“QUE DIREMOS, POIS, À VISTA DESTAS COISAS?”
“Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é
por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31).
Havendo provado
suficientemente seu tema, o apóstolo Paulo agora se prorrompe numa série de
exclamações por meio das quais expressa a grandeza de alma que os crentes devem
possuir quando as adversidades insistem em fazê-los desesperar-se. Ele nos ensina,
através dessas palavras, que a coragem inquebrantável que suplanta a todas as provações reside no paternal e divino favor. A única maneira pela qual nosso
julgamento do amor ou da ira de Deus é comumente formado é, como sabemos, pela
avaliação de nosso estado atual. É por isso que as coisas às vezes vão mal, a
tristeza toma posse de nossas mentes e afasta-se de nós a confiança e
consolação. Paulo, contudo, exclama que um princípio mais profundo deve ser
buscado, e que, portanto, os que se limitam a fitar o triste espetáculo de
nossa batalha laboram em erro. Admito que os açoites divinos devem ser
corretamente considerados, em si mesmos, como sendo sinais da ira divina; mas
visto que eles se acham sacralizados em Cristo, Paulo ordena aos santos que ponham
o amor paternal de Deus acima de tudo mais, de modo que, ao buscar nele seu
refúgio, venham confiantemente a triunfar sobre todo o mal. Constitui-se-nos
numa muralha de bronze o fato de Deus nos ser favorável e nos fazer seguros
contra todo perigo. Paulo, contudo, não pretende ensinar-nos que jamais enfrentaremos
qualquer oposição, senão que nos promete vitória sobre toda classe de inimigo.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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