“NÃO ME ARRASTES COM OS ÍMPIOS”
“Não me arrastes com os ímpios, com os que praticam a iniquidade; os quais falam de paz ao seu próximo, porém no coração têm perversidade" (Sl 28.3).
O sentido destas palavras, "Não me arrastes com os ímpios", consiste em que, em circunstâncias tão dessemelhantes, Deus não mistura o justo com o perverso, indiscriminadamente, na mesma destruição. Indubitavelmente, também, ao falar de seus inimigos, o salmista Davi indiretamente assevera sua própria integridade. Mas não ora desta maneira, porquanto pensava que Deus estivesse indiscriminada e irrevogavelmente irado contra os homens. Seu raciocínio tem por base a natureza de Deus, e assim nutre boa esperança, porquanto a prerrogativa divina era que Deus faz distinção entre o justo e o perverso, e retribui a cada um segundo seu merecimento. Por praticantes da iniquidade ele quer dizer o homem totalmente habituado à perversidade. Os filhos de Deus às vezes caem, cometem erros e agem equivocadamente de um ou outro modo, contudo não sentem prazer em seus malfeitos; o temor de Deus, ao contrário, os estimula ao arrependimento. Davi, subsequentemente, define e amplia a perversidade daqueles a quem ele descreve; pois sob a pretensão de amizade perfidamente enganavam as pessoas boas, afirmando com sua língua uma coisa, enquanto que em seus corações acalentavam algo muito diferente. A depravação franca é mais fácil de ser suportada do que a astúcia da raposa, quando as pessoas apresentam bela aparência a fim de granjearem uma oportunidade de fazer malefício. Esta verdade, consequentemente, nos admoesta que aqueles são mais detestáveis aos olhos de Deus, pois atacam os simplórios e desavisados com bela linguagem saturada de peçonha.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).