“O JUSTO VIVERÁ POR FÉ”.
“Como está escrito: O justo
viverá por fé” (Rm 1.17).
O apóstolo
Paulo prova a justiça da fé pela autoridade do profeta Habacuque que, ao
predizer a destruição dos soberbos, acrescenta concomitantemente que o justo viverá pela fé (Hc 2.4). A única
maneira de vivermos na presença de Deus é por meio da justiça. Portanto,
segue-se que a nossa justiça depende da fé. O verbo no tempo futuro designa a perpetuidade
ininterrupta da vida de que ele está se referindo, como se dissesse: “Ela não
continuará por algum tempo, mas durará para sempre”. Os ímpios são inflados com
a ilusão de que têm vida, mas “enquanto dizem: Paz e segurança, lhes sobrevirá
repentina destruição” (1Ts 5.3). O que lhes toca, portanto, é uma sombra que
dura só por algum tempo, enquanto que a fé dos justos é a única que traz vida
perene. Qual é a fonte dessa vida
senão a fé que nos conduz a Deus e
faz nossa vida depender dele? A referência que Paulo faz texto de Habacuque
seria irrelevante, a menos que o profeta intencionasse que só nos mantemos
firmes quando descansamos em Deus, pela fé. Ele atribui a vida dos ímpios à fé
somente até ao ponto em que renunciam a soberba do mundo e se mantêm reunidos
exclusivamente sob a proteção divina. É verdade que Habacuque não trata
explicitamente só desta questão, e nem faz qualquer menção da justificação
gratuita, mas é suficientemente evidente, à luz da natureza da fé, que esta
passagem é corretamente aplicável ao nosso presente tema. De seu argumento,
necessariamente inferimos também a mútua relação entre a fé e o evangelho,
porque, visto que é dito que o justo vive por sua fé, é-nos dito também que tal
vida só pode ser recebida por meio do evangelho.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
Nenhum comentário:
Postar um comentário