“NÃO ANDEIS ANSIOSOS POR COISA ALGUMA”
“Não andeis
ansiosos por coisa alguma; antes, em tudo sejam vossos pedidos conhecidos
diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças; e a paz de Deus, que
excede todo o entendimento, guardará vossos corações e vossos pensamentos em
Cristo Jesus” (Fp 4.6,7).
Com estas palavras,
o apóstolo Paulo exorta os filipenses, como faz Pedro [1Pe 5.7], a “lançar
sobre o Senhor toda ansiedade”. Porquanto nossa estrutura não é de ferro para
que não possa ser abalada por provações. Mas esta é nossa consolação, este é
nosso refrigério - depositar ou (para dizer com mais propriedade) descarregar
no seio de Deus tudo o que nos afadiga. É verdade que a confiança produz tranquilidade
em nossas mentes, mas só quando pomos em prática o exercício de orações.
Portanto, sempre que formos atingidos por qualquer provação ou tentação,
recorramos sem delonga à oração, como nosso santo abrigo.
Paulo aqui
emprega o termo “pedido” para denotar desejos ou aspirações. Ele quer que se façamos
estes conhecidos de Deus por meio da oração e súplica, como se os crentes
derramassem seus corações diante de Deus, ao confiarem-lhe a si próprios e também
tudo o que possuem. Com efeito, todos os que olham em várias direções em busca
dos insignificantes confortos do mundo podem, até certo ponto, parecer
aliviados; mas só existe um refúgio seguro - descansar no Senhor.
Com ações de graças. Quão repetidamente oramos
a Deus erroneamente, saturados de queixas ou de murmurações, como se tivéssemos
apenas motivo para acusá-lo, enquanto que em outras orações não toleramos
demora, caso ele não satisfaça imediatamente nossos desejos. Paulo, por essa
conta, anexa ações de graças às orações. É como se ele quisesse dizer que
devemos desejar aquelas coisas que nos são necessárias da parte do Senhor de
tal maneira que, não obstante, sujeitemos nossas aflições ao seu beneplácito e
demos graças enquanto apresentamos nossas petições. E, inquestionavelmente, a
gratidão terá sobre nós este efeito - que a vontade de Deus será a grande soma
de nossos desejos.
E a paz de Deus. Temos aqui uma promessa em que o apóstolo
realça a vantagem de uma sólida confiança em Deus e invocação a ele. “Se
fizerdes isso”, diz ele, “a paz de Deus guardará vossas mentes e corações”. A
Escritura costuma dividir a alma do homem, quanto às suas fragilidades, em duas
partes: a mente e o coração. A mente significa o entendimento;
enquanto que o coração denota todas as disposições ou inclinações.
Estes dois termos, pois, incluem a totalidade da alma, neste sentido: “A
paz de Deus vos guardará a ponto de impedir que volteis as costas para Deus com
pensamentos ou desejos perversos.”
É com boa razão
que Paulo chame isto de a paz de Deus, visto que ela não depende do
presente aspecto das coisas nem pende conforme as várias oscilações do mundo, porém
se fundamenta na sólida e imutável palavra de Deus. É sobre essas bases também
que ele fala dela como algo que excede todo entendimento ou percepção,
pois nada é mais estranho à mente humana do que, nas profundezas do desespero,
não obstante exercitarmos o senso de esperança; nas profundezas da pobreza,
vermos opulência; e nas profundezas da fraqueza, não nos permitirmos recuar; e,
por fim, prometermos a nós mesmos que nada nos faltará, quando destituídos de
todas as coisas, e tudo isto tão-somente na graça de Deus, a qual não se
manifesta, senão através da palavra e da convicção interna do Espírito.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
*Agradecemos sua oferta (Pix 083.620.762-91).
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