“NÃO ACHOU LUGAR DE ARREPENDIMENTO” – Parte II
“Pois sabeis também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi
rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o
tivesse buscado” (Hb 12.17).
Continuando nossa meditação, suscita-se uma segunda pergunta, a
saber: e se o pecador que é agraciado com o arrependimento não lucrar nada com
ele? Tudo indica que o apóstolo está a insinuar isso quando diz que Esaú nada
lucrou com seu arrependimento. Minha
resposta toma por base o fato de que arrependimento, aqui, não é tomado no
sentido de genuína conversão a Deus, mas só no sentido do terror com que Deus
assusta os incrédulos depois de se entregarem por longo tempo às suas
iniquidades. Nem é de estranhar dizer-se que tal terror é inútil, porquanto não
caem em si nem passam a odiar seus vícios, mas são simplesmente torturados pelo
senso do castigo. O mesmo se deve dizer no tocante às lágrimas. Sempre que um pecador chora seus pecados, o Senhor está
pronto a perdoá-lo e a misericórdia divina nunca é buscada em vão, porquanto
aquele que bate, a porta se lhe abre (Mt 7.8). Já que as lágrimas de Esaú eram
lágrimas de um homem sem esperança, não foram derramadas diante do Senhor; por
mais que os ímpios deplorem sua sorte, se queixem e lamentem, não batem à porta
de Deus, porquanto esse ato só se pratica pela fé. Aliás, quanto mais dolorosamente
sua consciência os acusa, mais lutarão contra Deus e lhe demonstrarão seu
ódio. Desejam ter acesso à presença de Deus; visto, porém, que não encontram
nada senão a ira divina, fugirão de sua presença. Assim, com frequência observamos
que aqueles que jocosamente afirmam que terão suficiente chance de
arrependimento, ao avizinhar-se a morte, quando de fato tal momento chega,
clamam horrorizados em meio a cruel agonia diante do fato de não haver mais
tempo de se obter misericórdia. Já se acham condenados à destruição, porque
buscaram a Deus tarde demais.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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