“O DÉCIMO MANDAMENTO”
“Não cobiçarás a casa de
teu próximo, não cobiçarás a mulher de teu próximo, nem seu servo, nem sua serva, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma de teu próximo” [Êx 20.17].
O propósito deste mandamento é: visto que
Deus quer que a alma toda seja possuída do afeto do amor, de nossas disposições
se deve alijar todo desejo contrário à caridade. Portanto, a síntese será que
não se nos insinue qualquer pensamento que nos mova o espírito com uma
concupiscência danosa e tendente ao detrimento de outrem. A que corresponde o
preceito oposto, que tudo quanto concebemos, deliberamos, queremos, intentamos,
seja isto associado com o bem e proveito do próximo.
Aqui, porém, segundo parece, surge-nos grande e perplexiva dificuldade.
Ora, se com verdade dissemos
anteriormente que sob os termos fornicação e furto se
coibiam o desejo de fornicar e a intenção de prejudicar e enganar, pode
parecer ter sido supérfluo que depois se nos proibisse, em separado, a cobiça
dos bens alheios. No entanto, facilmente nos desatará este nó ante a distinção
entre intenção e cobiça. Porque, a intenção, como já falamos sobre
os mandamentos anteriores, é o consenso deliberado da vontade, quando a
concupiscência subjugou a mente; a cobiça pode existir aquém de tal deliberação e assentimento, quando a mente é apenas espicaçada e afagada de objetos vãos e pervertidos.
Portanto, da mesma forma que até aqui o Senhor ordenou que a norma da
caridade presida a nossas vontades, a
nossos esforços, a nossas ações, assim agora ordena sejam
conduzidos à mesma norma os
pensamentos de nossa mente, para que não haja nenhum pensamento corrupto e
pervertido, que incite a mente em outra
direção. Da mesma forma que proibiu que a mente fosse inclinada e
induzida à ira, ao ódio, à fornicação, à rapina, à mentira, assim proíbe agora
que ela seja sequer incitada a essas
transgressões.
Ser cristão debaixo da lei da graça não é vaguear desenfreadamente sem
lei, mas estar enxertado em Cristo, por cuja graça está liberado da maldição da
lei e por cujo Espírito tem a lei gravada no coração.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
*Agradecemos sua oferta (Pix 083.620.762-91).
Nenhum comentário:
Postar um comentário