"NOVO
CÂNTICO DO ADVENTO"
Deus nos Abençoe!
“Então, saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu; e morreram
perante o SENHOR” (Lv 10.3).
Se você se aventurar nos caminhos do pecado, talvez se depare com juízos horríveis, que Deus nunca sequer mencionou. Juntamente com todos os juízos que aparecem anunciados no Livro de Deus, você pode dar de encontro com juízos jamais ouvidos, inesperados. Assim como Deus tem misericórdia muito além daquelas que claramente revelou em Sua Palavra – “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co 2.9) – assim Deus tem juízos muito além dos que estão pronunciados.
Às vezes, quando os ministros de Deus expõem as ameaças que se encontram na Escritura Sagrada, você pensa que são terríveis; mas fique sabendo que Deus, no tesouro dos seus juízos, tem coisas mais terríveis do que aquilo que ele jamais revelou em sua Palavra. Por isso, aprenda a tremer não apenas diante do que está revelado contra o seu pecado, mas diante do que ainda se pode descobrir, na infinita justiça, poder e sabedoria de Deus, para ser executado contra os pecadores.
Portanto, vocês que são pecadores, e especialmente se são pecadores ousados e arrogantes, podem esperar se deparar com qualquer mal que uma sabedoria infinita é capaz de criar e que um poder infinito é capaz de fazer desabar sobre vocês. Você comete este e aquele pecado. Talvez não saiba de nenhuma ameaça específica de juízo contra esse pecado, mas pensa da seguinte maneira: “Eu, que estou provocando a Deus com meus pecados, o que é que posso esperar que me aconteça? Por mais que eu pense que não, a infinita sabedoria de Deus vai descobrir o que estou fazendo e trará sobre mim o juízo que me cabe”.
Deus nos abençoe!
Jeremiah Burroughs (1599-1646).
“Por isso mesmo, convinha que, em todas as
coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo
sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados
do povo. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo
sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 2.17,18).
Na natureza humana de Cristo há duas coisas a serem consideradas, ou seja: a essência da carne e as afeições. O apóstolo, pois, ensina que ele se vestiu não só da própria carne humana, mas também de todas as afeições que são inerentes ao homem. Ele mostra também os frutos que nos advêm daí e qual o legítimo ensino de fé, quando sentimos em nós próprios por que o Filho de Deus tomou sobre si nossas enfermidades. Sem tais frutos, todo o nosso conhecimento seria frio e morto. Ele prossegue ensinado que Cristo se fez sujeito às paixões humanas “para que pudesse ser misericordioso e fiel sumo sacerdote”. Tomo essas palavras no seguinte sentido: “para que pudesse ser misericordioso e, portanto, fiel”. Para um sacerdote, cuja função era apaziguar a ira de Deus, socorrer os desventurados, restaurar os caídos, libertar os oprimidos, seu primordial e extremo requisito era demonstrar misericórdia e criar em nós tal senso de comunhão. Pois é muito raro que aqueles que vivem sempre afortunadamente simpatizem com os sofrimentos alheios.
O Filho de Deus não tinha necessidade de
passar por alguma experiência a fim de conhecer pessoalmente a emoção da
misericórdia. Entretanto, ele jamais nos teria persuadido de sua bondade e
prontidão em socorrer-nos, não fosse ele provado pelos nossos próprios
infortúnios. E tudo isso ele nos concedeu como favor. Portanto, quando toda
sorte de males nos sobrevém, que isso nos sirva de imediata consolação, a
saber: que nada nos sobrevém sem que o Filho de Deus já não o tenha
experimentado em si próprio, para que pudesse ser-nos solidário. Nem duvidemos
de que ele está conosco como se ele mesmo sofresse a nossa mesma dor.
“Fiel” significa
verdadeiro e justo. É o oposto de um impostor ou alguém que não cumpre o seu
dever. A experiência de nosso infortúnio faz de Cristo Alguém tão pleno de
compaixão que o move a implorar o auxílio divino em nosso favor. Que mais
podemos desejar? Para fazer expiação por nossos pecados, ele se vestiu de nossa
natureza, para que pudéssemos ter em nossa própria carne o preço de nossa
reconciliação. Em uma palavra, para que pudesse nos levar consigo para dentro
dos santos dos santos de Deus em virtude de nossa comum natureza. Pela frase, as coisas pertencentes a Deus, o autor
quer dizer as coisas que têm o propósito de reconciliar os homens com Deus.
Visto que a liberdade que emana da fé é a primeira via de acesso a Deus,
carecemos de um Mediador que remova todas as incertezas.
Naquilo que Ele
mesmo sofreu. Havendo Cristo experimentado nossos males, está, portanto, a
prover-nos de seu auxílio. Tentação,
aqui, significa simplesmente experiência ou provação; e poderoso significa ser apto, ou inclinado, ou idôneo, ou preparado.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
“Pois ele, evidentemente, não socorre anjos,
mas socorre a descendência de Abraão” (Hb 2.16).
Ao traçar esta comparação, o apóstolo estende
os benefícios e a honra que Cristo nos comunicou, revestindo-se de nossa carne,
já que ele jamais fez algo semelhante em favor dos anjos. Visto que se fazia
necessário encontrar um antídoto infalível para a terrível ruína humana, o
Filho de Deus se propôs oferecer-nos uma incomparável demonstração de seu amor
para conosco, tal que nem mesmo os anjos participaram. O fato de nos preferir
aos anjos não teve por base nossa excelência, e sim, nossa miséria. Não há razão
para vangloriarmo-nos de que somos superiores aos anjos, exceto de que o Pai
celestial nos concedeu maior benevolência em razão de sermos carentes dela,
para que os próprios anjos, lá do alto, contemplassem tão sublime generosidade
derramada sobre a terra.
Só esta passagem seria suficiente para
confundir os que negaram que Cristo verdadeiramente nasceu de geração humana.
Se ele apenas assumisse a aparência de homem, tendo anteriormente aparecido
repetidas vezes na forma de um anjo, então não teria havido distinção alguma.
Uma vez, porém, que não se pode dizer que Cristo se convertera realmente em
anjo, vestido com a natureza angélica, assim diz-se que ele assumira a natureza
humana, e não a natureza angélica. O apóstolo está falando de natureza,
e mostra que, quando Cristo se vestiu de nossa carne, se fez homem genuíno,
para que houvesse unidade de pessoa em duas naturezas. Além do mais, esta
passagem não oferece apoio aos que inventaram um duplo Cristo, como se o Filho
de Deus não fosse genuinamente homem, senão que apenas viveu na carne humana.
Descobrimos que tal conceito é muitíssimo diferente daquela posição do
apóstolo. Seu alvo é ensinar-nos que na pessoa do Filho de Deus encontramos
um Irmão em virtude da comunhão de nossa comum natureza. Ele,
portanto, não se contenta em apenas chamá-lo Homem, mas afirma que
ele nasceu de descendência humana. Ele expressamente chama de “descendência de
Abraão”, para que tivéssemos mais fé no que ele diz, visto que o extraiu da
própria Escritura.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
“Eis
que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de
Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)” (Mt 1.23).
As comemorações no período natalino têm
o seu legítimo valor quando direciona a nossa atenção para o Senhor Jesus Cristo. A data
exata em que ocorreu o nascimento de Jesus é irrelevante. O que importa é o
próprio acontecimento que mudou todo o curso da história da humanidade.
Como em nenhum outro
ensino, a Pessoa em questão não é somente central, mas absolutamente essencial.
Sabemos que na história da humanidade existem muitos ensinamentos ligados a uma
variedade de religiões, muitos dos quais associados a nomes de homens, em
particular. Mas esses homens não são essenciais aos seus seguidores, pois seus
ensinos poderiam ser transmitidos com igual eficácia por outras pessoas.
Afirmar isso não é diminuir a importância desses personagens, mas significa que
eles não são vitais, pois o ensino é o que importa. No entanto, na religião
cristã é a Pessoa em si que importa.
A visão que temos de
Jesus Cristo determinará a visão que temos do Natal, da fé cristã, da salvação
e do próprio mundo. Nada é mais importante do que conhecer exatamente o que a
Bíblia diz a respeito do Ungido de Deus. A questão fundamental relacionada à vida
que está diante de todos nós foi proposta pelo próprio Senhor: “Que pensais vós
do Cristo?” (Mt 22.42).
Não são poucos os que que dizem ser Jesus apenas um homem especial, e nada mais. Mas, pela graça de Deus, iluminados pelo Espírito Santo, há muitos que compreendem e proclamam que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, a Imagem do Deus invisível, a segunda Pessoa da Trindade Santa, o Primogênito de toda a criação, o Príncipe da Paz, o Senhor e Salvador. Ele é Deus conosco!
Deus nos abençoe!
Pr. José Rodrigues
Filho
*Grandes Doutrinas Bíblicas - D.Martyn Lloyd-Jones, PES
“Nas tuas mãos, estão os meus dias; livra-me das mãos dos meus inimigos e dos meus perseguidores” (Sl 31.15).
Para
que Davi pudesse mais jubilosamente confiar a preservação de sua pessoa a Deus,
ele nos assegura que, confiando em sua guarda divina, não se preocupava com
aqueles eventos casuais e imprevisíveis que comumente apavoram os homens. A
significação de sua linguagem é: Senhor, tua é a prerrogativa, e somente teu é
o poder de dispor tanto de minha vida quanto de minha morte. Tampouco usa ele o
plural, em minha opinião, sem razão plausível; antes, ele destaca a variedade
de casualidades pelas quais a vida de uma pessoa é geralmente molestada. É uma
exposição insípida restringir a frase, meus dias, ao tempo em que ele
vivesse, como se Davi quisesse dizer não mais que estando seu tempo ou seus
dias terrenos na mão de Deus. Ao contrário, minha opinião é que, enquanto
meditava nas diversas revoluções e nos multiformes perigos que casualmente
pendem sobre nós, e nos multiformes eventos imprevistos que de tempo em tempo
sucedem, ele, não obstante, confiadamente repousava na providência de Deus, a
qual ele cria ser, segundo o dito popular, o árbitro tanto da boa quanto da má sorte. Na primeira cláusula vemos que ele não só denomina Deus de o
governante do mundo em geral, mas também afirma que sua vida está em sua mão; e
não só isso, mas que, quaisquer que fossem as agitações a que estivesse
sujeito, e quaisquer que fossem as tribulações e vicissitudes que lhe
sobreviessem, ele estaria seguro debaixo da proteção divina. Nisto está
fundamentada sua oração, a saber: Deus o preservará e me livrará da mão de meus
inimigos.
Deus nos
abençoe!
João Calvino
(1509-1564).
“Não seja eu envergonhado, SENHOR, pois te invoquei; envergonhados sejam
os perversos, emudecidos na morte” (Sl 31.17).
Não seja eu envergonhado, SENHOR. Com estas palavras,
Davi dá seguimento à sua oração, e para fortalecer suas esperanças ele se
contrasta com seus inimigos; pois teria sido mais que absurdo permitir aos que,
com sua intensa perversidade, provocavam a ira de Deus escapassem com
impunidade, e aquele que era inocente e descansava em Deus fosse desapontado e
se tornasse alvo de zombaria. Consequentemente, aqui percebemos qual a implicação
da comparação que o salmista faz. Além do mais, em vez de falar de sua esperança
ou confiança, ele agora fala de sua invocação a Deus, dizendo: pois te invoquei.
E faz isso por boas razões, pois aquele que confia na providência divina deve fugir
para Deus com orações e forte clamor. Que eles sejan emudecidos na morte, subentende quando ela sobrevém aos ímpios, restringindo-os e impedindo-os de
darem curso às suas injúrias. Este emudecer se opõe tanto às suas maquinações
enganosas e traiçoeiras quanto aos seus insolentes insultos. No próximo versículo,
pois, ele adiciona: Que os lábios mentirosos emudeçam, o quê, em minha opinião,
inclui tanto suas astúcias quanto as falsas pretensões e calúnias pelas quais
diligenciavam em concretizar seus desígnios, bem como a vã ostentação a quê se
entregavam. Pois ele nos diz que falam coisas injuriosas [ou graves] contra o justo,
com soberba e escárnio. Porque o conceito intransigente deles, o qual quase sempre
gera desdém, era o que fazia que esses inimigos de Davi fossem tão ousados em
mentir. Quem quer que soberbamente arrogue para si mais do que lhe é devido,
quase que necessariamente tratará os outros com desdém.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
“Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo; salva-me por tua
misericórdia” (Sl 31.16).
Faze
resplandecer o teu rosto sobre o teu servo. Esta forma de expressão é tomada da
preocupação comum dos homens, os quais acreditam que Deus não lhes tem nenhuma
consideração, a menos que demonstre visível cuidado por eles através de seus
efeitos. De conformidade com o critério da razão, as aflições ocultam seu
semblante, assim como as nuvens obscurecem o brilho do sol. Davi, pois, suplica
a Deus que, ao dar-lhe imediata assistência, fizesse-lhe evidente que ele
desfrutava de sua graça e favor, o que de forma alguma é fácil de discernir em
meio às trevas das aflições. Ora, diz-se que Deus levanta sobre nós a luz de
seu rosto de duas maneiras: ou quando ele abre seus olhos e assume o comando de
nossos afazeres, ou quando ele nos mostra seu favor. Estes dois elementos são
deveras inseparáveis, ou, melhor, um depende do outro. Mas, pelo primeiro modo
de expressar-se, nós, segundo nossas concepções carnais, atribuímos a Deus uma
mutabilidade que, propriamente falando, não lhe pertence. Enquanto que a segunda
forma de expressar-se indica que nossos próprios olhos, e não os olhos de Deus,
estão fechados ou ofuscados quando parece não levar ele em conta nossas aflições.
Pelo termo, salva-me, Davi explica o que quis
dizer com a primeira expressão; mas como naquele tempo não houve qualquer
aparente segurança para ele, então se anima a esperar por ela, pondo diante de
seus olhos a misericórdia de Deus.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
“EU DISSE: TU ÉS O MEU DEUS”
“Quanto a mim, confio em ti, SENHOR. Eu disse: tu és o meu Deus” (Sl 31.14).
Eu disse: Tu és o meu Deus. Nesta expressão Davi notifica que se sentia
tão persuadido desta verdade, de que Deus era o seu Deus, que não admitiria sequer
a mais leve insinuação em contrário. E enquanto esta persuasão não prevalecer,
ao ponto de tomar posse de nossa mente, oscilaremos sempre na incerteza. Não
obstante, é preciso observar que esta declaração não é só íntima e secreta -
feita antes no coração do que com a língua -, mas que é dirigida a Deus
pessoalmente, como aquele que é a única testemunha dela. Nada é mais difícil,
quando percebemos nossa fé escarnecida por todo o mundo, do que dirigir nossa palavra somente a Deus e descansar satisfeitos com este testemunho que nossa
consciência nos dá, ou seja, que ele é o nosso Deus. E com
toda certeza é uma indubitável prova de fé genuína quando, por mais forte as
ondas batem contra nós e por mais dolorosamente os assaltos nos sacodem,
sustentamos isto como um princípio bem fixado, a saber, que estamos
constantemente debaixo da proteção de Deus e podemos dizer-lhe
francamente: Tu és o nosso Deus.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564)
“PENSAVAS QUE EU ERA TEU IGUAL”
“Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual;
mas eu te arguirei e porei tudo à tua vista. Considerai, pois, nisto, vós que
vos esqueceis de Deus, para que não vos despedace, sem haver quem
vos livre” (Sl 50.21,22).
“As tuas ideias sobre Deus são demasiado humanas” - exortação de
Martinho Lutero endereçada a Erasmo de Roterdã. Vemos que, tanto no passado
como atualmente, são sustentados os mais desonrosos conceitos sobre Deus. Para
os milhares, desde a antiguidade, Deus é completamente
desconhecido. “Pensavas que eu era teu igual” (Sl 50.21).
Os homens perversos supõem que a onipotência de Deus é uma ociosa ficção, a tal
ponto que Satanás destroça os seus desígnios. Imaginam que, se Deus formulou
algum plano ou propósito, deve ser como o deles, constantemente sujeito a
mudança. Declaram abertamente em suas atitudes que, seja qual for a vontade e o poder que Deus
possui terá que ser restringido, para que não invada a vontade e o poder
humano.
As Escrituras afirmam clara e positivamente a absoluta e universal supremacia
de Deus. “Teu, SENHOR, é o poder, a grandeza, a honra, a vitória e a
majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu, SENHOR, é o
reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos” (1Cr 29.11).
A nossa vida não é, nem produto do destino cego, nem do acaso
caprichoso, mas todas as suas minuciosidades foram prescritas desde a
eternidade, ordenadas por Deus que vive e reina eternamente.
Deus nos abençoe!
“O NOME QUE ESTÁ ACIMA DE TODO NOME”
“Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo
nome” (Fp 2.9).
Quando buscamos a verdade, à medida que a Palavra de Deus nos é revelada,
vemos que Deus na eternidade, desde antes da fundação do mundo, planejou e
determinou que todas as coisas fossem centralizadas em Cristo. “Porque dele, e
por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória
eternamente. Amém!” (Rm 11.36).
Na epístola aos Colossenses, notamos a preeminência de Cristo ressaltada
ainda mais nitidamente: “Ele nos libertou do império das trevas e nos
transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a
remissão dos pecados. Este é a imagem do
Deus invisível, o primogênito de toda a criação. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele
é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os
mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que,
nele, residisse toda a plenitude” (Cl 1.13,19).
O Filho de Deus deixou as alturas dos céus e desceu às profundezas da
terra para buscar e salvar o que se havia perdido. Ele não foi obrigado a fazer isso. Ele o
fez voluntariamente, por amor, por imensa bondade e misericórdia. “Ele tomou
sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si. Ele foi
traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados” (Is 53.4,5).
“Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo
nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e
debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória
de Deus Pai” (Fp 2.9-11).
“Àquele que está sentado no trono e ao
Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos
séculos” (Ap 5.13). Amém!
Que lugar o Senhor de toda glória ocupa no seu coração?
Deus nos abençoe!
Pr. José Rodrigues Filho
“Porque a
nossa exortação não foi com engano, nem com imundícia, nem com fraudulência; mas,
como fomos aprovados de Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim
falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos
corações” (1Ts 2.3,4).
O apóstolo confirma,
através de outro argumento, os tessalonicenses na fé que haviam abraçado –
porquanto haviam sido fiel e puramente instruídos na palavra do Senhor, pois
ele mantém que a sua doutrina estava isenta de todo o engano e impureza. E, com
vistas a deixar esta questão fora de dúvida, ele invoca o testemunho da
consciência deles. Os três termos de que faz uso podem, ao que parece, ser
distinguidos da seguinte maneira: engano pode se referir à essência da
doutrina, imundícia às afeições do coração, fraudulência ao modo
de agir. Portanto, em primeiro lugar, ele afirma que eles não haviam sido
enganados ou iludidos com falácias, quando abraçaram o tipo de doutrina que
lhes havia sido entregue por ele. Em segundo lugar, declara sua integridade,
porquanto não havia se achegado a eles por influência de qualquer desejo
impuro, mas atuou exclusivamente através de uma disposição honesta. Em terceiro
lugar, diz que não havia feito nada fraudulenta ou maliciosamente, mas, pelo
contrário, havia manifestado uma simplicidade conveniente a um ministro de
Cristo. Como estas coisas eram bem conhecidas aos tessalonicenses, eles tinham
um fundamento suficientemente firme para a sua fé.
Paulo dá um
passo além, pois apela a Deus como o Autor do seu apostolado, e raciocina da
seguinte maneira: “Deus, quando me designou para este ofício, deu testemunho de
mim como um servo fiel; não há razão, portanto, para que os homens tenham
dúvidas quanto à minha fidelidade, a qual sabem ter sido aprovada por Deus”.
Contudo, ele não se gloria em ter sido aprovado, como se o fosse por si
mesmo; pois não disputa aqui a respeito do que possuía por natureza, nem coloca
a sua própria força em colisão com a graça de Deus, mas simplesmente afirma que
o Evangelho lhe havia sido confiado como a um servo fiel e aprovado.
Neste texto como em Gálatas 1.10, Paulo, admiravelmente,
contrasta agradar aos homens e agradar a Deus como coisas que se
opõem entre si. Ademais, quando diz: Deus, que prova os nossos corações, ele
sugere que aqueles que se esforçam por obter o favor dos homens não são
influenciados por uma consciência honesta, e não fazem nada de coração.
Saibamos, portanto, que os verdadeiros ministros do evangelho devem ter por
alvo devotar os seus esforços a Deus, e fazer isto de coração; não por qualquer
consideração exterior pelo mundo, e sim porque a consciência lhes diz que isto
é correto e apropriado. Assim se assegurará que eles não terão por alvo agradar
aos homens, ou seja, que eles não agirão sob influência da ambição, tendo
em vista o favor dos homens.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
“E vós fostes
feitos nossos imitadores, e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação,
com gozo do Espírito Santo” (1Ts 1.6).
O apóstolo
Paulo, na esperança de aumentar a diligência dos tessalonicenses, declara que
havia uma harmonia, por assim dizer, entre a sua pregação e a fé deles. Pois, a
menos que os homens, de sua parte, correspondam a Deus, nenhum proveito
decorrerá da graça que lhes é oferecida – não como se pudessem fazer isto de si
mesmos, mas porque, assim como Deus dá início à nossa salvação chamando-nos,
ele também a aperfeiçoa moldando nossos corações à obediência. Portanto, a suma
é que uma evidência da eleição divina se revelara, não apenas no ministério de
Paulo, na medida em que estava provido do poder do Espírito Santo, mas também
na fé daqueles irmãos, de modo que esta conformidade é um atestado poderoso
dela. Porém, ele afirma: “Fostes feitos
imitadores de Deus e de nós”, no mesmo sentido em que é dito que o povo creu em Deus e no seu servo Moisés (Ex
14.13), porque ele operou poderosamente por meio deles, como seus ministros e instrumentos
da verdade.
Paulo também diz:
“recebendo a palavra em muita tribulação,
com gozo do Espírito Santo”, para que saibamos que não é pela instigação da
carne, ou pelas sugestões da sua própria natureza, que os homens estarão
prontos e zelosos por obedecer a Deus, mas que isto é obra do Espírito de Deus.
A circunstância, que, em muita
tribulação, eles haviam abraçado o evangelho, serve como ênfase. Pois vemos
muitíssimos que, não indispostos ao evangelho por outros motivos, contudo o
evitam por se intimidarem pelo medo da cruz. Concordemente, aqueles que não
hesitam em abraçar, com intrepidez, juntamente com o evangelho, as aflições que
os ameaçam, fornecem assim um exemplo admirável de magnanimidade. E, com isto,
torna-se tanto mais claramente notório quão necessário é que o Espírito Santo nos
auxilie nisto. Pois o evangelho não pode ser apropriada ou sinceramente
recebido, a não ser com um coração jubiloso. Nada, porém, está em maior
desacordo com a nossa disposição natural, do que nos regozijarmos nas aflições.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
“PARA AGUARDARDES
DOS CÉUS O SEU FILHO”
“E para aguardardes
dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos
livra da ira vindoura” (1Ts 1.10).
A doutrina do evangelho visa a nos induzir a servir e obedecer a Deus. Ninguém é propriamente convertido a Deus, senão o homem que aprendeu a colocar-se totalmente em sujeição a ele. Contudo, como isto é algo simplesmente mais do que difícil, em tão grande corrupção da nossa natureza, ao mesmo tempo o apóstolo Paulo revela o que é que nos retém e nos confirma no temor a Deus e na obediência a ele – aguardar dos céus a Cristo. Pois, a menos que sejamos despertados para a esperança da vida eterna, o mundo rapidamente nos atrairá a si. Pois, assim como é apenas a confiança na bondade divina que nos induz a servir a Deus, do mesmo modo é apenas a expectativa da redenção final que nos impede de recuarmos. Portanto, que todos os que desejam perseverar em um curso de vida santa apliquem toda a sua mente à expectativa da vinda de Cristo. Pois, certamente, sem Cristo estamos arruinados e entregues ao desespero, mas, quando Cristo se revela, a vida resplandece para nós. Tenhamos em mente, porém, que isto é dito exclusivamente aos crentes, pois, quanto aos ímpios, assim como ele virá para ser seu Juiz, do mesmo modo eles só podem tremer ao esperá-lo. É isto que Paulo acrescenta na sequência – que Cristo nos livra da ira vindoura. Pois isto não é sentido senão por aqueles que, estando reconciliados com Deus pela fé, já têm a consciência apaziguada; do contrário, seu nome é terrível. É verdade que Cristo nos livrou pela sua morte da ira de Deus, mas a importância desse livramento se tornará visível no último dia. No entanto, esta afirmação consiste de duas seções. A primeira é que a ira de Deus e a destruição eterna são iminentes à raça humana, porquanto todos pecaram, e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23). A segunda é que não existe meio de escape senão através da graça de Cristo; pois não é sem bons motivos que Paulo lhe atribui este ofício. Contudo, é um dom inestimável que os que são piedosos, sempre que é feita menção ao juízo, saibam que Cristo virá para eles como um Redentor.
Além disso, o apóstolo afirma enfaticamente: a ira vindoura, para despertar as mentes piedosas, para que não fracassem ao considerar a vida presente. Pois, assim como a fé é a convicção de fatos que se não veem (Hb 11.1), nada é menos adequado do que estimarmos a ira de Deus de acordo com o que cada um é afligido no mundo; assim como nada é mais absurdo do que nos apegarmos às bênçãos transitórias de que desfrutamos, para que por elas tenhamos uma estimativa do favor de Deus. Portanto, enquanto, por um lado, os ímpios se divertem à vontade, e nós, por outro, definhamos em miséria, aprendamos a temer a vingança de Deus, que está oculta aos olhos da carne.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
“Ele vos deu
vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef. 2.1).
Deixe-me dizer,
em terceiro lugar, como uma alma morta pode ser vivificada espiritualmente.
Que uma coisa fique
bem clara: não conseguimos efetuar essa mudança gigantesca por nós mesmos. Não
depende de nós. Não temos força ou poder para tanto. Podemos mudar nossos
pecados, mas não podemos mudas os nossos corações. Podemos assumir um novo
caminho, mas não uma nova natureza. Podemos fazer reformas e alterações
consideráveis. Podemos deixar de lado muitos maus hábitos e começar a assumir
deveres externos diversos, mas não podemos criar um novo princípio dentro de
nós. Não podemos fazer algo a partir do nada. O etíope não pode mudar a sua
pele, nem o leopardo as suas manchas, e nem nós podemos dar vida às nossas
próprias almas (Jr 13.23).
Outra coisa
que fique igualmente clara: nenhum homem poderá fazer isso por nós. Pastores podem
pregar, orar por nós, receber-nos no batismo, admitir-nos à mesa da comunhão,
oferecer-nos o pão e o vinho. Mas não podem outorgar vida espiritual. Podem pôr
ordem em lugar de desordem, decência exterior em lugar de pecado franco, mas
não podem atingir abaixo da superfície. Não podem alcançar nossos corações. Paulo pode
plantar, Apolo regar, mas só Deus pode dar os frutos (1Co 3.6).
Quem, então,
pode tornar viva uma alma morta? Ninguém a não ser Deus. Só aquele que do nada
formou o mundo no dia da criação pode fazer de alguém uma nova criatura. Só
quem formou o homem do pó da terra, dando vida ao seu corpo, poderá dar vida à
sua alma. É ofício especial de Deus fazer isso, pelo seu Espírito, e só Ele tem
poder para realizar tal coisa.
O Evangelho glorioso
faz provisão para isso. O Senhor Jesus é um Salvador completo. A Cabeça viva e
poderosa não tem membros mortos. Seu povo não é apenas justificado e perdoado,
mas também vivificado juntamente com Ele, tornando-se participante de sua
ressurreição. O Espírito une o pecador a Ele, e por essa união ergue-o da morte
para a vida. Nele o pecador vive depois que creu. A fonte de toda essa
vitalidade é a união de Cristo com a alma, iniciada e mantida pelo Espírito. Cristo
é a fonte única de toda vida espiritual, e o Espírito Santo é o agente que
transmite essa vida às nossas almas.
Deus nos
abençoe!
J.C.Ryle (1816-1900).
“Ele vos deu
vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef. 2.1).
Em segundo
lugar, permita-me dizer que todo homem precisa ser vivificado para tornar-se espiritualmente
ressurreto.
A vida é a
mais poderosa das possessões. Da morte para vida é a maior das transformações. E
nenhuma transformação menor do que essa terá valor para capacitar a alma do
homem para o céu.
O que se
requer não é um conserto ou uma alteração, uma pequena limpeza e purificação,
um pouco de pintura e remendo, uma folha nova no caderno da vida. É a entrada
de algo totalmente novo, o semear em nós de uma mova natureza, de um novo ser, de
um novo princípio, de uma nova mente; só isso, e nada menos que isso, poderá
vir de encontro às necessidades da alma do homem. Não precisamos apenas de pele
nova, precisamos de um coração novo.
Cortar um
bloco de mármore e esculpir dele uma nobre estátua, derreter uma barra de ferro
e forjá-la em molas de relógio - essas são mudanças imensas. Contudo, nada são
em comparação com a mudança que um filho de Adão requer, pois são meramente o
mesmo material sob nova forma. O homem precisa de uma transformação tão grande
quanto a ressurreição dos mortos; precisa tornar-se nova criatura. As coisas
antigas terão que passar, e tudo terá que ser novo. Precisa nascer de novo -
nascer do alto, nascer de Deus. O nascimento natural não é mais necessário à
vida do corpo do que o nascimento espiritual é necessário à vida da alma (2Co
5.17; Jo 3.3).
A mais rude
folha de capim que cresce no campo, é um objeto mais nobre do que a mais linda
flor de cera formada por um artista, por haver naquela algo que a ciência do
homem não tem a capacidade de doar: a
vida. A mais esplêndida estátua de mármore da Grécia ou Itália nada vale em
comparação com a criança pobre e doente que engatinha pelo chão de um casebre,
pois, com toda a sua beleza, a estátua é morta.
Você que já passou
da morte para a vida, tem razão para ser grato! Lembre-se do que você era
outrora, por natureza. Pense no que agora é pela graça de Deus. Veja os ossos
secos que saíram dos túmulos. Você era assim; quem fez a diferença? Deus! Humilhe-se
diante do estrado dos seus pés. Louve-O por sua livre graça. Diga-lhe com
frequência: “Por que eu, Senhor? Por que foste misericordioso comigo?
Deus nos
abençoe!
J.C.Ryle (1816-1900).
“Ele vos deu
vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2.1).
Esta questão
merece muita consideração. Examine seu próprio coração e não deixe de lado esta
leitura sem fazer uma auto-avaliação. Você está entre os vivos ou entre os
mortos?
Primeiro,
permita-me dizer que por natureza, todos estamos espiritualmente mortos.
“Morto” é palavra
bem forte, mas não foi minha invenção e nem é termo que eu escolhi. O Espírito
Santo ensinou a Paulo para que ele escrevesse, referindo-se aos efésios: “Ele
vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Ef 2.1). O
Senhor Jesus Cristo empregou esta palavra na parábola do filho pródigo: “porque
este meu filho estava morto e reviveu” (Lc 15.24-32). Você encontrará também em
1 Timóteo 5.6: “A que se entrega aos prazeres, mesmo viva, está morta”. Deve o
homem saber mais do que está escrito? Não deve cuidar em falar o que a Bíblia
diz, nem mais e nem menos do que isso?
Estar “morto”
é uma ideia terrível, que o homem não deseja receber. Não gosta de admitir a
extensão do mal que aflige sua alma; ele fecha os olhos à verdadeira gravidade
do perigo. Muitas pessoas estão prontas para admitir que naturalmente a maioria
das pessoas “não é bem o que deveria ser, é egoísta, instável, não tem a devida
seriedade”. Mas, mortos? Ah, não! Não devemos mencionar isto. É exagero dizer
uma coisa dessas.
O que nos
importa não é o que nos agrada na religião. A grande questão é: O que está escrito?
O que diz o Senhor? Os pensamentos de Deus não são os pensamentos dos homens, e
as palavras de Deus não são as palavras dos homens. Deus diz que toda pessoa
viva que não é cristã genuína, seja ela importante ou humilde, rica ou pobre, velha
ou jovem - que ela está espiritualmente morta. Não há nada mais correto, mais
fiel e verdadeiro do que o que Deus diz.
Quando um
homem tem o coração frio e desinteressado pela religião, quando suas mãos jamais
se empregam na obra de Deus, quando seus pés desconhecem os caminhos de Deus,
quando sua língua quase nunca é usada para o louvor ou para a oração, quando
seus ouvidos são surdos à voz de Cristo no Evangelho e seus olhos cegos à beleza
do Reino dos Céus, quando sua mente está repleta das coisas do mundo e não há
lugar para coisas espirituais - quando encontramos essas marcas num homem, a
palavra certa que o descreve é “morto”.
Deus nos
abençoe!
J.C.Ryle (1816-1900).
“A FIGUEIRA MURCHA” - parte do segundo e terceiro ponto
“Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve
fome; e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo
achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira
secou imediatamente. Vendo isto os discípulos, admiraram-se e exclamaram: Como
secou depressa a figueira!” (Mt 21.17-20).
II. Já é hora de nos lembrarmos da verdade solene do nosso segundo ponto: Essas pessoas serão inspecionadas pelo Rei Jesus.
Ele Se aproximará delas, e quando chegar a elas, procurará fruto. Ele
perscruta totalmente o nosso caráter, para ver se há alguma fé genuína, algum
amor verdadeiro, alguma esperança viva, algum gozo que seja fruto do Espírito
Santo, alguma paciência, alguma abnegação, algum fervor na oração, algum andar
com Deus, alguma habitação do Espírito Santo; e se Ele não vir tais coisas, não
ficará satisfeito com a frequência à igreja, às reuniões de oração, às santas
ceias, às leituras bíblicas, aos sermões, porquanto todas essas coisas podem não
passar de folhagem. Se nosso Senhor não vir em nós o fruto do Espírito, não
ficará satisfeito conosco, e Sua inspeção levará a medidas severas. Notem que o
que Jesus está procurando não são suas palavras, suas resoluções, suas
alegações, mas sua sinceridade, sua fé interior, suas pessoas sendo realmente
trabalhadas pelo Espírito de Deus para produzirem frutos dignos do Seu reino.
Nosso Senhor tem o direito de esperar fruto quando Ele vem procurá-lo. Como
cristãos, confessamos que somos redimidos dentre os homens, e que fomos
libertos desta geração perversa. Cristo talvez não espere fruto provindo dos
homens que reconhecem o mundo e suas épocas mutáveis como sua orientação
suprema; mas certamente pode esperar fruto daquele que crê na Sua própria
Palavra.
III. Agora, em terceiro lugar, pela ajuda do
Espírito de Deus, quero considerar a verdade de que o resultado da vinda de
Cristo será muito terrível para quem fez uma profissão precoce - porém
infrutífera.
Onde poderia ter esperado achar fruto, aquele
que procurou não achou nada senão folhas. Nada senão folhas significa nada
senão mentiras. Seria essa uma expressão severa? Se eu professo a fé, sem a
possuir, não se trata de uma mentira? Se eu professo o arrependimento, sem
ter-me arrependido, não se trata de uma mentira? Se eu me reúno com o povo do
Deus vivo, sem ter o temor a Deus no meu coração, não se trata de uma mentira?
Se eu venho à mesa da comunhão, e participo do pão e do vinho, porém nunca
discirno o corpo do Senhor, não se trata de uma mentira? Se eu professo que
defendo as doutrinas da graça, mas não tenho a certeza da veracidade delas, não
se trata de uma mentira? Se nunca senti minha própria depravação, se nunca fui
chamado de modo eficaz, se nunca conheci minha eleição por Deus, se nunca descansei
no sangue remidor, e se nunca fui renovado pelo Espírito, minha defesa das
doutrinas da graça não seria uma mentira? Se não há nada senão folhas, não há
nada senão mentiras, e o Salvador percebe que a situação é assim.
Deus nos abençoe!
C.H.Spurgeon (1834-1892).
*Parte do segundo e terceiro ponto do
sermão “A Figueira Murcha”, por C.H.Spurgeon em 29/09/1889.
“Cedo de manhã, ao voltar para a cidade, teve fome; e, vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela; e, não tendo achado senão folhas, disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente. Vendo isto os discípulos, admiraram-se e exclamaram: Como secou depressa a figueira!” (Mt 21.17-20).
Que grande lição para as igrejas! Tem havido igrejas nas quais se
destacaram os números e a influência, contudo a fé, o amor e a santidade não
foram mantidos, e o Espírito Santo as deixou à exibição vã de uma profissão
infrutífera; e ali ficam aquelas igrejas com o tronco da organização e com os
galhos amplamente estendidos, mas estão mortas, e ano após ano tornam-se cada
vez mais decadentes. Irmãos, temos nesta hora igrejas desse tipo entre os protestantes
evangélicos. Que nunca seja assim com esta igreja! Podemos ter um bom número de
pessoas que vem para ouvir a Palavra, e um grupo considerável de homens e
mulheres que professam estar convertidos; mas a não ser que a piedade vital esteja
em seu meio, o que são as congregações e as igrejas? Podemos ter um ministério
de valor, mas o que ele seria sem o Espírito de Deus? Podemos ter grandes
ofertas, e muitos esforços exteriores, mas o que valem sem o espírito da
oração, o espírito da fé, o espírito da graça e da consagração? Eu ficaria apavorado
se um dia nós chegássemos a ser como uma árvore precoce, ostentando uma
profissão superlativa, mas sem valor aos olhos do Senhor, por estar ausente a
vida secreta da piedade e da união vital com Cristo. Seria melhor o machado
derrubar todo vestígio da árvore, do que deixá-la em pé sob o céu como uma
mentira aberta, uma zombaria, uma ilusão.
I. Em primeiro lugar, então, há no mundo casos de profissão promissora, porém infrutífera.
Os
casos aos quais nos referimos não são tão raros assim. As pessoas envolvidas
neles superam, em muito, tantas outras. Sua promessa é bem audível, e seu
exterior é muito impressionante. Parecem árvores frutíferas; esperamos delas
muitas cestadas dos melhores figos. Elas nos impressionam com a sua conversa,
nos deixam assoberbados com os seus modos. Invejamos a elas, e açoitamos a nós
mesmos. Essa última atitude talvez não nos faça mal; mas invejar hipócritas não
pode deixar de ser danoso a longo prazo; isto porque quando for descoberta a
hipocrisia delas, tenderemos a desprezar a religião, como também os que fingem
ser religiosos. Acaso vocês não conhecem pessoas que na aparência são tudo e na
realidade não são nada? Ó pensamento tenebroso! Nós mesmos poderíamos ser
assim? Vejam o homem: ele está forte na fé, até o ponto da presunção; está
alegre na esperança, até o ponto da leviandade; é amoroso de espírito, até o ponto
de total indiferença quanto à verdade! Como é loquaz na conversa! Como está
profundo na especulação teológica! Como é fervoroso em conclamar a movimentos
de avanço! Nunca, porém, entrou no reino mediante o novo nascimento. Nunca foi
ensinado por Deus. O evangelho chegou a ele somente em palavras. A obra do
Espírito Santo lhe é desconhecida. Porventura não existem tais pessoas? Não há
pessoas que são defensoras da ortodoxia, no entanto, heterodoxas na sua própria
conduta? Não conhecemos homens e mulheres cujas vidas negam o que os seus
lábios professam? Temos certeza de que assim é. Todas as vinhas já tiveram
nelas figueiras cobertas de folhas, que se destacaram pela folhagem da sua
profissão de fé, todavia não produziram frutos para o Senhor.
Deus nos abençoe!
*Introdução e parte do primeiro ponto do sermão “A Figueira Murcha”, por C.H.Spurgeon em 29/09/1889.