“TORNANDO-SE EM SEMELHANÇA DE HOMENS”
“Antes, a si
mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de
homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.7,8).
Tornando-se em semelhança de homens. O
apostolo Paulo quer dizer que Cristo foi reduzido ao nível do ser humano, de
modo que não havia em sua aparência nada que diferisse da condição ordinária do
gênero humano. Hereges perverteram esta declaração com o propósito de
estabelecer o fantasma de seus sonhos. No entanto, podem ser
refutados sem grande dificuldade, visto que Paulo, aqui, está tratando
simplesmente da maneira em que Cristo se manifestou, e da condição em que ele
se tornou quando entrou no mundo. Se alguém é realmente homem, e não obstante
foi tido como diferente dos outros, então que se conduza como se fosse isento
da condição dos demais. O apóstolo Paulo declara que esse não foi o caso com
Cristo, senão que ele viveu de tal maneira que era como se fosse nivelado ao
gênero humano, e, contudo, era mui distinto de um mero homem, embora
fosse verdadeiro homem. Portanto, cuidado com os que mostram excessiva
infantilidade ao extrair um argumento da similaridade de condição com o intuito
de negar a realidade da natureza.
Achado, aqui, significa conhecido ou visto. Porquanto
Paulo trata, como já se observou, da avaliação. Em outros termos, como ele
afirmou previamente que ele era realmente Deus, em igualdade com o Pai, assim
ele, aqui, declara que foi considerado, por assim dizer, desprezível e na
condição comum do gênero humano. Devemos ter sempre em vista o que eu disse
pouco antes: que tal aviltamento foi voluntário.
Tornando-se obediente. Mesmo isto constituiu
profunda humildade - a de ser Senhor e vir a ser um servo; mas o apóstolo diz
que ele foi mais que isso, porque, enquanto era não só imortal, mas ainda o
Senhor da vida e da morte, não obstante veio a ser obediente a seu Pai,
inclusive a ponto de suportar a morte. Isto constituiu o aviltamento extremo,
especialmente quando nos conscientizamos do tipo de morte, o que ele
imediatamente acresce, com vistas a agravá-lo. Porque, ao morrer desta maneira,
ele não só foi coberto de ignomínia aos olhos de Deus, mas também foi
amaldiçoado aos olhos de Deus. É certamente um modelo desse tipo de humildade
que deve absorver a atenção de toda a humanidade; até que seja possível
desdobrá-la em palavras, de forma adequada à sua dignidade.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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