“OS FILHOS DA PROMESSA”
“Nem por serem
descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua
descendência. Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne,
mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa” (Rm 9.7,8).
O apóstolo Paulo ressalta este fato com o
propósito de mostrar que a eleição secreta de Deus prevalece sobre a vocação
externa. De forma alguma é ela contrária a esta vocação, senão que, antes, a
confirma e a completa. Portanto, a fim de provar ambas as proposições, ele
pressupõe, em primeiro lugar, que a eleição divina não é confinada à
descendência [carnal] de Abraão, nem compreendida nas condições do pacto. Para
confirmar isto, ele então emprega uma ilustração muito oportuna. Se porventura
houver algum legítimo descendente de Abraão que não apostatou do pacto, então
deve ser ele o primeiro a apropriar-se do privilégio. Mas quando descobrimos
que um dos primeiros filhos de Abraão se separou da linha de descendentes,
mesmo quando Abraão ainda vivia e a promessa era nova, o que dizer, pois,
daqueles seus descendentes mais distantes? Esta profecia é extraída de Gênesis
17.20, onde o Senhor diz, em resposta a Abraão, que ouvia sua oração em favor
de Ismael, porém não haveria de ser em outro
que a bênção prometida repousaria. Segue-se que algumas pessoas são eleitas
dentre o povo escolhido por meio de um privilégio especial, e que nestas a
adoção comum se converte em adoção eficaz e válida.
Paulo agora deduz da profecia
uma afirmação que inclui a totalidade daquilo que propusera provar. Se a
progênie [de Abraão] é designada em Isaque, e não em Ismael, e Isaque não é
menos filho de Abraão do que Ismael, é preciso entender, pois, que nem todos os
filhos naturais devem ser considerados como sua descendência, senão que a
promessa é cumprida de uma forma especial apenas em alguns, e que não pertence igualmente e comumente a todos. Aos que não passam de descendentes naturais,
Paulo os chama de filhos da carne,
justamente como os que são peculiarmente selados pelo Senhor são chamados de filhos da promessa.
Deus nossa abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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