"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



quinta-feira, 19 de outubro de 2023

“CONSIDERAI-VOS MORTOS PARA O PECADO”


“CONSIDERAI-VOS MORTOS PARA O PECADO”

“Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Rm 6.11).

O apóstolo Paulo agora adiciona a definição de sua analogia. Ele aplica as duas afirmações concernentes ao fato de Cristo morrer para o pecado uma vez por todas e viver eternamente para Deus (v.10), e nos instrui em como devemos agora morrer enquanto vivemos, ou seja: pela renúncia do pecado. Entretanto, ele não omite a outra parte da analogia, isto é, como vamos viver depois de termos uma vez para sempre abraçado a graça de Cristo mediante a fé. Embora a mortificação de nossa carne esteja apenas começando em nós, todavia a vida de pecado está destruída por este mesmo expediente, de modo que a nossa renovação espiritual, a qual é de caráter divino, venha a continuar para sempre. Se Cristo por fim não destruísse o pecado em nós, então sua graça seria carente de estabilidade e continuidade.

Portanto, o significado desta passagem é o seguinte: “Eis a posição que deves assumir, em teu caso: Assim como Cristo, uma vez por todas, morreu para destruir o pecado, também deves morrer uma vez por todas a fim de que, no futuro, cesses de pecar. De fato, deves progredir diariamente na mortificação de tua carne, a qual já teve início em ti, até que o pecado seja de vez erradicado. Assim como Cristo ressuscitou para uma vida incorruptível, também deves ser regenerado pela graça de Deus, a fim de seres guiado por toda a tua vida em santidade e justiça, visto que o poder do Espírito Santo, por meio do qual foste renovado, é eterno, e florescerá para sempre”.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.  


quarta-feira, 18 de outubro de 2023

“QUANTO A VIVER, VIVE PARA DEUS”


“QUANTO A VIVER, VIVE PARA DEUS”

“Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus” (Rm 6.10).

Quer leiamos com Deus ou em Deus, o sentido permanece o mesmo. O apóstolo Paulo está mostrando que Cristo agora possui, no reino imortal e incorruptível de Deus, uma vida não mais sujeita à mortalidade. Um tipo desta vida imortal evidencia-se na regeneração dos piedosos. Devemos reter em nossa mente, aqui, a palavra semelhança. Paulo não diz que vivemos no céu, como Cristo vive, mas ele faz com que a nova vida que vivemos na terra, em consequência de nossa regeneração, seja igual à sua vida celestial. Sua afirmação de que morremos para o pecado em consequência do exemplo de Cristo, não significa que nossa morte seja exatamente como a dele, pois morremos para o pecado quando o pecado morre em nós. No caso de Cristo, existe uma diferença, pois foi através de sua morte que ele destruiu o pecado. O apóstolo declarou anteriormente que cremos que seremos participantes da vida de Cristo (v.8). A palavra crer claramente mostra que ele está falando da graça de Cristo. Estivesse ele apenas nos advertindo em relação ao nosso dever, então terá expressado assim: “Visto que morremos com Cristo, devemos, então, viver uma vida semelhante à dele”. O verbo crer denota que o apóstolo está aqui tratando da doutrina da , que é encontrada nas promessas, como se dissesse: “Os crentes devem estar seguros de que sua mortificação na carne, através dos benefícios de Cristo, é tal que ele mesmo manterá a novidade de vida deles até ao fim”. O tempo futuro do verbo viver não se refere à ressurreição final, mas simplesmente denota o curso contínuo de nossa vida em Cristo, enquanto formos peregrinos na terra.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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"PARA SEMPRE MORREU PARA O PECADO”


“PARA SEMPRE MORREU PARA O PECADO”

“Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus” (Rm 6.10).

O apóstolo Paulo afirmara que, em consequência do exemplo de Cristo, ficamos para sempre livres do jugo da morte (2Tm 1.10). Ele agora aplica sua afirmação, declarando que não estamos mais sujeitos à tirania do pecado. Ele prova isto a partir da causa final da morte de Cristo, pois ele morreu com o fim de destruir o pecado. Devemos notar também a referência a Cristo nesta forma de expressão. Paulo não afirma estar morto para o pecado com o propósito de não mais cometê-lo - como diríamos em nosso próprio caso -, mas porque ele morreu em relação ao pecado, de modo que, ao constituir-se um resgate, ele aniquilou o poder do pecado. O apóstolo diz que Cristo morreu uma única vez [Hb 10.14], não só porque tenha ele santificado os crentes para sempre pela redenção eterna que conquistou por sua única oferta, e porque consumou a purificação dos pecados deles por meio de seu sangue, mas também com o propósito de estabelecer a semelhança comum entre nós e o Redentor. Ainda que a morte espiritual faça contínuo progresso dentro de nós, todavia pode-se propriamente dizer que morremos uma vez, a saber: quando Cristo nos reconcilia com seu Pai por meio de seu sangue, e também nos regenera concomitantemente pelo poder de seu Espírito,

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“QUEM MORREU ESTÁ JUSTIFICADO DO PECADO”


“QUEM MORREU ESTÁ JUSTIFICADO DO PECADO”

“Porquanto quem morreu está justificado do pecado” (Rm 6.7).

Este é um argumento derivado da natureza inerente ou efeito da morte. Se a morte destrói todas as ações da vida, então nós, que já morremos para o pecado, devemos cessar com aquelas ações que o pecado exerce durante a trajetória de sua existência [terrena]. O termo justificado, aqui, significa libertado ou recuperado da escravidão. Assim como o prisioneiro que é absolvido da sentença do juiz, se vê livre de vínculo de sua acusação, também a morte, livrando-nos desta presente vida, nos faz livres de todas as nossas responsabilidades.

Além do mais, embora este seja um exemplo que não pode ser encontrado em parte alguma entre os homens, contudo não há razão para considerar esta afirmação como uma especulação fútil, nem razão para desespero por não nos acharmos no número daqueles que crucificaram completamente sua carne. Esta obra divina não se completou no momento em que teve início em nós, mas se desenvolve gradualmente, e diariamente avança um pouco mais até chegar à sua plena consolidação. Podemos sumariar este ensino do apóstolo Paulo da seguinte forma: “Se porventura és cristão, então deves revelar em ti mesmo pelo menos um sinal de tua comunhão na morte de Cristo; e o fruto disto consiste em que tua carne será crucificada juntamente com todos os desejos dela. Não deves presumir, contudo, que esta comunhão não é real só porque ainda encontras em ti traços de carnalidade em plena atividade. Mas é forçoso que continuamente encontres também traços de crescimento em tua comunhão na morte de Cristo, até que alcances o alvo final”. Já é suficiente que o crente sinta que sua carne está sendo continuamente mortificada, e ela não avança mais enquanto o Espírito Santo tem sob seu controle o miserável reinado exercido por ela [carne]. Há ainda outra comunhão na morte de Cristo, da qual o apóstolo fala com frequência, como em 2Co 4.10-18, a saber: o suportar a cruz, ação esta seguida de nossa participação na vida eterna.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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terça-feira, 17 de outubro de 2023

“SENHOR TANTO DE MORTOS COMO DE VIVOS”


“SENHOR TANTO DE MORTOS COMO DE VIVOS”

“Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos” (Rm 14.9).

Com o fim de provar que devemos viver e morrer para o Senhor, o apóstolo Paulo disse que, quer vivamos quer morramos, estamos no poder de Cristo. Ele agora mostra como corretamente Cristo envia este poder sobre nós, visto que nos adquirira por um preço muitíssimo elevado. Ao suportar a morte para que fôssemos salvos, ele adquiriu para si mesmo um domínio que jamais poderá ser destruído pela morte; e, ao ressuscitar, ele tomou posse de toda a nossa vida como sua propriedade particular. Por sua morte e ressurreição, portanto, ele nos capacitou para servir a glória de seu nome tanto na morte quanto na vida. O termo ressurgiu significa que um novo estado de vida foi conquistado por ele em sua ressurreição. E visto que a vida que ele agora vive não está sujeita a mudança, então este domínio que ele exerce sobre nós é igualmente eterno.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“VIVAMOS OU MORRAMOS, SOMOS DO SENHOR”


VIVAMOS OU MORRAMOS, SOMOS DO SENHOR”

“Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Rm 14.7,8).

Não é necessário que fiquemos surpresos pelo fato de as ações pessoais de nossa vida devam estar relacionadas com o Senhor, visto que a vida mesma deve ser totalmente devotada à sua glória. A vida de um cristão só está propriamente ordenada quando ela visa à vontade divina como seu objetivo máximo. Mas se todas as nossas ações não se acham relacionadas com sua vontade, é completamente errôneo evitar fazer algo que consideramos desagradá-lo, quando, deveras, o que somos não nos convence de que o agradamos.

Se vivemos, para o Senhor vivemos. Isto, aqui, não tem o mesmo sentido de Romanos 6.11, ou seja: vivos para Deus em Cristo Jesus, por meio de seu Espírito, mas significa ser conformado à sua vontade e prazer, bem como para ordenar todas as coisas para sua glória. Nem devemos somente viver para o Senhor, mas também morrer para o Senhor, ou seja: tanto nossa morte quanto nossa vida devem ser entregues à sua vontade. O apóstolo Paulo nos apresenta a melhor das razões para isto, ou seja: quer, pois, vivamos quer morramos, somos do Senhor. Deduz-se daqui que Deus detém o poder sobre nossa vida e nossa morte. A aplicabilidade desta doutrina é muitíssimo ampla. Deus reivindica tal poder sobre a vida e a morte, para que cada um de nós suporte sua própria condição na vida como um jugo a ele imposto por Deus. É precisamente para isso que Deus designa a cada pessoa sua posição e curso na vida. E assim somos não só proibidos de tentar fazer algo precipitadamente, sem uma ordem expressa de Deus, mas somos também convocados a exercer paciência em todo sofrimento e perda. Se, pois, de vez em quando a carne se desvencilha diante da adversidade, lembremo-nos de que aquele que não é livre para dispor de si mesmo perverte a lei e a ordem se porventura não depende da vontade de seu Senhor. Assim também descobrimos a regra pela qual aprendemos a viver e a morrer, ou seja: se ele fortalece nossa vida em meio a contínua luta e desfalecimento, não devemos ansiar pela morte antes do tempo. Contudo, se porventura de súbito nos chama no vigor de nossa vida, então que estejamos sempre prontos para nossa partida.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“ACOLHEI AO QUE É DÉBIL NA FÉ”


“ACOLHEI AO QUE É DÉBIL NA FÉ”

“Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões” (Rm 14.1).

O apóstolo Paulo se transpõe para um preceito particularmente indispensável para a instrução da Igreja. Aqueles que atingem os cumes do conhecimento da doutrina cristã devem acomodar-se aos menos experientes, envidando todos os seus esforços para que as fraquezas de tais pessoas sejam supridas. Alguns dentre o povo de Deus são mais frágeis que outros, os quais, se não forem tratados com grande ternura e paciência, se desanimam e finalmente se desertam da religião. É provável que tal tenha sido o caso naquela época em particular, pois as igrejas eram compostas tanto de judeus como de gentios. Alguns haviam vivido por muito tempo sob o regime dos ritos da lei mosaica, e nutridos neles desde a tenra idade; por isso, renunciá-los não era algo fácil. Outros, contudo, jamais haviam aprendido tais coisas, e por isso recusavam sujeitar-se a tal jugo, porquanto não tinham nenhuma afinidade a tais costumes.

Os homens são naturalmente inclinados a deslizar-se de uma diferença de opinião para uma disputa acirrada ou controvérsia. Paulo, pois, mostra como os que mantêm opiniões distintas podem viver juntos sem desavença. Portanto, aqui ele prescreve a melhor maneira de se fazer isso. Aqueles que possuem maior resistência devem empregá-la na assistência aos fracos; enquanto que aqueles que alcançam maior progresso devem enfrentar com paciência os inexperientes. Se Deus, porventura, nos faz mais fortes que outros, ele não nos supre com robustez a fim de oprimirmos os fracos. Nem tampouco é próprio da sabedoria cristã usar de insolência com o fim de menosprezar a alguém. Assim, pois, o apóstolo direciona suas observações aos mais experientes e aos que já se acham confirmados. Estes estão em maior obrigação de auxiliar a seu próximo [fraco], visto que já receberam do Senhor maior medida de graça.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quarta-feira, 11 de outubro de 2023

“GOZO E PAZ NO VOSSO CRER”


“GOZO E PAZ NO VOSSO CRER”

“Ora, o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo” (Rm 15.13).

Uma vez mais o apóstolo Paulo conclui a passagem, como antes, com uma oração em que deseja que o Senhor lhes conceda tudo quanto havia ele ordenado. Daqui percebemos que o Senhor de forma alguma avalia seus preceitos segundo nossas forças, nem nos instrui ele em nossos deveres com o fim de colocarmos nossa confiança em nossas próprias faculdades e nos prepararmos para render-lhe obediência. Ao contrário disto, os preceitos que ele nos comunica espera a assistência de sua graça para estimular-nos a um insofreável anseio pela oração. Ao dizer, o Deus da esperança, significa: “Que o Deus em quem todos nós esperamos vos encha de gozo e de uma consciência tranquila, bem como de unidade e harmonia no vosso crer”.

Deus jamais aprovará nossa paz, a menos que estejamos unidos por uma fé sólida e perfeita. Só quando nos devotamos ao que aprendemos com serenidade, com alegria, e com uma mente determinada é que realmente nos sentimos preparados para a fé. É preferível, contudo, conectar a fé com a paz e a alegria, visto que a fé é o vínculo da santa e legítima concórdia, e a força motriz do santo gozo. Ainda que a paz referida seja aquela que todos os crentes possuem interiormente com Deus, o contexto nos leva, antes, à primeira explicação: “Que o Deus em quem todos nós esperamos vos encha de gozo e de uma consciência tranquila, bem como de unidade e harmonia no vosso crer”. Ele adiciona para que sejais ricos de esperança, porque a esperança é assim confirmada e aumentada nos crentes. A frase, no poder do Espírito Santo, significa que todas estas coisas são dons da divina munificência. A palavra poder tenciona demonstrar enfaticamente a maravilhosa força pela qual o Espírito Santo produz em nós fé, esperança e alegria.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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segunda-feira, 9 de outubro de 2023

“TAMBÉM NOS GLORIAMOS EM NOSSAS TRIBULAÇÕES”


“TAMBÉM NOS GLORIAMOS EM NOSSAS TRIBULAÇÕES”

“E não somente isto, mas também nos gloriamos em nossas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência” (Rm 5.3).

O apóstolo Paulo antecipa possíveis escárnios dirigidos aos cristãos que, devido à sua exultação, são inusitadamente molestados e afligidos nesta vida, parecendo que longe estão de uma condição abençoada. Ele declara que suas calamidades, longe de impedirem sua felicidade, até mesmo promovem sua glória. Com o fim de provar sua tese, ele argumenta a partir dos efeitos. Emprega um admirável clímax, no qual, finalmente conclui que todas as aflições que sofremos contribuem para nossa salvação e felicidade última.

A afirmação de que os santos se gloriam em suas tribulações não deve ser entendida como se não temessem nem fugissem da adversidade, ou não sentissem a dor das aflições e amarguras quando elas lhes ocorrem (pois a paciência não resultaria de suas dificuldades, caso não vivessem conscientes de suas amarguras). Entretanto, o apóstolo diz corretamente que eles se gloriam, visto que em sua tristeza e dor são profusamente consolados pela antevisão de que todos os seus sofrimentos são-lhes destinados para que se transformem num grande bem pelas mãos do mais indulgente de todos os pais - o Pai celestial. Os crentes têm sempre suficientes razões para se gloriarem quando sua salvação é promovida.

Daqui aprendemos, pois, qual é propósito de nossas tribulações, se porventura almejamos mostrar que somos filhos de Deus. Estes devem exercitar-se na paciência, do contrário nossa depravação tornaria a obra do Senhor vazia e ineficiente. Como prova de que a adversidade não constitui obstáculo para a glorificação dos crentes, Paulo evoca o fato de que eles experimentam o socorro divino, o qual nutre e confirma sua esperança, quando pacientemente suportam adversidades. É verdade, pois, que aqueles que não aprendem a paciência também não fazem bom progresso. Não há contradição quando a Escritura registra as murmurações dos santos quando dominados pelo desespero. Em tais ocasiões o Senhor acossa e esmaga o seu povo de tal modo que, por algum tempo, mal lhes permite respirar ou lembrar-se da sua fonte de consolação. Porém, de repente ele restaura à vida aqueles a quem quase submergira nas densas trevas da morte. Então a afirmação de Paulo é sempre cumprida neles: “Em tudo somos atribulados; porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados, perseguidos, porém não desamparados, abatidos, porém não destruídos (2Co 4.8,9).

A tribulação produz a paciência. Este não é o efeito natural da tribulação, a qual, como vemos, leva uma grande porção do gênero humano a murmurar contra Deus, e até mesmo a amaldiçoá-lo. Mas quando aquela submissão interior que é infundida pelo Espírito de Deus; e aquela consolação que é comunicada pelo mesmo Espírito, assume o lugar de nossa obstinação, então as tribulações, as quais, na teimosia, só podem produzir indignação e descontentamento, tornam-se meios de gerar a paciência.

 Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“A ESPERANÇA NÃO CONFUNDE”


“A ESPERANÇA NÃO CONFUNDE”

“Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5.5).

"Ora, a esperança não confunde". Ou seja, ela tem a nossa salvação como um fato garantido. Isto mostra claramente que a aflição é usada pelo Senhor para provar-nos, de modo que a nossa salvação possa, por isso, progredir gradualmente. Portanto, aquelas misérias, que a seu próprio modo são os suportes de nossa felicidade, não podem transformar-nos em miseráveis. E assim a tese do apóstolo Paulo fica provada, ou seja: que os piedosos contam com bases sólidas para gloriar-se no meio de suas aflições.

Somos estimulados à paciência pela instrumentalidade da tribulação, e a paciência é para nós a prova do auxílio divino. Este fato robustece um tanto mais nossa esperança; pois, por mais que sejamos acossados, e nos pareçamos desgastados, não cessamos de sentir a munificência divina para conosco. Esta é a mais rica consolação, e muito mais abundante do que quando tudo parecia ir-nos bem. Uma vez que o que se nos afigura como felicidade não passa de miséria, quando Deus nos hostiliza e se revela descontente conosco, assim também, quando ele se mostra favoravelmente disposto para conosco, nossas próprias calamidades indubitavelmente nos resultarão em prosperidade e alegria. Todas as coisas devem servir a vontade do Criador, porque, segundo o seu paternal favor para conosco (Rm 8), ele direciona todas as provações oriundas da cruz para nossa salvação. Esse conhecimento do amor divino para conosco é instilado em nossos corações pelo Espírito de Deus, pois as coisas boas que Deus preparou para aqueles que o adoram estão ocultas dos ouvidos, dos olhos e das mentes dos homens, e tão-somente o Espírito é quem pode revelá-las. O particípio derramado e bastante enfático, e significa que a revelação do amor divino para conosco é tão copiosa que enche os nossos corações. Sendo assim derramado, e permeando cada parte de nós, não só mitiga nosso sofrimento na adversidade, mas também age como um agradável condimento a transmitir graça às nossas tribulações.

Paulo diz mais que o Espírito nos foi outorgado, ou seja, ele nos é concedido pela benevolência divina, cuja motivação não se acha em nós, e nem nos foi conferida com base em nossos méritos. O que nos é ensinado aqui consiste em que a genuína fonte de todo amor está na convicção que os crentes têm do amor divino por eles. Esta não é uma leve persuasão a imprimir-lhes certos matizes [à vida], senão que suas mentes são completamente permeadas por ele.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sábado, 7 de outubro de 2023

“OS FILHOS DA PROMESSA”


“OS FILHOS DA PROMESSA”

“Nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa” (Rm 9.7,8).

O apóstolo Paulo ressalta este fato com o propósito de mostrar que a eleição secreta de Deus prevalece sobre a vocação externa. De forma alguma é ela contrária a esta vocação, senão que, antes, a confirma e a completa. Portanto, a fim de provar ambas as proposições, ele pressupõe, em primeiro lugar, que a eleição divina não é confinada à descendência [carnal] de Abraão, nem compreendida nas condições do pacto. Para confirmar isto, ele então emprega uma ilustração muito oportuna. Se porventura houver algum legítimo descendente de Abraão que não apostatou do pacto, então deve ser ele o primeiro a apropriar-se do privilégio. Mas quando descobrimos que um dos primeiros filhos de Abraão se separou da linha de descendentes, mesmo quando Abraão ainda vivia e a promessa era nova, o que dizer, pois, daqueles seus descendentes mais distantes? Esta profecia é extraída de Gênesis 17.20, onde o Senhor diz, em resposta a Abraão, que ouvia sua oração em favor de Ismael, porém não haveria de ser em outro que a bênção prometida repousaria. Segue-se que algumas pessoas são eleitas dentre o povo escolhido por meio de um privilégio especial, e que nestas a adoção comum se converte em adoção eficaz e válida.

Paulo agora deduz da profecia uma afirmação que inclui a totalidade daquilo que propusera provar. Se a progênie [de Abraão] é designada em Isaque, e não em Ismael, e Isaque não é menos filho de Abraão do que Ismael, é preciso entender, pois, que nem todos os filhos naturais devem ser considerados como sua descendência, senão que a promessa é cumprida de uma forma especial apenas em alguns, e que não pertence igualmente e comumente a todos. Aos que não passam de descendentes naturais, Paulo os chama de filhos da carne, justamente como os que são peculiarmente selados pelo Senhor são chamados de filhos da promessa.

Deus nossa abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 5 de outubro de 2023

“O JUSTO VIVERÁ POR FÉ”.


“O JUSTO VIVERÁ POR FÉ”.

“Como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.17).

O apóstolo Paulo prova a justiça da fé pela autoridade do profeta Habacuque que, ao predizer a destruição dos soberbos, acrescenta concomitantemente que o justo viverá pela fé (Hc 2.4). A única maneira de vivermos na presença de Deus é por meio da justiça. Portanto, segue-se que a nossa justiça depende da fé. O verbo no tempo futuro designa a perpetuidade ininterrupta da vida de que ele está se referindo, como se dissesse: “Ela não continuará por algum tempo, mas durará para sempre”. Os ímpios são inflados com a ilusão de que têm vida, mas “enquanto dizem: Paz e segurança, lhes sobrevirá repentina destruição” (1Ts 5.3). O que lhes toca, portanto, é uma sombra que dura só por algum tempo, enquanto que a fé dos justos é a única que traz vida perene. Qual é a fonte dessa vida senão a que nos conduz a Deus e faz nossa vida depender dele? A referência que Paulo faz texto de Habacuque seria irrelevante, a menos que o profeta intencionasse que só nos mantemos firmes quando descansamos em Deus, pela fé. Ele atribui a vida dos ímpios à fé somente até ao ponto em que renunciam a soberba do mundo e se mantêm reunidos exclusivamente sob a proteção divina. É verdade que Habacuque não trata explicitamente só desta questão, e nem faz qualquer menção da justificação gratuita, mas é suficientemente evidente, à luz da natureza da fé, que esta passagem é corretamente aplicável ao nosso presente tema. De seu argumento, necessariamente inferimos também a mútua relação entre a fé e o evangelho, porque, visto que é dito que o justo vive por sua fé, é-nos dito também que tal vida só pode ser recebida por meio do evangelho.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“A JUSTIÇA DE DEUS SE REVELA NO EVANGELHO, DE FÉ EM FÉ”.


“A JUSTIÇA DE DEUS SE REVELA NO EVANGELHO, DE FÉ EM FÉ”.

“Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé” (Rm 1.17).

Esta é uma explicação e confirmação do versículo precedente, o qual afirma que o evangelho é “o poder de Deus para a salvação”. Se porventura buscarmos a salvação, ou seja, a vida com Deus, devemos antes buscar a justiça, por meio da qual possamos reconciliá-lo conosco, e tomar posse dessa vida que consiste exclusivamente em sua munificência, a saber, em ser-nos ele favorável. Para sermos amados por Deus, devemos antes ser justos diante de seus olhos, porquanto ele odeia a injustiça. Significa, pois, que não podemos obter a salvação de nenhuma outra fonte senão do evangelho, visto que Deus de nenhuma outra parte nos revelou sua justiça, a qual é a única que nos livra da morte. Esta justiça, a base de nossa salvação, é revelada no evangelho, daí dizer-se que o evangelho é o poder de Deus para a salvação!

Notemos ainda mais quão raro e valioso é o tesouro que Deus nos concede em seu evangelho, a saber: a comunicação de sua justiça. Pela expressão justiça de Deus entendo aquela justiça que é aprovada em seu tribunal, ao contrário daquela que é atribuída e contada como justiça no conceito dos homens. Paulo, indubitavelmente, está aludindo às tantas profecias nas quais o Espírito está do começo ao fim estabelecendo a justiça divina no futuro reino de Cristo.

Em lugar da expressão, a todo aquele que crê, usada antes, Paulo, agora diz pela fé. A justiça é oferecida por meio do evangelho e recebida por meio da fé. Ele adiciona em fé, pois enquanto nossa fé prossegue e o nosso conhecimento progride, a justiça de Deus cresce em nós e sua possessão é em certo grau confirmada. Desde o primeiro momento em que provamos o evangelho, contemplamos já o semblante de Deus voltado para nós favoravelmente, ainda que a certa distância. Quanto mais aumenta nosso conhecimento da genuína religião, mais vemos a graça divina com maior nitidez e mais familiaridade, como se ele se achegasse para mais perto de nós.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“NÃO ME ENVERGONHO DO EVANGELHO”


“NÃO ME ENVERGONHO DO EVANGELHO”

“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16).

O apóstolo Paulo antecipa uma objeção, aqui, declarando de antemão que não se deixava intimidar pelos escárnios dos ímpios. Ao proceder assim, no entanto, ele aproveita a oportunidade para enaltecer os méritos do evangelho, a fim de que ele não viesse a ser desdenhado pelos romanos. Ao afirmar que não se sentia envergonhado em relação ao evangelho, ele insinua que o mesmo era de fato desprezível aos olhos do mundo. Desta forma os prepara para suportarem os sofrimentos provenientes da cruz de Cristo, para que não viessem a subestimar o evangelho ao verem-no exposto à cólera e ao menosprezo dos ímpios.

Notemos bem quanto valor Paulo atribui ao ministério da Palavra, ao declarar que Deus exerce seu poder nela para nossa salvação. Ele aqui não está falando de alguma revelação secreta, e, sim, da pregação por meio da expressão verbal que vem dos lábios. Segue-se disto que aqueles que se retraem de ouvir a Palavra proclamada estão premeditadamente rejeitando o poder de Deus e repelindo de si a mão divina que pode libertá-los.

Visto que Deus não opera eficazmente em todos os homens, mas só quando o Espírito ilumina os nossos corações como seu Mestre, ele adiciona todo aquele que crê. O evangelho é deveras oferecido a todos para sua salvação, mas seu poder não é universalmente manifestado. O fato de que o evangelho é aroma de morte para os ímpios não vem tanto de sua própria natureza, mas da própria perversidade humana. Ao determinar um caminho de salvação, ele elimina a confiança em quaisquer outros caminhos. Quando os homens se retraem desta salvação singular, eles encontram no evangelho uma segura evidência da própria ruína deles. Quando, pois, o evangelho convida a todos a participarem da salvação, sem qualquer distinção, ele é corretamente designado a doutrina da salvação. Pois Cristo é nele oferecido, cujo ofício particular é salvar aquele que se acha perdido, e aqueles que recusam ser salvos por Cristo encontrarão nele o seu próprio Juiz. Na Escritura, a palavra salvação é estabelecida em oposição à palavra morte; e quando ela ocorre, devemos considerar qual o tema em discussão. Portanto, visto que o evangelho livra da ruína e da maldição da morte eterna, a salvação que ele assegura não é outra coisa senão a vida eterna.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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