“DAR-TE-EI AS CHAVES DO REINO DOS CÉUS”
“Dar-te-ei as
chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o
que desligares na terra terá sido desligado nos céus” (Mt 16.19).
O que devemos compreender
quando lemos a promessa que nosso Senhor Jesus fez a Pedro: “Dar-te-ei as
chaves do reino dos céus”? Teriam conferido a Pedro o direito de admitir almas
no céu? Tal ideia é ilógica, porque esse ofício é uma prerrogativa especial do
próprio Jesus Cristo (Ap 1.18). Será, então, que Pedro deveria ter a primazia
ou superioridade sobre os demais apóstolos? Não há a menor prova que tal
dignidade tivesse sido atribuída a essas palavras de Jesus, na época neo-testamentária;
nem há prova de que Pedro tivesse qualquer autoridade ou dignidade superior aos
demais apóstolos.
Parece-nos que o verdadeiro sentido dessa promessa feita por Cristo é que Pedro teria o privilégio especial de abrir, pela primeira vez, a porta da salvação tanto aos judeus como aos gentios. E isso cumpriu-se à risca quando ele anunciou o evangelho aos judeus, no dia de Pentecoste, e quando visitou o gentio Cornélio em sua casa (At 2.14-41; 10.1-48).
Em cada ocasião
Pedro utilizou as “chaves” e abriu completamente a porta da fé. E, ao que tudo
indica, Pedro tinha plena consciência disso, pois afirmou: “Deus me escolheu
dentre vós para que, por meu intermédio, ouvissem os gentios a palavra do
evangelho e cressem” (At 15.7).
E mais, o que
devemos entender quando lemos: “o que ligares na terra, terá sido ligado nos
céus; e o que desligares na terra, terá sido desligado nos céus”? Teria o
apóstolo recebido algum poder de perdoar pecados e absolver os pecadores? Tal
noção tão-somente deprecia o ofício especial de Jesus Cristo como nosso grande
Sumo Sacerdote. Jamais encontramos Pedro, ou qualquer outro apóstolo, exercendo
algum poder de perdoar pecados. Eles sempre encaminhavam as pessoas a Cristo,
para o perdão.
O verdadeiro
significado dessa promessa parece ser que Pedro e os demais apóstolos seriam
especialmente comissionados para ensinar o caminho da salvação, com autoridade.
Assim como os sacerdotes do Velho Testamento declaravam autoritativamente quem havia
sido curado da lepra, também os apóstolos foram nomeados para declarar e pronunciar
com autoridade, quem havia sido perdoado de seus pecados. Além disso, eles
seriam especialmente inspirados para estabelecer regras e regulamentos para
orientação da igreja. Algumas coisas deviam ser “ligadas”, ou proibidas, e
outras deviam ser “desligadas”, ou permitidas. A decisão do concílio de
Jerusalém, de que os gentios não precisavam ser circuncidados, foi um exemplo
do exercício desse poder (At 15.19). Mas essa foi uma comissão especialmente restrita
aos apóstolos. Eles não tiveram sucessores, essa tarefa começou e terminou com
eles.
Deus nos
abençoe!
J.C.Ryle (1816-1900).
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