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domingo, 16 de março de 2025

“SEMEAI PARA VÓS MESMOS EM JUSTIÇA”


“SEMEAI PARA VÓS MESMOS EM JUSTIÇA”

“Semeai para vós mesmos em justiça, colhei em misericórdia; quebrai em pedaços o vosso solo de terra devoluta; pois é tempo de procurar o SENHOR, até que ele venha e faça chover justiça sobre vós” (Os 10.12).

O profeta Oséias, aqui, exorta os israelitas ao arrependimento; conquanto não pareça uma simples e mera exortação, antes, um protesto; como se o Senhor houvesse dito que ele, até ali, em vão lidava com o povo de Israel, pois que esse sempre continuara obstinado. Pois se segue, imediatamente - “Vós arastes maldade, vós colhestes iniquidade; vós comestes o fruto das mentiras; porque tu confiaste em teu caminho, na multidão dos teus homens poderosos” (v.13).

A razão, pela qual eu cuidei que o Profeta não exortava simplesmente o povo, antes, acusava-o de inflexibilidade por não melhorar, apesar de várias vezes admoestado, é aqui encontrada. Ele, então, relata o quanto Deus, anteriormente, fizera para restaurar o povo a uma mente sã; pois isso tinha sido seu ensino constante: Semeai para vós mesmos retidão, colhei, em proporção, bondade, ou, consoante à proporção de brandura; arai uma lavoura para si próprios; é a época de buscar ao Senhor. Então, conquanto o povo ouvisse tais palavras todo dia, e tivesse seus ouvidos quase ensurdecidos por elas, todavia, ele não mudava para melhor, nem se tornava maleável; pelo contrário, com um propósito fixo, por assim dizer, eles lavravam, diz ele, impiedade, eles colhiam iniquidade; por conseguinte, eles comiam mesmo o fruto da falsidade, pois curtiam justos castigos, ou, saciavam-se de falsidade e traição. Compreendemos, agora, o que o Profeta quis dizer: procederei às particularidades.

Semeai para vós mesmos retidão. Ele revela que a salvação desse povo não havia sido negligenciada por Deus; pois experimentara se ele povo era curável. O remédio era que esse conheceria que Deus apaziguava-se para com ele ao se devotar, ele povo, à justiça. O Senhor oferecia sua mercê: “Retornai unicamente para mim; pois, assim que a semente da justiça for semeada por vós, a ceifa será preparada, um galardão será guardado para vós; vós, então, segareis frutos em consonância com a vossa bondade”.

Não obstante, se alguém perguntar se está no poder dos homens semear justiça, a resposta é pronta, e é esta: que o Profeta não explica aqui quão longe a habilidade dos homens se estende, mas requer o que eles devem fazer. De onde é que tantas maldições muitas vezes nos oprimem, senão por o produto ser similar à semente que espalhamos? Ou seja, Deus retribui a nós o que merecemos.

Isso, pois, é o que o Profeta mostra, quando diz: “Semeai para vós mesmos retidão”: ele demonstra que era culpa deles se o Senhor não os acalentava amável, generosa e paternalmente: era porque a impiedade deles não o permitia.

E o Profeta somente fala das obrigações da segunda tábua da lei, como também os Profetas falam, quando exortam os homens à penitência: eles, com frequência, principiam pela segunda tábua, porque a perversidade do homem, relativamente a essa, é mais palpável, e podem, por esse meio, ser mais facilmente declarados culpados.

Porém, o que ele acrescenta a seguir, lavrar a lavoura, não está, reconheço, em seu lugar adequado; mas não há nada incoerente nisso: pois, depois de havê-los exortado a arar, ele acrescenta que eles eram como campos incultos e desertos, de modo que não era direito semear a semente antes que houvessem sido preparados. O Profeta devia, então, de acordo com a ordem da natureza, ter começado com lavoura; mas ele simplesmente disse o que desejava transmitir, que os israelitas não recebiam os frutos desejados porque tinham semeado apenas injustiça. Caso eles, agora, desejassem ser tratados com mais amabilidade, ele indica o remédio, que é semear justiça. Se era assim, que eles já estavam cheios de impiedade, ele revela que eles eram como um campo recoberto de sarças e espinheiros. Por isso, quando um campo fica sem ser cultivado por muito tempo, espinhos, cardos e outras ervas daninhas crescem ali; uma dupla aragem será necessária, e esse duplo trabalho é chamado de Novação; e Jeremias fala da mesma coisa, quando mostra que o povo se endurecera em sua imoralidade, e que esse não podia produzir qualquer fruto até que os espinheiros fossem arrancados pelas raízes e o povo houvesse sido libertado dos vícios em que se tornara firme; por isso, ele diz: “Lavrai outra vez vosso chão sulcado” (Jr 4.3.)

E é tempo de buscar o SENHOR, até que ele venha. Aqui, o Profeta oferece uma esperança de perdão ao povo, para encorajá-lo a arrepender-se: pois sabemos que, quando os homens são chamados de volta para Deus, ficam entorpecidos, e mesmo abatidos em suas mentes, até serem assegurados de que Deus ser-lhes-á propício; e isso é o que tratamos mais plenamente noutra parte. Agora, o Profeta trata da mesma verdade, que é o tempo de buscar o Senhor. Ele, de fato, usa a palavra que denota uma época tempestiva. É, então, o tempo de procurar ao Senhor; como se ele dissesse: “O caminho de salvação não está ainda fechado para vós; pois o Senhor convida-vos para ele mesmo, e, de si próprio, está inclinado à misericórdia”. Isso é uma coisa. Entretanto, somos, ao mesmo tempo, ensinados de que não deve haver tardança; pois tal morosidade custar-lhes-á caro, se desprezarem um tão amável convite de Deus e prosseguirem em sua obstinação. Então, é o tempo para buscar a Deus; como também Isaías diz: “Buscai ao SENHOR enquanto ele pode ser encontrado, procurai-o enquanto está perto: Eis agora o tempo do bom prazer; eis, agora o dia da salvação” (Is 55.6). Assim, também aqui, o Profeta atesta que Israel trataria facilmente com Deus se retornasse ao caminho reto; mas que, se continuasse obstinadamente em seus pecados, período não seria perpétuo; pois a porta seria fechada, e o povo debalde clamaria, após haver negligenciado esse oportuno convite e abusado da paciência divina.

É o tempo, pois, diz, de procurar o SENHOR, até que ele venha. Essa última oração é uma confirmação da primeira; pois o Profeta declara aqui, explicitamente, que não seria labor inútil para Israel começar a buscar a Deus — “Ele virá a vós”. Ao mesmo tempo, ele alerta-os para não serem por demais precipitados em suas expectativas; pois, ainda que Deus os recebesse em mercê, ele, todavia, não os livraria já de todos os castigos ou males. Devemos, então, pacientemente esperar até que o fruto da reconciliação apareça. Desse modo, vemos que os dois pontos são aqui sabiamente manejados pelo Profeta; pois ele queria que Israel se apressasse com profundo interesse, não protelasse muito o tempo de arrependimento e, também, permanecesse sossegado, caso Deus não se revelasse incontinente, propício, nem exibisse sinais de seu favor; o Profeta desejava, nesse caso, que o povo fosse paciente.

E chova justiça sobre vós. A palavra “chova” quer dizer, na verdade, “ensinar”, e também “arremessar”; porém, como a palavra é derivada desses verbos, como é bem sabido, significa a chuva, eu não posso explicá-la aqui de outra maneira que não “ele choverá justiça sobre vós”. O que, verdadeiramente, podia significar o ensino da justiça? Pois o Profeta alude à seara; e o povo podia dizer: “Estamos assegurados de provisão, se buscarmos a Deus?” “Decerto”, diz ele; “ele virá; ele virá a vós, e choverá justiça, ou o fruto da justiça, sobre vós”. Em resumo, o Profeta indica aqui que, sempre que Deus é buscado em sinceridade e de coração pelos pecadores, ele sai para encontrá-los, revelando-se amável e compassivo. Mas, como ele havia falado de arar e semear, o fruto ou a colheita devia ser ora citado; para que oferecesse, portanto, uma promessa de que aqueles que tinham semeado justiça não perderiam seu dispêndio e fadiga, ele diz que o Senhor choverá sobre vós o fruto da justiça.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564). 

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.

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