Confissão dos nossos Pecados
“O
que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e
deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13).
1. O Pecado do Orgulho
Um dos nossos pecados mais odiosos
e patentes é o orgulho. Ataca até os nossos pastores, e, todavia, é mais
detestável e inescusável em nós, pastores, do que nos outros homens. Predomina
tanto entre nós, que fica patente em nossa conversação, em nosso modo
de viver, em nossa companhia e em nossas atitudes pessoais diante dos outros.
Ele é a base dos nossos motivos, modela o nosso pensar, determina os
nossos desejos, fomenta a inveja e pensamentos amargos contra os que são mais
proeminentes do que nós, que recebem posição de celebridade.
Que companheiro astuto e sutil,
que comandante tirânico e que insidioso inimigo é o pecado do orgulho! Ele
acompanha os homens ao alfaiate para a escolha de roupas e para tirar as
medidas do seu terno. Ele nos veste e determina a moda. Quantas vezes ele
escolhe os temas da nossa alocução, e até as nossas palavras!
Deus quer que sejamos simples o
quanto pudermos em nossa linguagem, para informarmos os ignorantes, e que
sejamos sérios e convincentes o quanto pudermos, para que os não convertidos
cedam e sejam transformados.
Mas o orgulho não sai de perto, e
contraria tudo. Ele vulgariza e polui, ele desonra os nossos sermões, como se
fosse um príncipe com traje de ator ou um palhaço disfarçado. Ele nos persuade
a falar aos nossos ouvintes o que eles não podem entender, e, depois, a
dizer-lhes coisas inaproveitáveis. Ele tira o fio da convicção e embota o vigor
dos nossos ensinamentos, com a desculpa de que não queremos ser grosseiros ou
indelicados em nosso linguajar. Se damos com uma passagem franca e desafiadora,
o orgulho a joga fora como rústica e inapropriada.
Assim, quando Deus nos manda agir
com todo o zelo, o maldito pecado do orgulho domina e controla os mais santos
mandamentos de Deus. Este pecado nos tenta, levando-nos a não sermos tolos ao
expressar-nos sobre tais ou quais convicções, mas a falar suavemente. Desta
maneira, o orgulho refaz muitos sermões do pregador, e o fim em vista não é a
glória de Deus, e sim o progresso de Satanás.
Tendo preparado o sermão, o
orgulho sobe ao púlpito, Ele impõe a entonação, modela a eloquência e elimina
tudo que cause ofensa, para conseguir o máximo de aplauso. O resultado final é
que ele faz com que os homens, tanto no estudo como na pregação, busquem o seu
próprio interesse e, após inverterem os papéis do culto, neguem a Deus, em
vez de glorificá-Lo e negar-se a si mesmos. Em vez de perguntarem, então,
"Que falarei, e como falarei para agradar ao máximo a Deus e para fazer o
maior benefício?", o orgulho os leva a indagar: "Como pregarei, para
ser considerado um pregador competente e para ser aplaudido por todos os que me
ouvirem?”. “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes”.
(Tg 4.6).
2. O Pecado da Inveja
Entretanto, isto não é tudo; há
outras coisas mais. Ah, se se falasse dos piedosos ministros de Deus que anelam
tanto a popularidade que chegam a invejar as funções e a reputação dos seus
colegas que são preferidos a eles! É como se Deus tivesse dado os Seus dons
como puros ornamentos e enfeites das suas personalidades. E então se vão pelo
mundo exibindo a sua reputação, como também espezinhando e desmoralizando a dos
seus rivais que se levantam em seu caminho impedindo que recebam as honras
ambicionadas! Que vergonha encherem-se de inveja, os que deveriam ser santos e
viver como pregadores de Cristo, pervertendo assim os dons de Deus — quando a
Ele é devida toda a glória! Eles fazem todas essas coisas porque os outros
parecem impedir a glória deles.
Não é verdade que todo cristão
verdadeiro é membro do corpo de Cristo, de modo que cada um participa do todo? Não é verdade que todo homem deve dar graças a Deus pelos dons dos
seus irmãos, como também por serem todos membros uns dos outros? Não é verdade
que cada qual tem sua finalidade no todo? Pois se a glória de Deus e o
bem-estar da Igreja não forem o seu propósito, ele não é cristão. Que coisa
terrível é, então, que os homens estejam tão sem temor de Deus a ponto de
invejarem os dons de Deus e deixarem que os seus ouvintes mundanos continuem
não convertidos. É lastimável que prefiram que o ministério seja exercido por
um dorminhoco que vive sonolento, a deixar que alguém o exerça, o qual goze da
preferência geral em vez deles. “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a
podridão dos ossos” (Pv 14.30).
3. O Pecado da Censura
Sucede que
muitos engrandecem tanto as suas opiniões pessoais, que censuram quaisquer
pensamentos que difiram dos deles um mínimo que seja, esperando que todos se
amoldem ao seu critério. É como se eles fossem os únicos regentes da fé da
Igreja. Assim, enquanto condenamos a infalibilidade papal, temos tantos papas
entre nós! Gostamos da pessoa que reitera o que dizemos, que concorda com a
nossa opinião e que promove a nossa reputação. Mas a achamos ingrata quando ela
nos contradiz, diverge de nós, fala com franqueza conosco sobre os nossos erros
e nos aponta as nossas faltas.
Somos tão
sensíveis que quase não aguentamos que nos repreendam, tão arrogantes que
dificilmente os outros conseguem falar conosco e tão mimados, como crianças,
que não podemos suportar crítica de ninguém. Assim, a nossa indignação não vem
do fato de escrevermos ou falarmos qualquer coisa falsa ou injusta. Vem do medo
de sermos contraditados.
Irmãos,
sei que é uma confissão triste e dura de ser feita. Se pudéssemos esconder-nos,
nos esconderíamos, mas toda gente sabe da coisa. Trazemos desonra sobre nós
mesmos transformando em ídolo a nossa reputação. Imprimimos e publicamos a
nossa vergonha, e a contamos a todo mundo. Que o Senhor tenha misericórdia dos
ministros desta terra, e depressa nos dê outro espírito, pois a graça é algo
muito mais precioso do que pensamos.
Todavia, é pela graça de Deus que temos,
aqui e noutros lugares, alguns que são humildes, modestos e exemplares para os
seus rebanhos e para os seus colegas. A Deus se deve toda a honra por eles
serem assim. Mas, infelizmente, não são todos assim. Ah, que o Senhor nos veja
aos Seus pés, derramando lágrimas de não fingida tristeza pelos pecados
deles!
A necessidade de humilhar-nos a nós mesmos
constitui o âmago do evangelho. A obra da graça só é iniciada e sustentada pelo
exercício da humildade. A humildade não é apenas um ornamento do cristão. É
parte essencial da nova criatura. É contradição ser um homem santificado, ou um
verdadeiro cristão, e não ser humilde.
Todos os
que pretendem ser cristãos têm que ser discípulos de Cristo e vir a Ele para
aprender; e a lição que recebem é que sejam mansos e humildes. Quantos preceitos
e quantos exemplos admiráveis nosso Senhor e Mestre nos deu com este propósito!
Podemos imaginá-Lo deliberadamente lavando e enxugando os pés dos Seus
discípulos a fim de mostrar-Se arrogante e despótico? Acaso Cristo Se relaciona
com os cansados e oprimidos, e nós os evitamos, considerando-os desprezíveis?
Achamos que só são aptos para a nossa sociedade os ricos e os que ocupam
posição honrosa. Quantos de nós são vistos mais frequentemente nas casas de
pessoas de alta classe, do que nos casebres dos pobres, justamente da gente que
mais precisa do nosso auxílio! “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino
dos céus” (Mt 5.3).
Richard Baxter (1615-1691).
*"O Pastor Aprovado", Editora PES.
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