“ESPERA PELO SENHOR, TEM BOM ÂNIMO”
“Espera pelo SENHOR, tem bom ânimo, e fortifique-se o teu coração;
espera, pois, pelo SENHOR" (Sl 27.14).
É lícito
questionar Davi, havendo nos versículos precedentes falado de si mesmo, aqui
dirige seu discurso a outros e os exorta por meio de seu próprio exemplo à
paciência fortalecedora e perseverante, como faz na conclusão do Salmo 31.19,
onde, depois de falar particularmente acerca de si mesmo, se dirige a todos os
santos. Mas, visto que ele, aqui, fala no singular, e não usa qualquer sinal de
que dirige seu discurso a outros, em minha opinião é provável que o aplique a
si mesmo com o fim de encorajar ainda mais sua confiança em Deus, para que em
ocasião alguma seu coração viesse a se desfalecer. Uma vez que era cônscio de
sua debilidade, e sabia que sua fé era o grande meio de preservá-lo em segurança,
ele oportunamente se fortalece para o futuro. Sob o verbo esperar, igualmente, ele se conscientiza de novas provações e
põe ante seus olhos a cruz que deveria carregar. Somos, pois, convidados a
esperar em Deus quando, retraindo de nós sua graça, ele permite que nos
definhemos submersos em aflições. Davi, pois, havendo enfrentado conflitos, se
prepara para enfrentar outros pela frente. Visto, porém, que nada é mais difícil
do que dar a Deus a honra de depositarmos nele nossa confiança, quando ele se
oculta de nós, ou retarda sua assistência, Davi se anima a recarregar suas
energias, como se quisesse dizer: se porventura o medo te vencer; se porventura
a tentação abalar tua fé; se porventura as emoções carnais fervilharem tuas
veias, não te desfaleças; ao contrário, empenha-te por erguer-te acima deles
através de uma invencível resolução mental. Disto podemos aprender que os
filhos de Deus triunfam, não pela obstinação, mas pela paciência, quando tranquilamente
confiam suas almas a Deus; como diz Isaías: “Na quietude e na confiança tereis
vossa força” [Is 30.15]. Como Davi não se sentia preparado para grandes e
difíceis esforços, ele se apropria da força divina através da oração. Tivera
ele dito não mais que Age como homem, e pareceria ter realçado as
emoções de seu próprio livre-arbítrio; no entanto imediatamente acrescenta, como correção, que Deus é quem tinha toda condição de fortalecer seu
coração, e mostra com suficiente clareza que, quando os santos se esforçam
vigorosamente, sua luta é na força de outro, e não na sua própria. Davi não faz
como os hereges que põem seus próprios esforços no que é vão, e a seguir
suplicam pelo auxílio divino; ele, porém, uma vez cumprido seu próprio dever,
embora soubesse ser destituído de energia própria, ora para que sua deficiência
fosse suprida pela graça do Espírito Santo. E como ele sabia que a guerra
deverá continuar ao longo de toda sua vida, e que novos conflitos surgiriam
diariamente, e que as dificuldades dos santos são amiúde proteladas por um
longo período, ele novamente reitera o que havia dito sobre esperar em Deus: Espera, pois, pelo SENHOR.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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