“Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo
de Jesus Cristo” (1Co 1.1).
Paulo inicia quase todas as suas cartas desta forma, com
vista a granjear autoridade e aceitação de seu doutrinamento. Ele obtém
autoridade para si mesmo na função, a ele imposta por Deus, de ser apóstolo de
Cristo, enviado por Deus; [alcança] aceitação por meio do testemunho de seu
próprio amor dedicado a todos aqueles para quem escreveu. Porque nos é mais
fácil depositar fé em alguém que consideramos estar genuinamente bem disposto
para conosco e fielmente cuidando de nossos interesses. Portanto, nesta
saudação Paulo reivindica autoridade para si mesmo ao descrever-se como apóstolo
de Cristo, verdadeiramente chamado por Deus, ou seja, separado pela vontade de
Deus.
Duas coisas, porém, são requeridas daquele que será
ouvido na igreja e que ocupará a posição de mestre: deve ser chamado por Deus
para esse ofício, e deve ser fiel no cumprimento de seus deveres. Paulo alega,
aqui, que ambas se aplicam a ele. Pelo título apóstolo, significa que ele
cumpre os deveres de embaixador de Cristo, conscientemente, e proclama a
genuína doutrina do evangelho. Mas para que ninguém assuma para si esta honra,
de moto próprio, a menos que seja chamado para a mesma, ele acrescenta que não se
lançou precipitadamente a ela, senão que fora por Deus designado a tomar posse
dela.
Aprendamos, pois, a levar em consideração a ambos estes
fatores quando quisermos saber a quem devemos ter como ministro de Cristo, ou
seja: que seja ele chamado, e que seja fiel no cumprimento deste ofício. Visto
que ninguém pode, por direito, arrogar para si a condição e ofício de ministro
a não ser que seja chamado, assim não é bastante que uma pessoa seja chamada,
caso não dê ela, também a satisfação de levar a bom termo o seu trabalho. O
Senhor não escolhe ministros para serem ídolos mudos, nem para agirem
ditatorialmente sob o pretexto de sua vocação, nem para fazerem de seus
próprios caprichos sua lei. Ao contrário, a um só tempo Deus estabelece que
tipo de homens devem ser, e os põe sob suas leis. Resumindo, ele os escolhe
para o ministério a fim de que, em primeiro lugar, não sejam indolentes; e, em
segundo lugar, que se mantenham dentro dos limites de seu ofício. Portanto,
visto que o apostolado depende da vocação [divina], se alguém deseja ser considerado
apóstolo, então deve provar que de fato o é, e fazer todo empenho para que os homens
confiem nele e prestem atenção ao seu ensino. Pois já que Paulo conta com estas
bases para reivindicar sua autoridade, seria insolência da parte de qualquer
homem querer assumir tal posição sem elas!
Deus nossa abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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