"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



terça-feira, 24 de setembro de 2019

O perigo da incompetência para os deveres pastorais

Cuidando de nós Mesmos (3)
“Procura apresentar-te a Deus aprovado...” (2Tm 2.15).

Consideremos o que é olhar por nós mesmos. Vejamos o que devemos fazer. Empenhemos também os nossos corações nessa tarefa, à medida que a compreendamos.

3) O perigo da incompetência para os deveres pastorais

Precisamos olhar por nós mesmos para que não estejamos despreparados para as grandes tarefas que nos incumbimos de levar a cabo. É preciso que não seja um bebê no conhecimento aquele que quer ensinar aos homens as coisas misteriosas que necessitam saber para assegurar-se da salvação.

Ah, que qualificações são necessárias ao homem que tem sobre si a responsabilidade que temos! Quantas dificuldades da teologia precisam ser compreendidas! Que pontos essenciais da fé é obrigatoriamente necessário conhecer! Quantos textos obscuros das Escrituras têm que ser explicados! Quantos deveres precisam ser cumpridos, deveres nos quais poderemos falhar, se não compreendermos claramente o seu teor, o seu propósito e o seu contexto! Quantos pecados devemos evitar, o que não poderá ser feito sem compreensão e perspicácia!

Quantas tentações sorrateiras e sutis precisamos expor perante os olhos do nosso povo — a fim de que se possa escapar delas! Quantos opressivos e intrincados problemas de consciência temos que resolver quase todos os dias! Tanto trabalho assim, e tal tipo de labor poderá ser realizado por homens imaturos e incompetentes?

Que fortalezas — e quantas! — temos que pôr abaixo! Que resistência sutil, diligente e obstinada temos que esperar encontrar no trato de cada coração! Como o preconceito bloqueia o nosso caminho rumo à obtenção de bons ouvintes! Muitas vezes não discutimos em condições iguais, mas com crianças que não conseguem entender-nos.

Temos que trabalhar com gente desorientada. Temos que lidar com pessoas voluntariosas e nada razoáveis, que nunca ficam mais persuadidas do que quando silenciadas com os seus próprios argumentos. Quando não nos apresentam razão nenhuma, apresentam-nos a sua resolução. Temos que enfrentar as vontades dos homens e suas paixões sensuais, bem como os seus modos de entender as coisas. Teremos que enfrentar, não uma, mas multidões de paixões violentas e de inimigos contraditórios, toda vez que sairmos em busca da conversão de um pecador.

Ah, diletos irmãos, que homens devemos ser, então, em habilidade, resolução e incansável diligência — nós, que temos isso tudo com que lutar e por que lutar? Não bradou Paulo, "para estas coisas quem é idôneo?" (2Co 2.16). Poderemos, então, dar-nos o luxo de sermos orgulhosos e preguiçosos, como se fôssemos capazes? Como diz Pedro a todo cristão, ao ponderar a responsabilidade, há o reflexo do nosso caráter; "que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade"? (2Pe 3.11). Assim posso eu dizer a todo ministro, vendo como estes desafios pesam sobre nós, que classe de pessoas devemos ser em todos os nossos santos esforços e resoluções para o nosso trabalho!

Portanto, este não é um fardo que se coloque nos ombros de uma criança. Que habilidade cada parte da obra requer, e quanto tempo! Não pensem que a prédica é a parte mais dura do nosso trabalho. Todavia, quanta habilidade é necessária para dar clareza à verdade, a fim de persuadir os nossos ouvintes! Como é difícil fazer com que a luz irresistível penetre na consciência deles, permaneça ali, e os capacite a compreender a verdade! Como é difícil acionar a verdade em suas mentes e introduzir Cristo em seus sentimentos! Que inteligência se requer do pastor para enfrentar toda objeção levantada e para responder com clareza aos que as levantam! Como é desafiador levar os pecadores a convicções que os façam enxergar que não há esperança para eles, a menos que sejam convertidos; que, do contrário, serão inevitavelmente condenados!

Fazer isso tudo numa linguagem e de maneira apropriadas ao nosso ministério e, ainda assim, ajustadas às capacidades dos nossos ouvintes, exige muito engenho e arte. Isso tudo e muito mais se requer para todo sermão que pregarmos com santa aptidão. Um tão grande Deus, cuja mensagem proferimos, deve ser honrado pela maneira como a transmitimos.

Quão lamentável será, então, termos uma mensagem provinda do Deus dos Céus — mensagem com consequências eternas para as almas dos homens — e, contudo, entregar tão debilmente esta palavra! Que desventura, conduzir-nos tão imprudentemente, ou comunicar a verdade tão superficialmente, de modo que todo o trabalho do nosso Deus malogra em nossas mãos! Quando Deus sofre desonra, a Sua obra cai em descrédito e os pecadores se endurecem em vez de converter-se, devido à nossa fraqueza e negligência. Quão grande é a nossa responsabilidade!

Quantas vezes sucede que ouvintes mundanos vão para casa irritados com os fiascos óbvios e desonrosos do pregador! Quantos deles dormem diante de nós, porque os nossos corações e línguas estão dormentes! E não temos sequer capacidade e zelo para despertá-los! 

Além disso, imaginemos quanta habilidade é necessária para defender a verdade contra os que se lhe opõem e para lidar com aqueles que argumentam contra ela. Que habilidade, pois, é necessária para lidar com uma pobre e ignorante alma acerca da sua conversão!

Será que uma porção comum de santa aptidão e habilidade, de prudência e outras qualificações servirá  para tal missão? Bem sei que a necessidade pode levar esta igreja a tolerar os fracos. Ai de nós, porém, se formos indulgentes e tolerantes para com as nossas próprias fraquezas! Sua razão e sua consciência não lhes dizem que, se vocês ousarem aventurar-se a um trabalho tão elevado como este, não deverão poupar esforços no preparo para realizá-lo? Não será um exercício ou experiência de estudos feitos de vez em quando, ocasional e preguiçosamente, que servirá para formar um valoroso homem de Deus.

Podemos escusar-nos da necessária diligência intelectual dizendo que somente o Espírito Santo pode qualificar-nos e assistir-nos em nosso trabalho. Deus encorajará essa ociosidade? Dar-nos-á Ele miraculosamente conhecimento mediante sonhos quando estivermos dormindo? Ou nos levará ao céu e nos revelará os Seus conselhos? Ah, se os homens se atreverem tão pecaminosamente a extinguir o Espírito com tal ociosidade e, depois, pretextar que é o Espírito que o está fazendo! 

Deus exige que não sejamos "vagarosos no cuidado" e que sejamos "fervorosos no espírito, servindo ao Senhor" (Rm 12.11). Devemos instigar os nossos ouvintes a serem pessoas assim, como também a nós mesmos, a sermos pessoas assim. Portanto, irmãos, não percamos tempo: estudemos e oremos, palestremos e pratiquemos. Com estes quatro meios as nossas capacidades aumentarão. 

Olhem, pois, por si mesmos, para que não se enfraqueçam por sua negligência, e para que não estraguem a obra de Deus com a Sua fraqueza. Pois, "qual o homem, tal a sua valentia" (Juízes 8.21).

Richard Baxter (1615-1691).

*"O Pastor Aprovado", Editora PES.

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba/PR.
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.
(41)3242-1115

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