“ACOLHEI AO QUE É DÉBIL NA FÉ”
“Acolhei ao
que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões” (Rm 14.1).
O apóstolo
Paulo se transpõe para um preceito particularmente indispensável para a
instrução da Igreja. Aqueles que atingem os cumes do conhecimento da doutrina
cristã devem acomodar-se aos menos experientes, envidando todos os seus
esforços para que as fraquezas de tais pessoas sejam supridas. Alguns dentre o
povo de Deus são mais frágeis que outros, os quais, se não forem tratados com
grande ternura e paciência, se desanimam e finalmente se desertam da religião. É
provável que tal tenha sido o caso naquela época em particular, pois as igrejas
eram compostas tanto de judeus como de gentios. Alguns haviam vivido por muito
tempo sob o regime dos ritos da lei mosaica, e nutridos neles desde a tenra
idade; por isso, renunciá-los não era algo fácil. Outros, contudo, jamais
haviam aprendido tais coisas, e por isso recusavam sujeitar-se a tal jugo,
porquanto não tinham nenhuma afinidade a tais costumes.
Os homens são naturalmente
inclinados a deslizar-se de uma diferença de opinião para uma disputa acirrada
ou controvérsia. Paulo, pois, mostra como os que mantêm opiniões distintas
podem viver juntos sem desavença. Portanto, aqui ele prescreve a melhor maneira
de se fazer isso. Aqueles que possuem maior resistência devem empregá-la na
assistência aos fracos; enquanto que aqueles que alcançam maior progresso devem
enfrentar com paciência os inexperientes. Se Deus, porventura, nos faz mais
fortes que outros, ele não nos supre com robustez a fim de oprimirmos os
fracos. Nem tampouco é próprio da sabedoria cristã usar de insolência com o fim
de menosprezar a alguém. Assim, pois, o apóstolo direciona suas observações aos mais
experientes e aos que já se acham confirmados. Estes estão em maior obrigação
de auxiliar a seu próximo [fraco], visto que já receberam do Senhor maior
medida de graça.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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