Cuidando de nós Mesmos (3)
“Procura apresentar-te a Deus aprovado...” (2Tm 2.15).
Consideremos o que é olhar por nós mesmos. Vejamos o que
devemos fazer. Empenhemos também os nossos corações nessa tarefa, à medida que
a compreendamos.
3) O
perigo da incompetência para os deveres pastorais
Precisamos
olhar por nós mesmos para que não estejamos despreparados para as grandes
tarefas que nos incumbimos de levar a cabo. É preciso que não seja um bebê no
conhecimento aquele que quer ensinar aos homens as coisas misteriosas que
necessitam saber para assegurar-se da salvação.
Ah, que
qualificações são necessárias ao homem que tem sobre si a responsabilidade que
temos! Quantas dificuldades da teologia precisam ser compreendidas! Que pontos
essenciais da fé é obrigatoriamente necessário conhecer! Quantos textos
obscuros das Escrituras têm que ser explicados! Quantos deveres precisam ser
cumpridos, deveres nos quais poderemos falhar, se não compreendermos claramente
o seu teor, o seu propósito e o seu contexto! Quantos pecados devemos evitar, o
que não poderá ser feito sem compreensão e perspicácia!
Quantas
tentações sorrateiras e sutis precisamos expor perante os olhos do nosso povo —
a fim de que se possa escapar delas! Quantos opressivos e intrincados problemas
de consciência temos que resolver quase todos os dias! Tanto trabalho assim, e
tal tipo de labor poderá ser realizado por homens imaturos e incompetentes?
Que
fortalezas — e quantas! — temos que pôr abaixo! Que resistência sutil,
diligente e obstinada temos que esperar encontrar no trato de cada coração!
Como o preconceito bloqueia o nosso caminho rumo à obtenção de bons
ouvintes! Muitas vezes não discutimos em condições iguais, mas com crianças que
não conseguem entender-nos.
Temos que
trabalhar com gente desorientada. Temos que lidar com pessoas voluntariosas e
nada razoáveis, que nunca ficam mais persuadidas do que quando silenciadas com
os seus próprios argumentos. Quando não nos apresentam razão nenhuma,
apresentam-nos a sua resolução. Temos que enfrentar as vontades dos homens e
suas paixões sensuais, bem como os seus modos de entender as coisas. Teremos
que enfrentar, não uma, mas multidões de paixões violentas e de inimigos
contraditórios, toda vez que sairmos em busca da conversão de um pecador.
Ah,
diletos irmãos, que homens devemos ser, então, em habilidade, resolução e
incansável diligência — nós, que temos isso tudo com que lutar e por que lutar?
Não bradou Paulo, "para estas coisas quem é idôneo?" (2Co 2.16).
Poderemos, então, dar-nos o luxo de sermos orgulhosos e preguiçosos, como se
fôssemos capazes? Como diz Pedro a todo cristão, ao ponderar a
responsabilidade, há o reflexo do nosso caráter; "que pessoas vos convém
ser em santo trato, e piedade"? (2Pe 3.11). Assim posso eu dizer a todo
ministro, vendo como estes desafios pesam sobre nós, que classe de pessoas
devemos ser em todos os nossos santos esforços e resoluções para o nosso
trabalho!
Portanto,
este não é um fardo que se coloque nos ombros de uma criança. Que habilidade
cada parte da obra requer, e quanto tempo! Não pensem que a prédica é a parte
mais dura do nosso trabalho. Todavia, quanta habilidade é necessária para dar clareza à verdade, a fim de
persuadir os nossos ouvintes! Como é difícil fazer com que a luz irresistível
penetre na consciência deles, permaneça ali, e os capacite a compreender a
verdade! Como é difícil acionar a verdade em suas mentes e introduzir Cristo em
seus sentimentos! Que inteligência se requer do pastor para enfrentar toda
objeção levantada e para responder com clareza aos que as levantam! Como é
desafiador levar os pecadores a convicções que os façam enxergar que não há
esperança para eles, a menos que sejam convertidos; que, do contrário, serão
inevitavelmente condenados!
Fazer
isso tudo numa linguagem e de maneira apropriadas ao nosso ministério e, ainda
assim, ajustadas às capacidades dos nossos ouvintes, exige muito engenho e
arte. Isso tudo e muito mais se requer para todo sermão que pregarmos com santa
aptidão. Um tão grande Deus, cuja mensagem proferimos, deve ser honrado pela
maneira como a transmitimos.
Quão
lamentável será, então, termos uma mensagem provinda do Deus dos Céus — mensagem
com consequências eternas para as almas dos homens — e, contudo, entregar tão
debilmente esta palavra! Que desventura, conduzir-nos tão imprudentemente, ou
comunicar a verdade tão superficialmente, de modo que todo o trabalho do nosso
Deus malogra em nossas mãos! Quando Deus sofre desonra, a Sua obra cai em
descrédito e os pecadores se endurecem em vez de converter-se, devido à nossa
fraqueza e negligência. Quão grande é a nossa responsabilidade!
Quantas
vezes sucede que ouvintes mundanos vão para casa irritados com os fiascos
óbvios e desonrosos do pregador! Quantos deles dormem diante de nós, porque os
nossos corações e línguas estão dormentes! E não temos sequer capacidade e zelo
para despertá-los!
Além disso, imaginemos quanta habilidade é necessária para defender a verdade contra os que se lhe opõem e para lidar com aqueles que argumentam contra ela. Que habilidade, pois, é necessária para lidar com uma pobre e ignorante alma acerca da sua conversão!
Além disso, imaginemos quanta habilidade é necessária para defender a verdade contra os que se lhe opõem e para lidar com aqueles que argumentam contra ela. Que habilidade, pois, é necessária para lidar com uma pobre e ignorante alma acerca da sua conversão!
Será
que uma porção comum de santa aptidão e habilidade, de prudência e outras
qualificações servirá para tal missão? Bem sei que a necessidade pode
levar esta igreja a tolerar os fracos. Ai de nós, porém, se formos indulgentes
e tolerantes para com as nossas próprias fraquezas! Sua razão e sua consciência
não lhes dizem que, se vocês ousarem aventurar-se a um trabalho tão elevado
como este, não deverão poupar esforços no preparo para realizá-lo? Não será um
exercício ou experiência de estudos feitos de vez em quando, ocasional e preguiçosamente,
que servirá para formar um valoroso homem de Deus.
Podemos
escusar-nos da necessária diligência intelectual dizendo que somente o Espírito
Santo pode qualificar-nos e assistir-nos em nosso trabalho. Deus encorajará
essa ociosidade? Dar-nos-á Ele miraculosamente conhecimento mediante sonhos
quando estivermos dormindo? Ou nos levará ao céu e nos revelará os Seus
conselhos? Ah, se os homens se atreverem tão pecaminosamente a extinguir o
Espírito com tal ociosidade e, depois, pretextar que é o Espírito que o está
fazendo!
Deus exige que não sejamos "vagarosos no cuidado" e que sejamos "fervorosos no espírito, servindo ao Senhor" (Rm 12.11). Devemos instigar os nossos ouvintes a serem pessoas assim, como também a nós mesmos, a sermos pessoas assim. Portanto, irmãos, não percamos tempo: estudemos e oremos, palestremos e pratiquemos. Com estes quatro meios as nossas capacidades aumentarão.
Olhem, pois, por si mesmos, para que não se enfraqueçam por sua negligência, e para que não estraguem a obra de Deus com a Sua fraqueza. Pois, "qual o homem, tal a sua valentia" (Juízes 8.21).
Deus exige que não sejamos "vagarosos no cuidado" e que sejamos "fervorosos no espírito, servindo ao Senhor" (Rm 12.11). Devemos instigar os nossos ouvintes a serem pessoas assim, como também a nós mesmos, a sermos pessoas assim. Portanto, irmãos, não percamos tempo: estudemos e oremos, palestremos e pratiquemos. Com estes quatro meios as nossas capacidades aumentarão.
Olhem, pois, por si mesmos, para que não se enfraqueçam por sua negligência, e para que não estraguem a obra de Deus com a Sua fraqueza. Pois, "qual o homem, tal a sua valentia" (Juízes 8.21).
Richard Baxter (1615-1691).
*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba/PR.
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.
(41)3242-1115
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