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terça-feira, 4 de março de 2025

“TANTO O QUERER COMO O REALIZAR”


“TANTO O QUERER COMO O REALIZAR”

“Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13).

Este é o verdadeiro mecanismo que lança por terra toda arrogância - é a espada que põe fim a todo orgulho, quando aprendemos que somos meramente nada, e nada podemos fazer, a não ser pela graça de Deus somente. Quero dizer a graça supernatural que procede do espírito de regeneração. Pois, considerados como meros homens, “só existimos, vivemos e nos movemos em Deus” [At 17.28]. Aqui, porém, Paulo raciocina quanto a um tipo de movimento diferente daquele universal. Observemos agora quanto ele atribui a Deus e quanto ele deixa para nós.

Há, em qualquer ação, dois departamentos principais - a inclinação e o poder de execução. Ele atribui totalmente a Deus ambos esses elementos; o que mais nos resta como base de vangloria? Nem mesmo há alguma razão para se duvidar de que esta divisão tem a mesma força como se Paulo expressasse tudo numa única palavra; pois a inclinação é a obra; a realização dela é o topo do edifício levado à completação. Ele, pois, disse muito mais do que se tivesse dito que Deus é o Autor do “começo” e do “fim”. Pois, nesse caso, os sofistas teriam alegado, astuciosamente, que o “meio” foi deixado aos homens. Mas como é possível que descubram aquilo que, em algum grau, cabe somente a nós [realizar]? Trabalham arduamente em suas escolas a fim de conciliar o livre-arbítrio com a graça de Deus - [livre-arbítrio], quero dizer, como o concebem - a ponto de poder surgir por força própria e que tem um poder peculiar e distinto pelo qual ele pode cooperar com a graça de Deus. Não rejeito o nome, e sim a coisa em si. Para que o livre--arbítrio se harmonize com a graça, eles os separam de tal maneira que Deus restaura em nós uma livre escolha, para que tenhamos em nosso próprio poder o querer corretamente. E assim eles reconhecem haver recebido de Deus o poder de querer corretamente, porém designam ao homem uma inclinação boa. Entretanto, Paulo declara que esta é uma obra de Deus, sem qualquer reserva. Pois ele não diz que nossos corações são simplesmente convertidos ou despertados, ou que a falta de firmeza de [alguém com] boa vontade é auxiliada, mas que uma inclinação positiva é uma obra inteiramente de Deus.

Ora, na calúnia que eles apresentam contra nós - de que enxergamos os homens como pedras quando ensinamos que nada possuem de bom, exceto o que procede da mais pura graça, agem de maneira despudorada. Pois reconhecemos que temos da natureza uma inclinação, porém, visto ser ela depravada em decorrência do pecado, ela só começa a ser boa quando é renovada por Deus. Tampouco dizemos que uma pessoa faz algo bom sem o querer, porém ele só faz isso quando sua inclinação é regulada pelo Espírito de Deus. Daí, no que diz respeito a este ponto, vemos que todo o louvor é atribuído a Deus, e que o que os sofistas nos ensinam é frívolo - que a graça nos é oferecida e posta, por assim dizer, em nosso meio para que a abracemos se a quisermos. Porque, se Deus não operasse em nós eficazmente, não se poderia dizer que ele produz em nós uma inclinação positiva ou boa. Quanto ao segundo departamento, devemos adotar o mesmo ponto de vista. “Deus”, diz ele, “é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar.” Portanto, ele leva à perfeição aquelas disposições piedosas que já implantou em nós, para que não sejamos improdutivos, segundo promete por meio de Ezequiel: “Para que andem em meus estatutos, e guardem minhas ordenanças e as cumpram; e eles serão meu povo e eu serei seu Deus” [Ez 11.20]. Disto inferimos que a perseverança também provém de seu dom gratuito.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.

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