"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



quinta-feira, 26 de setembro de 2024

“NÃO ME ARRASTES COM OS ÍMPIOS”


“NÃO ME ARRASTES COM OS ÍMPIOS”

“Não me arrastes com os ímpios, com os que praticam a iniquidade; os quais falam de paz ao seu próximo, porém no coração têm perversidade" (Sl 28.3).

O sentido destas palavras, "Não me arrastes com os ímpios", consiste em que, em circunstâncias tão dessemelhantes, Deus não mistura o justo com o perverso, indiscriminadamente, na mesma destruição. Indubitavelmente, também, ao falar de seus inimigos, o salmista Davi indiretamente assevera sua própria integridade. Mas não ora desta maneira, porquanto pensava que Deus estivesse indiscriminada e irrevogavelmente irado contra os homens. Seu raciocínio tem por base a natureza de Deus, e assim nutre boa esperança, porquanto a prerrogativa divina era que Deus faz distinção entre o justo e o perverso, e retribui a cada um segundo seu merecimento. Por praticantes da iniquidade ele quer dizer o homem totalmente habituado à perversidade. Os filhos de Deus às vezes caem, cometem erros e agem equivocadamente de um ou outro modo, contudo não sentem prazer em seus malfeitos; o temor de Deus, ao contrário, os estimula ao arrependimento. Davi, subsequentemente, define e amplia a perversidade daqueles a quem ele descreve; pois sob a pretensão de amizade perfidamente enganavam as pessoas boas, afirmando com sua língua uma coisa, enquanto que em seus corações acalentavam algo muito diferente. A depravação franca é mais fácil de ser suportada do que a astúcia da raposa, quando as pessoas apresentam bela aparência a fim de granjearem uma oportunidade de fazer malefício. Esta verdade, consequentemente, nos admoesta que aqueles são mais detestáveis aos olhos de Deus, pois atacam os simplórios e desavisados com bela linguagem saturada de peçonha.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.  

“OUVE-ME AS VOZES SÚPLICES, QUANDO A TI CLAMAR POR SOCORRO”


“OUVE-ME AS VOZES SÚPLICES, QUANDO A TI CLAMAR POR SOCORRO”

“Ouve-me as vozes súplices, quando a ti clamar por socorro, quando erguer as mãos para o teu santuário” (Sl 28.2).

Esta petição é emblema de um coração em angústia. O ardor e veemência de Davi em oração são também demonstrados pelo expressivo substantivo voz e pelo expressivo verbo clamar. Quer dizer que estava tão abalado pela ansiedade e medo, que orava não com frieza, mas com ardor, com veemente desejo, como aqueles que, sob a pressão da tristeza, gritam com veemência. Na segunda cláusula do versículo, fazendo uso de sinédoque, a coisa significada é indicada pelo sinal. Tem sido uma prática comum, em todos os tempos, pessoas erguerem suas mãos em oração. A natureza tem criado esse gesto, até mesmo nos idólatras pagãos, para mostrar por meio de um sinal visível que suas mentes eram dirigidas somente para Deus. A maioria, é verdade, se satisfaz com a mera cerimônia, esforçando-se por não serem afetados com suas próprias invenções; mas o próprio ato de erguer as mãos, quando não há hipocrisia e fraude, é um auxílio para a oração devota e zelosa. Davi, contudo, não diz aqui que ele erguia suas mãos para o céu, e, sim, para o santuário por meio do qual, auxiliado por sua proteção, ele podia ascender mais facilmente ao céu. Ele não estava tão grosseira ou tão supersticiosamente ligado ao santuário externo, como se não soubesse que devia buscar a Deus espiritualmente e que os homens então só se aproximam dele quando, deixando o mundo, pela fé penetram a glória celestial. Recordando, porém, que ele era homem, Davi não negligenciaria tal auxílio oferecido à sua enfermidade. Como o santuário era o penhor ou emblema do pacto de Deus, Davi via ali a presença da prometida graça de Deus, como se ela fosse representada num espelho; justamente como os fiéis agora, se desejam ter a percepção da proximidade de Deus com eles, imediatamente dirigem sua fé para Cristo, que desceu a nós em sua encarnação para que pudesse elevar-nos ao Pai. Compreendamos, pois, que Davi subia ao santuário com nenhum outro propósito senão que, pelo auxílio da promessa divina, pudesse pairar acima dos elementos do mundo, os quais ele usava, contudo, segundo as determinações da lei. O termo hebraico, o qual traduzimos por santuário, significa a sala interior do tabernáculo ou templo, ou o lugar santíssimo, onde se encontrava a arca do concerto, e é assim chamado proveniente das respostas ou oráculos que Deus revelava dali, com o fim de testificar a seu povo a presença de seu favor entre eles.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“A TI CLAMO, Ó SENHOR; ROCHA MINHA”

 


"A TI CLAMO, Ó SENHOR; ROCHA MINHA"

“A ti clamo, Ó SENHOR; rocha minha, não sejas surdo para comigo; para que não suceda, se te calares acerca de mim, seja eu semelhante aos que descem à cova” (Sl 28.1).

O salmista começa declarando que se valeria unicamente do socorro divino, no que mostra tanto sua fé quanto sua sinceridade. Embora os homens labutem por toda parte sob um enorme volume de problemas, todavia raramente um em cem recorre a Deus. Quase todos, tendo suas consciências sobrecarregadas de culpa, e não havendo jamais experimentado o poder da graça divina que poderia levá-los a apropriar-se dele, ou soberbamente se atormentam um pouco, ou se enchem de queixas sem valor, ou dão vazão ao desespero, desfalecendo sob o peso de suas aflições. Ao chamar Deus, rocha minha, Davi mais plenamente demonstra que confiava na assistência divina, não só quando se achava à sombra e em paz, mas também quando se achava exposto às mais severas tentações. Ao comparar-se com os mortos, ele igualmente informa quão grandes eram seus apertos, ainda que seu objetivo não fosse meramente realçar a magnitude de seus perigos, mas também mostrar que quando necessitava de socorro, não o buscava aqui e ali, mas descansava somente em Deus, sem cujo favor não restaria esperança alguma para ele. Portanto, é como se dissesse: Se me deixares, me transformarei em nulidade; se não me socorreres, perecerei. Para alguém que se acha em tal estado de aflição não basta ser sensível à sua miséria, a menos que se convença de sua incapacidade de se ajudar e renuncie todo e qualquer auxílio do mundo, recorrendo tão-somente a Deus. E como as Escrituras nos informam que Deus responde aos verdadeiros crentes quando mostra através de suas operações que ele leva em conta suas súplicas, assim a expressão, se te calares, é posta em oposição à sensível e presente experiência de seu auxílio, quando parece, por assim dizer, não ouvir suas orações.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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terça-feira, 24 de setembro de 2024

“NÃO ME ESCONDAS, SENHOR, A TUA FACE”


“NÃO ME ESCONDAS, SENHOR, A TUA FACE”

“Não me escondas, SENHOR, a tua face,  não rejeites com ira o teu servo;  tu és o meu auxílio,  não me recuses, nem me desampares, ó Deus da minha salvação” (Sl 27.9).

O salmista Davi elegantemente prossegue na mesma forma de linguagem, mas com um significado diferente. A face de Deus é agora empregada para descrever os efeitos sensíveis de sua graça e favor; como se houvesse dito: Senhor, faz-me realmente experimentar que estás sempre perto de mim e me permites claramente contemplar teu poder em me salvar. Que observemos bem a distinção entre o conhecimento teórico derivado da Palavra de Deus e o que é denominado de conhecimento experimental de sua graça. Pois visto como Deus se revela presente em ação (como costuma-se dizer), ele deve ser primeiramente buscado em sua Palavra. A cláusula que se segue: não rejeites com ira o teu servo, alguns intérpretes judeus apresentam uma forma muito forçada, ou seja: Não permitas que teu servo seja imerso nas ímpias preocupações deste mundo, as quais nada são senão ira e loucura. Eu, contudo, prefiro traduzir o termo hebraico como muitos o traduzem, a saber: voltar-se de, ou afastar-se. Seu significado é mais provável interpretado assim: Não deixes teu servo inclinar-se para a ira. Quando uma pessoa é completamente abandonada por Deus, ela não pode fazer nada além de ser agitada em seu íntimo por pensamentos murmurantes, irrompendo-se em manifestações de desprazer e ira. Se alguém porventura concluir que Davi agora antecipa esta tentação, não objeto, pois não era sem razão que ele se visse acometido de impaciência, a qual nos enfraquece e nos faz ir além dos limites da razão. Quanto a mim, porém, sigo a primeira explicação, confirmada pelas duas palavras que se seguem; e assim o termo ira introduz uma tácita confissão de pecado; porque, embora Davi reconheça que Deus poderia, com razão, deixá-lo cair, ele deplora sua ira. Além do mais, ao recordar dos primeiros favores de Deus, ele se anima na esperança de receber mais, e com este argumento convence a Deus a continuar com seu auxílio e a não deixar sua obra incompleta.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“ESPERA PELO SENHOR, TEM BOM ÂNIMO”


“ESPERA PELO SENHOR, TEM BOM ÂNIMO”

“Espera pelo SENHOR, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração; espera, pois, pelo SENHOR" (Sl 27.14).

É lícito questionar Davi, havendo nos versículos precedentes falado de si mesmo, aqui dirige seu discurso a outros e os exorta por meio de seu próprio exemplo à paciência fortalecedora e perseverante, como faz na conclusão do Salmo 31.19, onde, depois de falar particularmente acerca de si mesmo, se dirige a todos os santos. Mas, visto que ele, aqui, fala no singular, e não usa qualquer sinal de que dirige seu discurso a outros, em minha opinião é provável que o aplique a si mesmo com o fim de encorajar ainda mais sua confiança em Deus, para que em ocasião alguma seu coração viesse a se desfalecer. Uma vez que era cônscio de sua debilidade, e sabia que sua fé era o grande meio de preservá-lo em segurança, ele oportunamente se fortalece para o futuro. Sob o verbo esperar, igualmente, ele se conscientiza de novas provações e põe ante seus olhos a cruz que deveria carregar. Somos, pois, convidados a esperar em Deus quando, retraindo de nós sua graça, ele permite que nos definhemos submersos em aflições. Davi, pois, havendo enfrentado conflitos, se prepara para enfrentar outros pela frente. Visto, porém, que nada é mais difícil do que dar a Deus a honra de depositarmos nele nossa confiança, quando ele se oculta de nós, ou retarda sua assistência, Davi se anima a recarregar suas energias, como se quisesse dizer: se porventura o medo te vencer; se porventura a tentação abalar tua fé; se porventura as emoções carnais fervilharem tuas veias, não te desfaleças; ao contrário, empenha-te por erguer-te acima deles através de uma invencível resolução mental. Disto podemos aprender que os filhos de Deus triunfam, não pela obstinação, mas pela paciência, quando tranquilamente confiam suas almas a Deus; como diz Isaías: “Na quietude e na confiança tereis vossa força” [Is 30.15]. Como Davi não se sentia preparado para grandes e difíceis esforços, ele se apropria da força divina através da oração. Tivera ele dito não mais que Age como homem, e pareceria ter realçado as emoções de seu próprio livre-arbítrio; no entanto imediatamente acrescenta, como correção, que Deus é quem tinha toda condição de fortalecer seu coração, e mostra com suficiente clareza que, quando os santos se esforçam vigorosamente, sua luta é na força de outro, e não na sua própria. Davi não faz como os hereges que põem seus próprios esforços no que é vão, e a seguir suplicam pelo auxílio divino; ele, porém, uma vez cumprido seu próprio dever, embora soubesse ser destituído de energia própria, ora para que sua deficiência fosse suprida pela graça do Espírito Santo. E como ele sabia que a guerra deverá continuar ao longo de toda sua vida, e que novos conflitos surgiriam diariamente, e que as dificuldades dos santos são amiúde proteladas por um longo período, ele novamente reitera o que havia dito sobre esperar em Deus: Espera, pois, pelo SENHOR.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“O DEUS DA ESPERANÇA VOS ENCHA DE TODO O GOZO E PAZ NO VOSSO CRER”


O DEUS DA ESPERANÇA VOS ENCHA DE TODO O GOZO E PAZ NO VOSSO CRER”

“E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo” (Rm  15.13).

Uma vez mais o apóstolo Paulo conclui a passagem, como antes, com uma oração em que deseja que o Senhor lhes conceda tudo quanto havia ele ordenado. Daqui percebemos que o Senhor de forma alguma avalia seus preceitos segundo nossas forças, nem segundo o poder de nosso livre-arbítrio, nem nos instrui ele em nossos deveres a fim de colocarmos nossa confiança em nossas próprias faculdades e nos prepararmos para render-lhe obediência. Ao contrário disto, os preceitos que ele nos comunica espera a assistência de sua graça para estimular-nos a um insofreável anseio pela oração.

Ao dizer, o Deus da esperança, Paulo está evocando o que temos no último versículo, “E o Deus da paz seja com todos vós”, e significa: “Que o Deus em quem todos nós esperamos vos encha de gozo e de uma consciência tranquila, bem como de unidade e harmonia em vosso crer”. Deus jamais aprovará nossa paz, a menos que estejamos unidos por uma fé sólida e perfeita. Pode ser preferível considerar “paz no vosso crer”  no sentido de que deveriam devotar sua paz ao crer. Só quando nos devotamos ao que aprendemos com serenidade, com alegria e com uma mente determinada é que realmente nos sentimos preparados para a fé. É preferível, contudo, conectar a fé com a paz e a alegria, visto que a fé é o vínculo da santa e legítima concórdia, e a força motriz do santo gozo. Ainda que a paz referida possa ser aquela que todos os crentes possuem interiormente com Deus, o contexto nos leva, antes, à primeira explicação. Ele adiciona para que sejais ricos de esperança, porque a esperança é assim confirmada e aumentada nos crentes. A frase, no poder do Espírito Santo, significa que todas estas coisas são dons da divina munificência. A palavra poder tenciona demonstrar enfaticamente a maravilhosa força pela qual o Espírito Santo produz em nós , esperança e alegria.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

“VINDE APÓS MIM, E EU VOS FAREI PESCADORES DE HOMENS”


“VINDE APÓS MIM, E EU VOS FAREI PESCADORES DE HOMENS”

“Caminhando junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, que lançavam as redes ao mar, porque eram pescadores. E disse-lhes: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. Passando adiante, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco em companhia de seu pai, consertando as redes; e chamou-os. Então, eles, no mesmo instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram” (Mt 4.18-22).

Devemos observar a classe de homens a quem o Senhor Jesus escolheu para serem seus discípulos. Eles pertenciam às camadas mais pobres e humildes da sociedade. Pedro, André, Tiago e João eram todos “pescadores”. A religião de nosso Senhor Jesus Cristo não visava somente aos ricos e cultos; destinava-se ao mundo todo, e a maior parte da humanidade sempre será pobre. A pobreza e a ignorância literária excluíam milhares de pessoas da atenção dos orgulhosos filósofos do mundo pagão. Mas isso não impede a ninguém de ocupar mesmo os mais altos escalões do ministério cristão. Um certo homem é humilde? Ele sente o peso dos seus pecados? Ele está disposto a ouvir a voz de Cristo e segui-Lo? Nesse caso, ele pode ser o mais pobre dos pobres, mas no reino dos céus haverá de ocupar uma posição tão importante quanto qualquer outra pessoa. O intelecto e o dinheiro de nada valem, sem a graça de Deus.

A religião de Cristo deve ter tido a sua origem no céu. Do contrário, nunca teria prosperado e se propagado por toda a terra, conforme tem sucedido. É inútil aos incrédulos tentarem dar resposta a esse argumento. Ele não pode ser contestado. Uma religião que não lisonjeia aos ricos, aos grandes e aos bem instruídos, uma religião cujos primeiros mestres foram pobres pescadores, destituídos de riquezas materiais, posição social ou poder, uma religião como essa jamais teria transtornado o mundo, se não procedesse de Deus. Por um lado, contemplamos os imperadores romanos e os sacerdotes do paganismo, com os seus esplêndidos santuários! Por outro lado, vemos alguns poucos trabalhadores braçais, cristãos, sem grande instrução formal, mas anunciando o evangelho! Acaso, já houve outros dois grupos tão diferentes um do outro? Os que eram fracos mostraram-se fortes; e os que eram fortes mostraram-se fracos. O paganismo ruiu, e o cristianismo tomou o seu lugar. Portanto, o cristianismo deve proceder de Deus.

Deus nos abençoe!

J.C.Ryle (1816-1900).

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“PESCADORES DE HOMENS”


“PESCADORES DE HOMENS”

“Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens” (Mc 1.17).

Pescadores de homens é o mais antigo título pelo qual o ofício ministerial é descrito nas páginas do Novo Testamento. Este título tem raízes mais profundas do que os de bispo, presbítero ou diácono. É a primeira ideia que deveria ficar impressa na mente de todo ministro do evangelho. Um ministro não é um mero leitor de rituais ou um administrador de ordenanças. Compete-lhe ser um “pescador de almas”. O ministro que não se esforça por fazer jus a esse nome está enganado quanto ao seu chamamento.

Um pescador faz esforços para apanhar peixes? Ele se utiliza de todos os meios disponíveis e entristece-se quando não é bem sucedido na pesca? Um ministro do evangelho deve fazer o mesmo. Um pescador mostra-se paciente? Continua trabalhando dia após dia, aguardando e esforçando-se, esperançoso? Que todo ministro do evangelho faça o mesmo. Feliz é o homem em quem estão combinados a habilidade, a diligência e a paciência de um pescador.

Tomemos a resolução de orar intensamente em favor dos ministros do evangelho. Quando eles cumprem corretamente seu ofício, seu trabalho não é leve. Eles carecem de muita intercessão da parte de todos os que são pessoas de oração. Eles não somente precisam cuidar de suas próprias almas, mas também das almas de outros. Não admira que o apóstolo Paulo tenha exclamado: “Quem, porém, é suficiente para estas cousas?” (2Co 2.16).

Deus nos abençoe!

J.C.Ryle (1816-1900).

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“NÃO TEMAS; DORAVANTE SERÁS PESCADOR DE HOMENS”


“NÃO TEMAS; DORAVANTE SERÁS PESCADOR DE HOMENS”

“Disse Jesus a Simão: Não temas; doravante serás pescador de homens” (Lc 5.11).

Podemos acreditar que esta promessa não tencionava referir-se somente a Pedro, e sim a todos os apóstolos; e não apenas a estes, mas também a todos os fiéis ministros do evangelho, que andam nos passos dos apóstolos. Esta promessa foi proferida para oferecer-lhes encorajamento e consolação, para sustentá-los diante do sentimento de fraqueza e inutilidade que às vezes quase os derrota. Eles certamente possuem um tesouro em vasos de barro (2Co 4.7), têm as mesmas paixões que os outros; sentem que seu coração é frágil e incapaz, tal como o de seus ouvintes. Eles são frequentemente tentados a abandonar desesperados o ministério de pregação. Mas a esta circunstância aplica-se a promessa, da qual o Cabeça da igreja espera que eles dependam todos os dias: “Não temas; doravante serás pescador de homens”.

Oremos diariamente suplicando por ministros que sejam verdadeiros sucessores dos apóstolos, a fim de que preguem o mesmo e completo evangelho e vivam a mesma vida santa que eles viveram. Estes são os únicos ministros do evangelho que comprovarão serem pescadores de homens bem-sucedidos. A alguns destes Deus pode conceder mais honra do que a outros. Mas todos os fiéis pregadores do evangelho têm o direito de acreditar que seu trabalho não é em vão. Talvez preguem a Palavra de Deus com muitas lágrimas, não vendo qualquer resultado de seu trabalho. Entretanto, a Palavra de Deus não volta vazia: “Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Is 55.11). O último dia demonstrará que nenhum trabalho feito para Deus foi desperdiçado. Todo fiel pescador de homens reconhecerá que as palavras de Jesus lhe fizeram bem: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens” (Mc 1.17).

Deus nos abençoe!

J.C.Ryle (1816-1900).

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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

“AQUELE QUE NÃO POUPOU O SEU PRÓPRIO FILHO”


“AQUELE QUE NÃO POUPOU O SEU PRÓPRIO FILHO”

“Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?" (Rm 8.32).

Visto que é algo de incomensurável importância que estejamos profunda e plenamente persuadidos do amor paternal de Deus, que continuemos a gloriar-nos nele sem temor, Paulo reitera o valor de nossa reconciliação a fim de confirmar os favores divinos para conosco. É uma notável e brilhante prova de seu inestimável amor, que o Pai não hesitou em entregar seu Filho para nossa salvação. Paulo, pois, extrai seu argumento do maior para o menor, ou seja: visto que nada é mais querido, mais precioso ou mais excelente do que Seu Filho, então ele não negligenciará nada que perceba ser-nos proveitoso.

Que esta passagem sirva para admoestar-nos e exercitar-nos a considerar o que Cristo traz consigo para nós, pois como ele é o penhor do amor solícito de Deus para conosco, então ele não foi enviado para que vivêssemos privados de quaisquer bênçãos ou para chegar-se a nós de mãos vazias, mas cheias de todos os tesouros celestiais, de modo que aqueles que os possuem não sentem carência de coisa alguma que lhes seja necessária para sua plena felicidade. Entregar, aqui, significa expor à morte.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“SE DEUS É POR NÓS, QUEM SERÁ CONTRA NÓS?”


SE DEUS É POR NÓS, QUEM SERÁ CONTRA NÓS?”

“Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31).

Este é o principal e, portanto, o único suporte a sustentar-nos em cada provação. Se porventura Deus não nos fosse propício, nenhuma confiança sólida poderia ser concebida, ainda quando tudo pareça sorrir-nos. Entretanto, em contrapartida, o amor divino não só é suficientemente grande consolação em toda e qualquer dor, mas também suficientemente forte proteção contra todas as tormentas e infortúnio. Há sobejos testemunhos na Escritura com referência a esta verdade, onde os santos, confiando tão-somente no poder divino, ousam menosprezar todo gênero de adversidade com que se deparam no mundo. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra e da morte, não temerei mal algum” [Sl 23.4]. “Em Deus ponho minha confiança, e nada temerei; que me poderá fazer o homem?” [Sl 56.11]. “Não tenho medo de milhares do povo que tomam posição contra mim de todos os lados” [Sl 3.6].

Não há poder abaixo do céu ou acima dele que possa resistir o braço de Deus. Se porventura o temos como nossos Defensor, então não precisamos recear mal algum. Ninguém, pois, demonstrará possuir verdadeira confiança em Deus, senão aquele que se satisfaz com sua proteção, que nada teme nem perde sua coragem. Certamente que os crentes às vezes tremem, porém nunca ficam irremediavelmente destruídos. Em suma, o objetivo do apóstolo era mostrar que a alma piedosa deve manter firme o testemunho interior do Espírito, e não depender de nada que seja externo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“QUE DIREMOS, POIS, À VISTA DESTAS COISAS?”


“QUE DIREMOS, POIS, À VISTA DESTAS COISAS?”

“Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31).

Havendo provado suficientemente seu tema, o apóstolo Paulo agora se prorrompe numa série de exclamações por meio das quais expressa a grandeza de alma que os crentes devem possuir quando as adversidades insistem em fazê-los desesperar-se. Ele nos ensina, através dessas palavras, que a coragem inquebrantável que suplanta a todas as provações reside no paternal e divino favor. A única maneira pela qual nosso julgamento do amor ou da ira de Deus é comumente formado é, como sabemos, pela avaliação de nosso estado atual. É por isso que as coisas às vezes vão mal, a tristeza toma posse de nossas mentes e afasta-se de nós a confiança e consolação. Paulo, contudo, exclama que um princípio mais profundo deve ser buscado, e que, portanto, os que se limitam a fitar o triste espetáculo de nossa batalha laboram em erro. Admito que os açoites divinos devem ser corretamente considerados, em si mesmos, como sendo sinais da ira divina; mas visto que eles se acham sacralizados em Cristo, Paulo ordena aos santos que ponham o amor paternal de Deus acima de tudo mais, de modo que, ao buscar nele seu refúgio, venham confiantemente a triunfar sobre todo o mal. Constitui-se-nos numa muralha de bronze o fato de Deus nos ser favorável e nos fazer seguros contra todo perigo. Paulo, contudo, não pretende ensinar-nos que jamais enfrentaremos qualquer oposição, senão que nos promete vitória sobre toda classe de inimigo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quarta-feira, 4 de setembro de 2024

“ALEGRA-SE, POIS, O MEU CORAÇÃO”


ALEGRA-SE, POIS, O MEU CORAÇÃO”

“Alegra-se, pois, o meu coração, e o meu espírito exulta;  até o meu corpo repousará seguro” (Sl 16.9).

Neste versículo, o salmista Davi enaltece o inestimável fruto da fé, do qual a Escritura por toda parte faz menção, em que, ao colocar-nos sob a proteção de Deus, ela nos faz não só vivermos no desfruto da tranquilidade mental, mas, o que é melhor, a vivermos uma vida de paz e triunfante regozijo. A parte principal e essencial de uma vida feliz, como bem sabemos, consiste em possuirmos tranquilidade de consciência e de mente; enquanto que, ao contrário, não há maior infelicidade do que ser agitado em meio a uma infinidade de preocupações e temores.

Mas os ímpios, por mais intoxicados estejam com o espírito de precipitação e estupidez, jamais experimentam genuína alegria ou serena paz mental; ao contrário, sentem terrível agitação interior, que os surpreende e os atribula, tanto que os constrange a acordarem de sua letargia. Em suma, o sereno regozijo não é a porção de nenhum outro, senão daquele que aprendeu a pôr sua confiança unicamente em Deus, bem como a confiar sua vida e sua segurança à proteção dele. Quando, pois, nos virmos cercados de todos os lados por inumeráveis dificuldades, sintamo-nos persuadidos de que o único remédio é dirigirmos nossos olhos para Deus; e se agirmos assim, a fé não só tranquilizará nossas mentes, mas também as encherá da plenitude de alegria. E não é sem motivo, porque os verdadeiros crentes não só possuem essa alegria espiritual na afeição secreta de seu coração, mas também ela se manifesta através do espírito, visto que se gloriam em Deus como Aquele que os protege e lhes assegura a salvação.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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terça-feira, 3 de setembro de 2024

“QUANTO AOS SANTOS QUE ESTÃO NA TERRA”

 


“QUANTO AOS SANTOS QUE ESTÃO NA TERRA”

Quanto aos santos que estão na terra, e os excelentes, neles está todo o meu deleite” (Sl 16.3).

Quase todos concordam em tomar esse lugar como se Davi, depois da frase que estivemos justamente considerando, acrescentasse: A única forma de servir a Deus corretamente é sem demora fazendo o bem a seus santos servos. E a verdade é que Deus, já que nossas boas ações não chegam a ele, coloca os santos em seu lugar, em favor de quem devemos exercer nossa caridade. Quando os homens, pois, mutuamente se esforçam em fazer o bem uns aos outros, isso equivale a dedicar a Deus um serviço justo e aceitável. Sem dúvida, devemos estender nossa caridade mesmo aos que dela são indignos, precisamente como nosso Pai celestial “faz seu sol nascer sobre os maus e os bons” [Mt 5.45]. Davi, porém, com razão prefere os santos a quaisquer outros, e os coloca numa categoria mais proeminente. Essa, pois, como me expressei no início, é a opinião comum de quase todos os intérpretes. Mas ainda que eu não negue que esta doutrina esta compreendida nas palavras de Davi, creio que eu avanço um tanto mais, e afirmo que ele se unirá com os devotos adoradores de Deus, os quais são seus associados e companheiros, ainda quando todos os filhos de Deus devam estar unidos pelos laços da união fraternal, a fim de que todos sejam qualificados a servir e a invocar a seu Pai comum com a mesma afeição e zelo. E assim vemos que Davi, depois de ter confessado que não podia encontrar nada em si para oferecer a Deus, visto estar endividado para com ele por tudo quanto possuía, deposita sua afeição nos santos, porquanto é a vontade de Deus que, neste mundo, seja ele magnificado e exaltado na assembleia dos justos, aos quais ele adotou em sua família com esse propósito, ou seja, para que vivam unidos em comum acordo sob sua autoridade e sob as diretrizes do Espírito Santo.

Esta passagem, pois, nos ensina que não há sacrifício mais aceitável a Deus do que quando sincera e honestamente nos unimos à sociedade dos justos e nos entrelaçamos pelos sagrados laços da piedade, cultivando e mantendo com eles a boa vontade fraternal. Nisso consiste a comunhão dos santos, a qual os separa das degradantes poluições do mundo, a fim de que sejam o povo santo e peculiar de Deus. Ele expressamente fala de os santos que estão na terra, visto que é a vontade de Deus que, mesmo neste mundo, haja aquelas claras marcas - como se fossem brasões visíveis - de sua glória, as quais sirvam para conduzir-nos a ele. Os fiéis, pois, levam sua imagem para que, mediante seu exemplo, sejam incitados à meditação sobre a vida celestial. Pela mesma razão, o salmista os chama, excelentes, ou nobres, porquanto não deve haver nada mais precioso para nós do que a justiça e a santidade, nas quais resplandece a glória do Espírito de Deus; precisamente como somos concitados no Salmo anterior a dar valor e prestigiar aos que temem a Deus.

Devemos, pois, valorizar e apreciar de forma sublime os genuínos e devotados servos de Deus, e não considerar nada mais importante do que nossa participação de sua sociedade. E isso realmente faremos se sabiamente refletirmos sobre em que consiste a genuína excelência e dignidade e não permitir que o vão esplendor do mundo e suas pompas ilusórias ofusquem nossos olhos.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
*Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

“MINHA BENEFICÊNCIA NÃO TE ALCANÇA”


“MINHA BENEFICÊNCIA NÃO TE ALCANÇA”

“Dirás ao SENHOR: Tu és o meu SENHOR; minha beneficência não te alcança” (Sl 16.2).

Davi começa afirmando que ele não pode dar nada a Deus, não só porque Deus não tem necessidade de coisa alguma, mas também porque o homem mortal não pode merecer o favor divino por algum serviço que porventura venha a realizar para Deus. Ao mesmo tempo, contudo, ele toma alento e, visto que Deus aceita nossa devoção e o serviço que a ele dedicamos, Davi declara que será um de seus servos. A fim de reanimar-se o mais eficazmente possível para o exercício desse dever, ele fala à sua própria alma; pois a palavra hebraica que se traduz por dirás é do gênero feminino, a qual pode referir-se somente à alma. Talvez alguns prefiram ler a palavra no pretérito: Tu disseste, o que acho perfeito, pois o salmista está falando de um sentimento que tinha sido acalentado continuamente em sua alma. Estou deveras convencido em meu coração de que a substância de sua linguagem é que Deus não pode extrair proveito ou tirar vantagem de mim; não obstante isso, unir-me-ei em comunhão com os santos, para que de comum acordo adoremos a Deus por meio de sacrifícios de louvor.

Duas coisas são distintamente estabelecidas neste versículo. A primeira é que Deus tem o direito de requerer de nós o que lhe apraz, visto que estamos totalmente ligados a ele como nosso legítimo Proprietário e Senhor. Davi, ao atribuir-lhe o poder e o domínio de Senhor, declara que tanto ele mesmo quanto tudo o que ele possuía são propriedades de Deus. O outro particular contido neste versículo é o reconhecimento que o salmista tinha de sua própria indigência.

Minha beneficência não te alcança. Os intérpretes explicam essa última cláusula de duas maneiras. Alguns extraem dela este sentido, a saber: que Deus sob nenhuma obrigação, ou, no mínimo grau, não nos deve algo pelos feitos bons que praticamos para ele; e entendem o termo beneficência num sentido passivo, como se Davi afirmasse que toda bondade que ele recebia de Deus não procedia de alguma obrigação que ele impusesse a Deus, nem de algum mérito que porventura possuísse. Creio, porém, que a frase tem um significado mais extenso, ou seja, por mais que os homens se esforcem por sempre depender de Deus, não obstante isso não lhe proporciona nenhuma vantagem. Nossa beneficência não chega a ele, não só porque, possuindo toda auto-suficiência, ele não necessita de coisa alguma, mas também porque somos vazios e destituídos de todo bem e nada temos como demonstrar-lhe nossa liberalidade para com ele. À luz dessa doutrina, contudo, o outro ponto sobre o qual toquei antes se seguirá, ou seja, que é impossível para os homens, por quaisquer méritos propriamente seus, fazerem Deus obrigar-se em relação a eles, de modo a torná-lo seu devedor. A suma do discurso é que, quando chegamos diante de Deus, devemos desvencilhar-nos de toda e qualquer presunção. Quando imaginamos haver algum bem em nós, não carecemos de ficar surpresos se ele nos rejeitar, como se, com isso, estivéssemos despojando-o da parte principal da honra que lhe é devida. Mas, ao contrário, se reconhecermos que todos os serviços que podemos prestar-lhe em si mesmos nada são, e são indignos de qualquer recompensa, essa humildade é como um aroma de suave cheiro, que alcança para si aceitação diante de Deus.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“GUARDA-ME, Ó DEUS”


“GUARDA-ME, Ó DEUS”

“Guarda-me, ó Deus, porque em ti me confio” (Sl 16.1).

Eis aqui uma oração em que Davi se confia à proteção divina. Entretanto, aqui ele não implora o auxílio divino, em alguma emergência específica, como frequentemente faz em outros Salmos, mas simplesmente roga-lhe que se manifeste na qualidade de protetor durante todo o curso de sua vida. Na verdade nossa segurança toda, tanto na vida quanto na morte, depende inteiramente de estarmos sob a proteção divina. O que se segue concernente a confiar significa o mesmo que se o Espírito Santo nos assegurasse pelos lábios de Davi que Deus está pronto a socorrer a todos nós, contanto que confiemos nele com uma fé definida e estável; e que não toma sob sua proteção a ninguém senão aqueles que se confiam a ele de todo o seu coração. Ao mesmo tempo, devemos ter em mente que Davi, guarnecido por essa confiança, continuou firme e inamovível em meio a todas as tormentas de adversidades com que era ele atingido.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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domingo, 1 de setembro de 2024

“NA TUA PRESENÇA HÁ PLENITUDE DE ALEGRIA”



“NA TUA PRESENÇA HÁ PLENITUDE DE ALEGRIA”

“Tu me farás ver os caminhos da vida; na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente” (Sl 16.11).

O salmista Davi confirma a afirmação feita no versículo 10, e explica o modo como Deus o isentará da escravidão da morte, ou seja, conduzindo-o e trazendo-o finalmente a salvo à posse da vida eterna. Desse fato uma vez mais aprendemos o que já observei, ou seja, que esta passagem toca na diferença que há entre os verdadeiros crentes e os forasteiros ou réprobos, com respeito ao seu estado eterno. É mero discurso enganoso dizer que, quando Davi, aqui, fala de a vereda da vida lhe sendo mostrada, significa o prolongamento de sua vida natural. Aliás, falar de Deus como guia de seu povo na vereda da vida apenas por uns poucos anos neste mundo é uma forma muito pobre de avaliar sua graça. Nesse caso, eles não difeririam em nada dos réprobos, os quais desfrutam da luz do sol da mesmíssima forma que eles [os santos], Se, pois, é a graça especial de Deus não comunicar o conhecimento da vereda da vida, da qual ele fala, a ninguém mais, senão a seus próprios filhos, a quem Davi aqui magnifica e exalta, então indubitavelmente ela deve ser vista como que se estendendo também à bendita imortalidade; e de fato só conhece a vereda da vida aquele que está unido a Deus e que vive em Deus, e não pode viver sem ele.

A seguir Davi acrescenta que, quando Deus se reconcilia conosco, temos todas as coisas que nos são necessárias para a perfeita felicidade. A frase, na tua presença, pode ser entendida ou de sermos vistos por Deus ou de ele ser visto por nós. Quanto a mim, porém, considero ambas as ideias como inclusas reciprocamente, pois seu favor paternal, o qual ele exibe olhando para nós com um semblante sereno, precede essa alegria, e é a causa primeira dela, e no entanto isso ainda não nos alegra, de nossa parte, até que o vejamos resplandecente sobre nós. Com essa cláusula Davi pretendia também distintamente expressar a quem tais delícias pertencem, dos quais Deus tem em sua mão uma plena e superabundante plenitude. Visto que com Deus há prazeres suficientes para reabastecer e satisfazer o mundo inteiro, donde procede toda a escuridão sinistra e mortal que envolve a maior parte da humanidade, senão porque Deus não olha para todos os homens igualmente com seu semblante amigo e paterno, nem abre os olhos de todos os homens para que busquem a essência de sua alegria nele, e em nenhum outro?

Plenitude de alegria é contrastada com fascinações e prazeres evanescentes deste mundo transitório, o qual, depois de ter divertido seus miseráveis adeptos por algum tempo, por fim os deixa insatisfeitos, famintos e decepcionados. Podem intoxicar-se e empanturrar-se de prazeres até à máxima saciedade, mas, em vez de se sentirem satisfeitos, ao contrário se tornam cansados deles com profunda repugnância. Além disso, os prazeres deste mundo se desvanecem como sonhos. Davi, pois, testifica que a verdadeira e sólida alegria, na qual as mentes dos homens podem repousar, jamais será encontrada em alguma outra parte senão em Deus. Portanto, ninguém mais além dos fiéis, que vivem contentes só com a graça divina, podem viver real e perfeitamente felizes.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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