"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



terça-feira, 3 de setembro de 2024

“MINHA BENEFICÊNCIA NÃO TE ALCANÇA”


“MINHA BENEFICÊNCIA NÃO TE ALCANÇA”

“Dirás ao SENHOR: Tu és o meu SENHOR; minha beneficência não te alcança” (Sl 16.2).

Davi começa afirmando que ele não pode dar nada a Deus, não só porque Deus não tem necessidade de coisa alguma, mas também porque o homem mortal não pode merecer o favor divino por algum serviço que porventura venha a realizar para Deus. Ao mesmo tempo, contudo, ele toma alento e, visto que Deus aceita nossa devoção e o serviço que a ele dedicamos, Davi declara que será um de seus servos. A fim de reanimar-se o mais eficazmente possível para o exercício desse dever, ele fala à sua própria alma; pois a palavra hebraica que se traduz por dirás é do gênero feminino, a qual pode referir-se somente à alma. Talvez alguns prefiram ler a palavra no pretérito: Tu disseste, o que acho perfeito, pois o salmista está falando de um sentimento que tinha sido acalentado continuamente em sua alma. Estou deveras convencido em meu coração de que a substância de sua linguagem é que Deus não pode extrair proveito ou tirar vantagem de mim; não obstante isso, unir-me-ei em comunhão com os santos, para que de comum acordo adoremos a Deus por meio de sacrifícios de louvor.

Duas coisas são distintamente estabelecidas neste versículo. A primeira é que Deus tem o direito de requerer de nós o que lhe apraz, visto que estamos totalmente ligados a ele como nosso legítimo Proprietário e Senhor. Davi, ao atribuir-lhe o poder e o domínio de Senhor, declara que tanto ele mesmo quanto tudo o que ele possuía são propriedades de Deus. O outro particular contido neste versículo é o reconhecimento que o salmista tinha de sua própria indigência.

Minha beneficência não te alcança. Os intérpretes explicam essa última cláusula de duas maneiras. Alguns extraem dela este sentido, a saber: que Deus sob nenhuma obrigação, ou, no mínimo grau, não nos deve algo pelos feitos bons que praticamos para ele; e entendem o termo beneficência num sentido passivo, como se Davi afirmasse que toda bondade que ele recebia de Deus não procedia de alguma obrigação que ele impusesse a Deus, nem de algum mérito que porventura possuísse. Creio, porém, que a frase tem um significado mais extenso, ou seja, por mais que os homens se esforcem por sempre depender de Deus, não obstante isso não lhe proporciona nenhuma vantagem. Nossa beneficência não chega a ele, não só porque, possuindo toda auto-suficiência, ele não necessita de coisa alguma, mas também porque somos vazios e destituídos de todo bem e nada temos como demonstrar-lhe nossa liberalidade para com ele. À luz dessa doutrina, contudo, o outro ponto sobre o qual toquei antes se seguirá, ou seja, que é impossível para os homens, por quaisquer méritos propriamente seus, fazerem Deus obrigar-se em relação a eles, de modo a torná-lo seu devedor. A suma do discurso é que, quando chegamos diante de Deus, devemos desvencilhar-nos de toda e qualquer presunção. Quando imaginamos haver algum bem em nós, não carecemos de ficar surpresos se ele nos rejeitar, como se, com isso, estivéssemos despojando-o da parte principal da honra que lhe é devida. Mas, ao contrário, se reconhecermos que todos os serviços que podemos prestar-lhe em si mesmos nada são, e são indignos de qualquer recompensa, essa humildade é como um aroma de suave cheiro, que alcança para si aceitação diante de Deus.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
*Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário