“A JUSTIÇA DE DEUS SE REVELA NO EVANGELHO, DE FÉ EM FÉ”.
“Visto que a
justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé” (Rm 1.17).
Esta é uma
explicação e confirmação do versículo precedente, o qual afirma que o evangelho
é “o poder de Deus para a salvação”. Se porventura buscarmos a salvação, ou
seja, a vida com Deus, devemos antes buscar a justiça, por meio da qual
possamos reconciliá-lo conosco, e tomar posse dessa vida que consiste
exclusivamente em sua munificência, a saber, em ser-nos ele favorável. Para sermos
amados por Deus, devemos antes ser justos diante de seus olhos, porquanto ele
odeia a injustiça. Significa, pois, que não podemos obter a salvação de nenhuma
outra fonte senão do evangelho, visto que Deus de nenhuma outra parte nos
revelou sua justiça, a qual é a única que nos livra da morte. Esta justiça, a
base de nossa salvação, é revelada no evangelho, daí dizer-se que o evangelho é o poder de Deus para a
salvação!
Notemos ainda
mais quão raro e valioso é o tesouro que Deus nos concede em seu evangelho, a
saber: a comunicação de sua justiça. Pela expressão justiça de Deus entendo aquela justiça que é aprovada em seu
tribunal, ao contrário daquela que é atribuída e contada como justiça no conceito
dos homens. Paulo, indubitavelmente, está aludindo às tantas profecias nas
quais o Espírito está do começo ao fim estabelecendo a justiça divina no futuro
reino de Cristo.
Em lugar da expressão,
a todo aquele que crê, usada antes,
Paulo, agora diz pela fé. A justiça é
oferecida por meio do evangelho e recebida por meio da fé. Ele adiciona em fé, pois enquanto nossa fé prossegue
e o nosso conhecimento progride, a justiça de Deus cresce em nós e sua
possessão é em certo grau confirmada. Desde o primeiro momento em que provamos
o evangelho, contemplamos já o semblante de Deus voltado para nós
favoravelmente, ainda que a certa distância. Quanto mais aumenta nosso
conhecimento da genuína religião, mais vemos a graça divina com maior nitidez e
mais familiaridade, como se ele se achegasse para mais perto de nós.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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