“QUER POR PRETEXTO, QUER POR VERDADE”
“Todavia, que
importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por
pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me
regozijarei” (Fp 1.18).
Aqueles que realmente amam a Cristo reconhecem que lhes seria
uma desgraça se não se associassem com o apóstolo Paulo, como seus
companheiros, enquanto mantinham a causa do evangelho; e devemos agir da mesma
maneira, procurando oferecer auxílio, até onde isso seja possível, aos servos
de Cristo quando se veem em dificuldades. Observe novamente esta expressão - incumbidos da defesa do
evangelho (v.16). Porque, visto que Cristo nos confere tão grande honra, que
desculpa teríamos se fôssemos traidores de sua causa; ou, o que se poderá
esperar se a trairmos por meio de nosso silêncio, senão que ele, por sua vez,
abandonará nossa causa, ele que é nosso único Advogado, Patrono, junto ao Pai? [1Jo 2.1].
Visto que a disposição perversa daqueles de quem Paulo falava poderia diminuir a aceitação da doutrina, ele diz que isto deve ser tido como importante: que eles, não obstante, promoviam a causa do evangelho, não importa qual seja sua disposição. Pois Deus às vezes realiza uma obra admirável por meio de instrumentos perversos e depravados. Consequentemente, ele diz que se alegra com um resultado feliz dessa natureza; porque ele contendia por esta única coisa: ver o reino de Cristo se expandir; justamente como nós, ao ouvirmos o que aquele cão imundo, Petrus Carolus, espalhava a mão cheia as sementes da doutrina pura em Avignon e em outros lugares, demos graças a Deus por ele ter feito uso da mais libertina e indigna vilania para sua própria glória; e neste dia nos alegramos no fato de o evangelho avançar através de muitos que, apesar disso, têm outros propósitos em vista. Mas, ainda que Paulo se regozijasse no avanço do evangelho, contudo, embora tivesse o problema em mãos, ele nunca ordenou tais pessoas como ministros. Devemos, pois, regozijar-nos se Deus realiza algo que é bom pela instrumentalidade dos perversos; mas nem por isso devemos ou pôr tais pessoas no ministério, ou considerá-las como ministros legítimos de Cristo.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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