar de ser danoso a longo prazo; isto porque quando for descoberta a
hipocrisia delas, tenderemos a desprezar a religião, como também os que fingem
ser religiosos. Acaso vocês não conhecem pessoas que na aparência são tudo e na
realidade não são nada? Ó pensamento tenebroso! Nós mesmos poderíamos ser
assim? Vejam o homem: ele está forte na fé, até o ponto da presunção; está
alegre na esperança, até o ponto da leviandade; é amoroso de espírito, até o ponto
de total indiferença quanto à verdade! Como é loquaz na conversa! Como está
profundo na especulação teológica! Como é fervoroso em conclamar a movimentos
de avanço! Nunca, porém, entrou no reino mediante o novo nascimento. Nunca foi
ensinado por Deus. O evangelho chegou a ele somente em palavras. A obra do
Espírito Santo lhe é desconhecida. Porventura não existem tais pessoas? Não há
pessoas que são defensoras da ortodoxia, no entanto, heterodoxas na sua própria
conduta? Não conhecemos homens e mulheres cujas vidas negam o que os seus
lábios professam? Temos certeza de que assim é. Todas as vinhas já tiveram
nelas figueiras cobertas de folhas, que se destacaram pela folhagem da sua
profissão de fé, todavia não produziram frutos para o Senhor.
Deus nos abençoe!
*Introdução e parte do primeiro ponto do sermão “A Figueira Murcha”, por C.H.Spurgeon em 29/09/1889.
Nenhum comentário:
Postar um comentário